Terras Paralelas

Capítulo 20

Desde que foi descoberto o paradeiro de Fernanda, Petrus se pergunta por que ela ainda não foi encontrada. Ao se dirigir a Kenji – que lidera a equipe de buscas – o comandante afirma que há vários soldados procurando pela mulher no passado, mas, por se tratar de um lugar extenso e hostil, as buscas são complicadas. Petrus acredita no amigo já que sua resposta é bem convincente, apesar de não ser verdade.

O comandante decide "realizar uma vistoria" na praia para ver se sua equipe "possui alguma informação". Petrus quer segui-lo, mas Kenji afirma que ele será mais útil fazendo a verificação da denúncia de que há um AGAPe na casa de Fernanda. Petrus concorda, e Kenji ainda o aconselha a levar Shadow consigo, pois o cientista é muito bom em lidar com feras.

O comandante segue em direção da praia acompanhado de mais três soldados que são seus cúmplices. Não há o que esperarem. Tudo o que fazem é fingir para as câmeras que flutuam sobre suas cabeças que estão procurando alguém ou analisando pistas disponíveis. Uma voz porém é ouvida por todos, especialmente por Kenji. É um pedido de ajuda! Uma jovem ainda paramentada, sua roupa de guerreira a ajudou a sobreviver ao naufrágio que sofrera. Ele percebe que ela é uma ancestral, mas finge surpresa, e pede para que seus comparsas façam o mesmo.

– Você conhece Fernanda? – diz Penny, é claro que está exausta e há sequidão em seus lábios.

– Não. – responde Kenji, claramente mentindo. É um momento ideal para pôr um novo plano em prática, pois pode acabar com duas pessoas ao mesmo tempo: a ancestral e a comandante – Mas se você me acompanhar podemos descobrir um jeito de ajudá-la.

Ele a pega em seu colo, apesar do peso da armadura. Os cúmplices o seguem. Não sabem o que Kenji guarda na cabeça, mas sabem que é um plano muito esperto. Eles seguem em direção da rua que não possui câmeras ligadas. A rua onde há uma casa cuja é usada para reuniões da Rebelião.

Lentamente a guerreira é conduzida para dentro da casa. A sala está arrumada e os móveis lustrados. É uma sala bem arrumada, repleta de detalhes e cópias de quadros famosos nas paredes. Há uma escada em caracol que leva para o quarto mas, próxima à cozinha, há uma escada de madeira que leva para uma porta. A porta de um porão. Porão esse onde ocorrem as assembleias. Kenji lhe empresta algumas roupas femininas, roupas que cabem perfeitamente em Penny. Os demais soldados não sabem por que ele tem roupas femininas em sua casa, mas não sabem que outrora o comandante teve atração por Fernanda, o que chegou a ser um amor platônico. Kenji invadia muitas vezes a casa da comandante e lhe furtava objetos pessoais – alguns bem íntimos por sinal. Ele desistiu dela após perceber que nunca seria correspondido.

Penny ficou bem confortável em sua nova roupa. Uma camiseta azul e uma bermuda jeans. Tirou ela seu elmo revelando seus longos cabelos castanhos que antes estavam presos em um coque. Nem parecia mais uma ancestral. Kenji não resistiu e lhe arrancou um beijo, seus desejos mais ínferos brotavam. Penny não concordou e o empurrou para longe.

O comandante se enfurece e puxa-a pelo braço. Sem suas armas e trajes protetores, Penny não pode se defender e, apesar de tentar usar alguns golpes especiais que aprendeu com Ulisses, Kenji é mais forte e consegue derrotá-la, trancando-a em um porão próximo ao que eles utilizam para as reuniões da Rebelião.

Ela é trancada em uma jaula onde uma criatura a aguarda. Kenji espera que Penny seja morta pelo ser, mas o monstro não o faz. Ele consegue ser muito dócil e não ataca aqueles que são contra a pessoa que o aprisionou ali. Penny o vê de relance através das sombras. Mede quase dois metros de comprimento e paira pelo ar como uma ave. A jaula porém é bastante extensa, mas não o suficiente para que a criatura se sinta confortável. Há pouco alimento para ela – necessariamente umas três galinhas vivas – e pouca água. Penny teme olhá-lo face a face, permitindo que a criatura a vigie pela escuridão. Kenji deixa o local acreditando que o monstro brevemente atacará a guerreira, mas não sabe que o inverso é o que ocorre.