Capítulo Um

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O carro de alguém foi destruído e não era minha culpa.

Mas quem acreditaria em uma adolescente?

A desculpa foi um demônio que fez isso, era mais criativa que o cachorro comeu minha lição, mas completamente inacreditável. E seria muito mais provável que me enviassem para a ala psiquiátrica. Assim, quando o demônio voador e cheio de presas subiu e caiu feito uma bola de demolição na caminhonete, explodindo pedaços de vidro e peças de carro na minha direção, fugi dali rapidamente.

E não olhei para trás. Os grunhidos selvagens e os barulhos de metais foram um impedimento considerável. Como se eu precisasse de mais material para meus pesadelos.

Corri por todo o estacionamento quase vazio, e me dirigi para fora. Era uma longa avenida rodeada de bosques espessos, e quando o demônio veio atrás de mim, gritando furioso, girei para a direita. Uma mão fechou-se sobre mim, escorregadia pela chuva recente, e eu abri as pernas para os lados, pulando por cima. Fora de perigo.

Até que meu pé se prendeu em um ramo, o que me fez cair como se eu tivesse sido pega no giro da morte de um crocodilo.

A boa notícia? O solo macio do bosque amorteceu minha queda.

A má notícia? No impulso, meu peito bateu em um tronco de arvore. Não conseguia respirar.

Mas boas notícias de novo. Acabei debaixo de um pinheiro grande e espesso que, junto com a decoração do crepúsculo, ocultou minha posição. Ouvi a besta voar sobre mim em sua perseguição, quebrando algumas copas de árvore em seu caminho.

Sim, esse era meu plano desde o começo. Cara, eu era boa. Exceto pelo meu corpo que doía.

Minha festa de lamentação durou até que pude aspirar uma quantidade de ar, logo me empurrei sobre meus pés e fui para casa. Os demônios gostam de lugares remotos como esse. Eu precisava ir.

Com a dor da batida e a respiração entrecortada, corri ou... me arrastei mancando para a cidade, cheguei ao meu bairro e relaxei. Civilização. Onde o demônio não me seguiria e...

Garras ressoaram em um ritmo inquietante no asfalto.

O erro tornou-se minha escolha mais recente.

Escondi-me atrás de uma lixeira, agachada, enterrada no meu medo e na minha camisa ensopada de suor.

Uma risada maliciosa cortou o ar.

— Esconde-esconde. Meu preferido. Que consideração da sua parte começar um jogo. — Havia um toque de loucura na voz suave do demônio. Pânico torceu meu coração. — É irônico, não é, que a grande Divinicus Nex se escondeu de medo de quem deveria ser sua presa destinada? Uma circunstância decididamente diametral.

O que? É irritante quando o monstro que tenta te matar tem um vocabulário melhor que o seu. Talvez pudesse ser um elogio? Isto era loucura. Eu tinha visto demônios antes, mas eram pequenos, me ignoravam ou corriam. Mas esse? Bom, era uma raça diferente. Um psicopata com esteroides que queria me ver morta.

Suas chances pareciam boas.

Com minha altura amazônica e cachos castanhos que ressaltavam meus enormes olhos, só faltava uma placa de me coma grudada nas minhas costas.

— Está errado. Sou Aurora, só uma garota que você não vai querer que te mande para o seu inferno. — Meu plano de passar para o ataque surgiu da minha defesa ser menos que nada, e um agachamento combinado. O anoitecer começou a devorar a luz preciosa do dia. Meus olhos ardiam pela frenética tentativa de tentar enxergar nas sombras que surgiam. — Pense na vergonha. Os outros demônios vão rir e apontar para você, zombando nas suas costas. Sua autoestima será abalada e eu estou atrasada para o jantar, assim para o bem de ambos, vou te deixar ir. Só irei embora e não vou te seguir.

Eu tinha a esperança de soar segura, mas acho que a minha voz falhou.

Uma luz difusa acendeu nas casas próximas. Os faróis ornamentais, que rodeavam as ruas vazias da pitoresca cidade da montanha, zumbiram para vida refletindo a água brilhante que deslizava pelo solo. Um sereno constante batia contra as folhas das arvores.

