A noite estava agradável, o que não combinava nada com a tristeza de James.
Enquanto ele percorria o caminho arborizado que circundava o campus, tentou repassar o plano em sua mente. Ele tinha um discurso ensaiado; talvez se desse todas as respostas certas, conseguisse evitar a ira de Don Sutter e Flint Foster. Isso era uma esperança tola, mas era melhor do que nada.
Depois de vinte minutos movidos a reflexões, ele chegou ao seu destino final.
Na porta da sede da Phi-Kappa-Tau, ele foi recebido pelo mesmo garoto que o recebera na noite anterior — poderia ser um porteiro de verdade, ou seria só uma coincidência? O garoto abriu a porta e lhe concedeu passagem sem dizer nada. James, já com o coração batendo forte, entrou. Sem a festa e as pessoas, o átrio parecia grande demais e vazio demais, apesar de haver pelo menos uma dezena de garotos transitando pelo local.
— Parece meio vazio sem as pessoas e a festa, não é? Aposto que é isso que você está pensando — alguém disse ao seu lado. Com o efeito da surpresa, James se virou tão rápido para olhar, que sentiu uma fisgada de dor no pescoço.
Era Don Sutter que estava parado ao seu lado, usando um terno preto e ostentando um grande sorriso, porém totalmente vazio de emoção. Por um momento, James teve vontade de se virar e fugir. Havia algo de enervante no olhar daquele sujeito, algo que ele já havia notado no vídeo, mas ali, pessoalmente, era muito pior. Ele teve esperanças de não estar deixando transparecer todos seus sentimentos, e soar casual quando disse:
— É uma bela sede.
— Sim, é. — Sutter respondeu, olhando em volta como se estivesse vendo tudo pela primeira vez. — Bem, mas é melhor nos apressarmos com os nossos assuntos, não é? Você quer ver o seu amigo? Permita-me levá-lo até ele.
James sentiu um calafrio quando Sutter colocou a mão em suas costas, mas o acompanhou sem reclamar enquanto ele o guiava por um caminho ao lado da grande escada no centro do átrio, que, em vez de subir, descia.
O primeiro lance de escadas terminava num espaçoso cômodo ocupado por diversas mesas de bilhar, pingue-pongue, e até mesmo um campo de minigolfe, onde alguns membros se divertiam. Parte deles parou o que estava fazendo para ver James e Sutter passarem. Enquanto passava pela sala, James também viu um bar e algumas garotas que presumivelmente eram convidadas ali.
A porta no fim do salão dava para outro longo lance de escadas que descia em espiral e terminava numa porta fechada por um sistema de tranca digital. Enquanto Don digitava a senha no teclado, James se perguntou por que algum cômodo naquela sede precisaria ter aquele nível de segurança, mas talvez não quisesse saber a resposta.
A porta era a entrada do lugar exato que James imaginou: um salão grande e cavernoso como um estacionamento subterrâneo, a sala onde Addie estava preso.
Por causa da pouca luz, ele precisou se se esforçar para enxergar o quarto, mas sem dúvida era Addie quem estava sentado na cadeira no centro do cômodo, com a cabeça caída sobre um ombro, a boca entreaberta e o corpo coberto por hematomas, arranhões e sangue seco. Diante daquela cena, James sentiu uma vontade incontrolável de quebrar Don Sutter em três — exatamente como Lauren faria —, mas por mais de um motivo decidiu controlar essa raiva, enterrando as unhas com tanta força nas palmas das mãos que machucava.
— Está aí, como prometido. — Don Sutter disse, sorridente, parando ao lado de Addie. — Não está tão bem quanto poderia porque o Flint é um bastardo descontrolado — observou, mexendo no rosto do garoto, que respondia com grunhidos e gemidos —, mas está livre.
— Addie? — James se inclinou diante do amigo e gentilmente apertou seus ombros a fim de acordá-lo, mas Addie não esboçou nenhuma reação. — Ei, acorde! — Ele experimentou chacoalhá-lo um pouco, mas sem sucesso.
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AMERICAN BABYLON
Novela JuvenilOs corredores do campus da Universidade de Maryland são o campo de batalha onde as grandes fraternidades e irmandades disputam o controle e a posição máxima. No meio dessa disputa, a desprestigiada sociedade estudantil Kappa-Mu-Sigma luta para ficar...