Toc. Toc. Toc.

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OBS: Para melhor experiência ler ouvindo a música do vídeo acima. 

Sarah não sabia muito bem quando as dores insuportáveis de cabeça começaram. Tentou ligar o incomodo continuo com a quinta-feira à noite da semana passada. Seus pais estavam fora da cidade. Um homem alto tentou entrar na casa. A garota ficara escondida dentro do armário da cozinha por cerca de sete horas. Estava com muito medo para conseguir se mexer, sabia que o homem já havia ido embora, mas não estava preparada para sair. Queria permanecer ali até seus pais chegarem, mas eles só chegam em um mês. Sempre estão viajando a negócios e menina cresceu aprendendo a se cuidar sozinha.

Depois daquele acontecido, raramente a garota dormia sem uma das luzes acesas ou a TV ou rádio ligados. Na terceira noite após o ocorrido, ela acordara repentinamente perto das duas da manhã. Ouvirá três batidas de leve vindo de algum lugar da casa. Pensou que pudesse ser sua gata, Mimy, que sumira um mês antes. Desceu as escadas na esperança de encontrar a felina morta de fome e sede, mas não havia nada. Pensou que poderia ser um barulho lá fora, ou algum passárinho no forro da casa. Olhou no relógio: 02:33. Voltara para a cama.

Na quarta noite ela acordara com uma música alta, ópera. Seu coração disparara. Tentou pensar que poderia ser coisa de sua cabeça, a música foi baixando aos poucos até ficar quase inaudível. Olhou no relógio em sua cabeceira; 02:31. Continuou olhando para o objeto fixamente. Quando o ponteiro indicou 02:33, silêncio total. Naquela noite, quase não dormirá.

No dia seguinte tentara ligar para os pais pelo telefone residencial. Mas a única coisa que ouvia no outro lado da linha era um chiado alto. Não poderia sair de casa por conta da grande tempestade de neve que a deixara isolada de todos.

Pensou em algumas coisas que ouvira na escola algumas semanas antes das aulas serem canceladas. Alguns colegas falando sobre o povo das sombras. Almas que não tinham um formato humano por nunca terem sido humanos. Eram entidades mais antigas que o próprio mundo. Os meninos fizeram questão de salientar como eles demonstravam sua presença.

— Eles batem na porta das casas no meio da noite pedindo para entrar — Disse um deles —, se você negar, eles lhe matam.

Sarah associou a história com o homem. Ele havia batido na porta, mas ela foi aconselhada pelos pais a não abrir em hipótese alguma, os vizinhos mais próximos ficavam a uns dois quilômetros, então se ela precisasse correr, estava morta.

Toc. Toc. Toc.

Ela ouvira essa batida na porta.

Plim. Plim. Plim.

Agora ouvira a campainha.

Olhara pelo olho mágico, tudo o que viu foi uma sombra preta, alta. Engoliu em seco antes de perguntar quem era. Quando perguntou, o homem não respondeu, apenas continuou batendo. Toc. Toc. Toc. Plim. Plim. Plim.

A menina se contorceu de medo, então gritou para que o homem fosse embora ou ela chamaria os pais, mentindo que os dois estavam no segundo andar em seus quartos.

Ela não obteve resposta de novo. O homem parou de bater. Ela encostou na porta e começou a chorar, parecia mais uma criança do que uma menina de dezessete anos. Então ela sentiu algo encostar em seu pé, de leve. Era um bilhete. Com a mão tremula a garota juntou o papel do chão que acabara de ser passado por debaixo da porta e lentamente o desdobrou. O que leu era aterrorizante.

Se eles estão no quarto,

Porque não estou os vendo aqui

Comigo?

A garota soltou um grito alto. Largou o bilhete e correu para a cozinha. Vasculhou algumas gavetas e pegou uma faca grande e afiada. Se enfiou em um dos armários da cozinha e chorou em silêncio. Achou que o pesadelo havia acabado, então começara a ouvir passos vindo da escada. Mas não era o tipo de passos que apenas uma pessoa fazia. Era como se houvesse várias pessoas descendo as escadas correndo e ao mesmo tempo.

Os passos começaram a se aproximar da cozinha. Sarah segurou a portinha do armário por dentro, forçando para que ela não fosse aberta. Coisas começaram a voar pela cozinha, como se alguém tivesse revirando tudo; pratos, copos talheres... Quem diabos faria aquilo?

A menina se sentiu um lixo quando sentiu a urina banhar suas pernas. Mas o que a deixou pior ainda foi ver que a urina estava deslizando para fora do armário. Tampou a boca com as mãos quando o barulho cessou. Fechou os olhos com força e então...

BAM! BAM! BAM!

Alguém estava desesperadamente tentando abrir o armário. Sarah gritava por ajuda histericamente mesmo sabendo que ninguém iria ouvi-la.

BAM! BAM! BAM!

Tudo ficou em silêncio. A garota permaneceu ali pelas próximas sete horas.

Depois de dias acordando com algum barulho sempre perto das 02:33 da manhã, a garota se sentiu aliviada quando o carro dos seus pais estacionou. Correu para a frente da casa, iria esperar eles na varanda. Acenou de longe para o pai que descarregava as malas, mas ele não retribuiu. A mãe entrou na casa passando reto pela menina. Ela correu para dentro e chamou a mulher, mas ela parecia não ouvir.

— Sarah! — Gritou a mulher — Nós chegamos.

— Eu estou aqui! — Gritou a menina de volta.

Mas a mãe não esboçou nenhuma reação. Voltou para a varanda da casa e gritou para o marido que a filha não respondia.

— Talvez ela esteja lá em cima e não tenha ouvido — Ele respondeu entrando dentro da casa com a mulher.

Os pais subiram e olharam por cada canto do segundo andar. Mas a garota não estava em canto algum. A mulher começou a gritar e chorar ao mesmo tempo, os dois desceram e circundaram o terreno todo, voltaram para dentro da casa e foram até a cozinha. Tudo estava revirado. A mulher começou a chorar mais alto e a gritar o nome de Sarah.

O homem percebeu um vazamento vindo de um dos armários da cozinha. Se chocou quando abriu e encontrou o corpo da menina já sem vida.   

Os Contos da Rua 23. (CONTO: Toc. Toc. Toc.)Where stories live. Discover now