Capítulo II - Traços

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[Gabriel White]

Correndo rapidamente entre as alamedas, desviava das poucas pessoas e dos carros como podia, sequer cogitava a ideia de ser pego. Com toda a adrenalina que estava sentindo as ruas pareciam estreitas demais, seus instintos o conduziam, o fazendo desviar com agilidade felina, como se sua vida dependesse disso. Disparado ao máximo que podia, Gabriel, seguiu avenida adentro. Um homem o seguia, a perseguição era infindável. O garoto, na tentativa de despistar o segurança que corria atrás de si, entrou em um beco.

Parou alguns segundos para respirar, apoiando suas mãos nos joelhos flexionados, acreditava que agora estava a salvo, no entanto ouviu o praguejar do homem, em alto e bom som, vindo do começo do beco onde estava. Ele não sabia o que fazer, estava em uma zona da cidade que não conhecia, não sabia ao certo para onde ir. Adentrando cada vez mais a ruela constatou que não havia saída, somente um muro alto que não conseguiria pular. Sua pupila dilatada, a respiração acelerada, ele não poderia ser pego. Mas também não haveria lugar para onde correr. Seus olhos assustados olhavam para todas as direções, os passos cada vez mais audíveis, parecia que todo som, mínimo que fosse, se tornou um chiado ensurdecedor. Juntamente com a adrenalina que sentia veio o medo, levou ambas as mãos na nuca, subindo até os cabelos loiros, puxando-os em desespero. Precisava pensar, precisava agir. Imediatamente. E como se todos os sentidos aguçassem naquele momento, ele olhou ao seu redor, mapeando a área e por fim, encontrou uma lata de lixo. Era o que precisava para sair dali. Correu até ela, virando-a de cabeça pra baixo, fazendo alguns sacos caírem de dentro. Sem pensar muito a escalou, apoiando-se no muro, pegando impulso para então pular. E assim o fez, havia alcançado as mãos no topo e rapidamente fez força para levar o resto do corpo para cima, colocando as pernas na extremidade do muro.

E então, o homem enfim o alcançou. No exato momento em que Gabriel sentiu ser puxado, foi como se seu coração parasse de bater, ou não, como se batesse ainda mais forte, sufocando dentro do peito, seus olhos, até então com as pupilas dilatadas, quiseram pular de sua face. O susto foi tão grande que ele simplesmente se jogou para o outro lado, conseguindo enfim escapar mas se estatelando no chão, com escoriações em seus joelhos e cotovelos, e um mal jeito no ombro. Gemeu de dor e de alívio.

Não podia ficar parado, ainda não estava seguro. Meio manco seguiu, andando o mais rápido que conseguia, em uma quase corrida. Ao virar a esquina para sair do beco foi ao chão novamente. Voltando a gemer de dor, instantaneamente levou a mão do braço contrário ao ombro lesionado. O susto foi tão grande que paralisou sua expressão, no desespero total, seus olhos nem piscavam. Em sua frente, também caído no chão, um garoto. Ambos se encararam por alguns segundos, dividindo um olhar cúmplice de tensão. Gabriel ainda não estava seguro, ele precisava sair dali. Seu joelho sangrando, ardente, atraiu a atenção do garoto em sua frente, quando o mesmo iria balbuciar alguma coisa Gabriel levantou, agitado, simplesmente murmurou "desculpa aí" e seguiu numa caminhada apressada e dolorida, chegando em uma avenida bastante conhecida na cidade. Agora ele já sabia onde estava.

E por incrível que pareça, mesmo que seu corpo estivesse pedindo para parar, com o joelho escorrendo sangue e seu ombro dolorido, ainda guiado pela adrenalina, ele quis continuar suas peripécias pela madrugada e sem pensar duas vezes resolveu mandar uma mensagem para seu amigo. Olhando atentamente para todas as direções no intuito de evitar um assalto, voltou então, a atenção para o celular, digitando a mensagem:

[Gabriel]: Ei, preciso de um favor seu, pra ontem.

[Jake]: Fala aí.

[Gabriel]: Tô aqui na Principal, vc pode trazer umas latas?

[Jake]: Ta brincando né? Olha a hora, vai pra casa, vai.

[Gabriel]: Argh, ajuda ai, deixa eu aproveitar meu último dia de férias.

Delitos (Romance Gay)Where stories live. Discover now