— Acho que está confusa Nex. — Sua voz era baixa. Tinha retrocedido pensando que eu tinha algo debaixo da manga. — Não há nenhum erro, tirando o fato de você estar viva. E minha imutável preferência por transformar seu cadáver em um número considerável de pedaços. — Ele riu.

Eu não podia entender muito do que ele dizia, mas no geral, eu não estava me sentindo em um ambiente cálido e acolhedor.

Lutei contra uma risada histérica. Eu não tinha nada, nada mais que pernas longas e adrenalina. As gotas caindo na minha cabeça mudaram de velocidade. Fundindo-se através das árvores, uma névoa cinza se torceu em uma forma vaga que meus olhos se esforçaram para focar. Hipnotizada por sua grotesca e letal beleza, quase esperei por um segundo muito longo. Agachei-me. Com uma velocidade alucinante, troncos de árvores se partiram quando as garras do demônio cortaram a árvore onde minha cabeça estava segundos antes.

Fiz uma pose de ninja e me mantive firme para fazer frente ao monstro bárbaro, sem medo em minha determinação de vencer meu inimigo mortal.

Não, só brincando. Sai correndo, a prudência era a melhor maneira de não morrer.

Estou vendo demônios durante alguns anos. Sim, essas criaturas desagradáveis que deveriam estar no inferno, mas que estavam causando estragos na terra. Se estava próxima, as vezes podia localiza-los usando a rara visão que eu desejava que passasse para Hellen Keller*. Era o superpoder mais estranho do planeta. Mas eu lidava com minha situação lamentável de uma maneira madura e responsável. A ignorava. E também aos demônios.

Até esta noite, quando o demônio mudou as regras e me atacou enquanto eu estava no meu caminho. Eu me desequilibrei e tropecei em um tronco podre, por isso o golpe da morte dirigido a mim atingiu a caminhonete. Quem dera eu pudesse dizer que foi um movimento inteligente e deliberado, mas a verdade é que eu tinha problemas ao movimentar meu corpo.

Um silvo gutural fez as folhas das árvores vibrarem. Longas asas golpeavam o ar com fúria. Os sons terríveis do monstro ameaçavam me paralisar, então eu os ignorei e me concentrei na minha corrida. Rápida. Contando as casas para manter o pânico longe.

Algo disparou na minha esquerda, no nível do chão. Girei a direita, quase caindo, mais segui adiante. Olhei para trás. Um cachorro, um desses pequenos e fofinhos, correndo a toda velocidade sobre suas patas curtas, plantou as patas no chão e começou a latir para o céu. O demônio desviou seu olhar do meu e avançou para o pequeno valente latidor.

Cachorros não eram a minha área.

Eu odiava cachorros.

E se esse era tonto o suficiente para se sacrificar por mim, aleluia. Continuei correndo.

Depois mudei de opinião.

Cachorro estúpido.

Me joguei de cabeça e o agarrei enquanto deslizava, sentindo a rajada de ar da cabeça gigante da besta em cima de mim. Um brilho vermelho cobriu meus olhos. Passei tão perto da garra do demônio que o elástico do meu cabelo se cortou, e soltou os cachos grossos que caíram em cascata sobre meu rosto.

* Helen Adams Keller foi uma escritora, conferencista e ativista social estadunidense. Foi a primeira pessoa surda e cega a conquistar um bacharelado.

De novo sobre meus pés, joguei meu cabelo para trás, e continuei minha corrida, o cachorro se contorcia, rosnando protestos contra meu peito.

— Seu ingrato — grunhi para ele.

Senti uma presença ameaçadora por cima de nossas cabeças, e me desviei para uma entrada, contente de soltar o cachorro chato em uma garagem, na qual ele caiu debaixo de um Sedan. Um golpe atrás do meu corpo me empurrou para frente. Eu teria caído no chão, mas em seu lugar me encontrei no ar. Ganhando altura.

Nada bom, porque a última vez em que testei, eu não podia voar.

#1 - Demons At Deadnight (Divinicus Nex Chronicles) Onde histórias criam vida. Descubra agora