Capítulo I - Ao Chão

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[Tyler Devon]

Naquela noite gélida, Tyler protegia seus cabelos negros com o capuz, sua pele pálida só aumentava o contraste entre seu cabelo e face enquanto a lua iluminava a sua silhueta, o capuz que usava impossibilitava ver mais que seus traços da boca e nariz. Seu coração pulsava acelerado, dominado pela tensão de ser descoberto e tudo dar errado. Esperava seu fornecedor trazer o que precisava. Ele sabia dos riscos, sabia que poderia se dar muito mal caso o pegassem, e isso só contribuía para que se sentisse mais tenso. Se ainda fosse possível a tensão sentida aumentar. Mas ainda assim decidiu entrar nessa vida, sabia que era errado, sabia que não condizia com seus princípios, mas sabia acima de tudo que era necessário, afinal, ele precisava ajudar seus pais.

A brisa da madrugada fazia com que seus pelos arrepiassem e a lua no topo do céu o iluminasse com seu manto azulado, cessando as trevas. Mas nada disso impediu os pensamentos do garoto maquinarem à todo vapor, tirando seu sossego, mas não duraram muito, pois o silêncio foi quebrado quando a pessoa que estava esperando o abordou.

— E aí, — tocou-lhe o ombro, ambos olhavam para os lados, como se estivessem se precavendo para não serem pegos por fazer algo errado — de boa?

— Aham, e ai?

— Firmeza, trouxe a quantia combinada — isso selava o início de um caminho sem volta. Já sabendo do esquema, Tyler respondeu:

— Hum — Estendeu a mão, pegando o pacote. — Te pago na data marcada...

— Beleza, combinamos o lugar certinho. Passei teu contato pra algumas pessoas, fica ligado.

— Pode deixar, valeu.

Após um aperto de mãos rápido o garoto virou as costas, andando apressadamente, logo em seguida sumindo na próxima esquina. Tyler ainda o encarava, parado, com o pequeno saco já guardado em sua mochila. Seguiu seu caminho, sua respiração continuava pesada, ele nunca tinha feito algo assim, mas era preciso, havia se convencido disso, precisava do dinheiro e tentaria fazer tudo com cautela para que seus planos não dessem errados. 

Cortando caminho por um beco escuro decidiu colocar os fones de ouvido, cessando seus pensamentos mais aleatórios pela melodia que iniciara. Quando foi virar para entrar no beco, um garoto saiu correndo de lá, do nada, esbarrando em si. Ambos caíram no chão, um de frente para o outro, fazendo com que o capuz de Tyler caísse, revelando seu rosto por completo. Por um momento ele observou o garoto: de seu joelho escorria um filete de sangue, o seu peito subia e descia descontroladamente, seus olhos arregalados, encarando-o. Os dois garotos se sentindo desconexos, Tyler por seus atos imprudentes e o outro provavelmente por algum motivo semelhante. O tempo parou, a sensação de dividir uma frustração em comum tomou parte, o silêncio reinou, nenhum dos dois sabia ao certo o que fazer. O que dizer. Mas isso durou alguns segundos, somente, embora parecessem minutos.

O menino rapidamente se levantou, murmurando um pedido de desculpas e seguiu correndo, virando para o mesmo lugar de onde o outro havia saído. Tyler, sem entender nada, levantou-se, sacudindo a parte detrás de sua calça e seguiu então, com os pensamentos confusos. Ao final do beco havia um paredão, impossibilitando que seguisse, mas havia outra ruela, mais a frente, que virava para a direita.

Virou algumas ruas e logo chegou em casa, seus pais sequer podiam sonhar que ele estava fora da cama a uma hora daquelas. Com todo o cuidado do mundo ele abriu a porta dos fundos, logo fechando-a novamente e caminhando até o fim do corredor, onde era seu quarto.

Entrou recostando a porta atrás de si. Ele havia conseguido. Suspirou aliviado e saiu de seu quarto mais uma vez, cuidadosamente entrou em uma outra porta, levando-o até o banheiro. Com uma de suas mãos segurou as mechas de seu cabelo para trás, eram relativamente grandes e mais pretos que a noite mais escura, assim como seus olhos. Ligou a torneira e antes de molhar seu rosto encarou brevemente seu reflexo no espelho, um aspecto cansado, os olhos fundos e marcados por olheiras, a pele já naturalmente pálida estava ainda mais sem vida. Tudo pelas noites mal dormidas, sequer aproveitou suas férias como deveria, sempre com os pensamentos à mil devido os não tão recentes acontecimentos em sua família. Expirou tenso, finalmente molhando seu rosto com a água gelada. Sem sequer tomar um banho, pois o barulho do chuveiro poderia acordar seus pais, apenas tirou suas roupas, ficando apenas de cueca e se jogou na cama, precisava aproveitar o que restava da noite para dormir, logo iria acordar cedo para ir até à escola.

Delitos (Romance Gay)Where stories live. Discover now