Fazia três meses que ocorrera o grave acidente. Amanda, Laís e Guilherme andavam de carro pela noite da cidade movimentada quando um ônibus bateu com toda força na lateral do carro, fazendo-o capotar três vezes, suficiente para Laís morrer no ato. Guilherme e Amanda foram levados com vida para o hospital, no qual ele ficou em coma e ela se recuperou logo dos ferimentos. Laís era namorada de Guilherme.
Guilherme, desde então, passados três meses, não havia ainda acordado de seu coma, lutando ferozmente numa batalha silenciosa a fim de não perder sua vida, e Amanda continuava a viver normalmente, tentando esquecer a fatalidade de antes. Até que algo estranho acontece.
O celular de Amanda toca. Era um número desconhecido.
- Alô
- Alô, Amanda?
- Eu mesma, quem deseja?
- Como assim? Não lembra mais de mim? É a Laís, sua amiga desnaturada. Haha. Estou com saudades. Você sumiu.
A voz era muito familiar mesmo. Era dela, embora não pudesse ser. Amanda congela. Está incrédula.
- Mas Laís, você... Não é possível!
- Sim, eu sei. Também estou emocionada em falar contigo. Faz tanto tempo, mas eu não esqueço as amigas assim não. Vou aí te bater.
- Eu havia deletado o seu número...
- Meu bem, eu fiz alguma coisa para merecer isso? Que você se afastasse de mim? Qualquer coisa me desculpe, ta?
As duas ficam conversando durante horas. Amanda, embora assustada, começava a ficar feliz em estar conversando com a amiga. As saudades cessam. Relembram momentos de infância, do quanto eram felizes e juntas. Falam mal de outras pessoas que odiavam em comum e riem até se acabar. Ao fim se despedem e a conversa acaba.
O dia passa. Amanda acorda pensando naquilo como se fosse um sonho e vai trabalhar. Ao voltar durante a noite para casa, vê em seu celular o numero de Laís. Pergunta a si mesma se aquilo não havia sido mesmo um sonho. Não era possível. Afinal, só podia não ser possível. E, claro, ela jamais contaria o que aconteceu a outra pessoa. Iam achar que é louca.
Amanda não se agüenta de curiosidade e liga para o numero. Para a sua surpresa, Laís realmente atende.
- Oiii, amiga. Saudades?
Amanda se enche de medo e tensão, mas lá se vai o papo novamente. As duas conversam por horas sem parar, exatamente como sempre foi. Amanda tenta criar coragem para perguntar como isso seria possível. Queria falar sobre a sua morte, mas não consegue. Não tem coragem. É estranho demais. Chega a ser assustador ter que lidar com isso diretamente. Seria coisa da sua cabeça ou uma possibilidade real do além? E a conversa continua feliz e como se nada tivesse acontecido até o sono chegar, o que faz a conversa terminar novamente.
No dia seguinte ocorreu a rotina, que se tornaria normal, de trabalhar e a noite conversar por telefone com a amiga morta. Três dias seguidos disso, até que numa dessas Laís resolve perguntar:
- Amanda, e o Guilherme?
- Eu não sei se ele vai sair dessa, meu bem. Sinto muito. - Ela, sem graça, responde.
- Como assim? Só quero saber como ele está. Ele não me liga mais, não me atende e nem responde minhas mensagens. Estou achando que ele enjoou de mim. Mas o que houve com ele?
- O acidente, amiga.
- Que acidente?
- O nosso. Ele ficou em coma e você morreu. – Amanda baixa a cabeça com vontade de chorar.
- Eu morri?
- Sim. Aquele dia em que voltávamos da festa da Pâmella e o ônibus bateu em nosso carro. Aí capotamos. Eu sofri uns machucados de leve e saí ilesa dessa, mas o Guilherme está em coma até hoje, por isso não te liga. Já você... Ai, meu deus. – Amanda chora. – Você morreu naquele dia. Por favor, não brinca comigo. Quem é você?
Um silêncio incômodo e estranho do outro lado da linha. Após quase 10 segundos, um grito infernal de tão forte é ouvido por Amanda, que se arrepia de forma extrema.
- LAÍS, LAÍS. POR FAVOR. O QUE ACONTECEU AÍ?
Barulho de ocupado na ligação. Amanda desliga a chamada e imediatamente liga de volta.
Uma voz é ouvida dizendo “número inexistente”. Era a sua operadora.
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Contos Diversos e Universos Paralelos
PovídkyMini contos diversos e aleatórios feitos de forma independente, podendo ser lidos em qualquer ordem.