A visão

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- Até que enfim chegamos! - Ariane estaciona o carro próximo a um pinheiro.
- Como se sente?
- Estou melhor, Ari. - Hanyel diz.
- Consegue pegar o turno da tarde no Colégio hoje? Ou não se sente bem? - Bianca pergunta.
- Irei dar aula, véspera de vestibular, não posso deixa-los sem aula.
- Tudo bem. Arrume-se e podemos ir.
Hanyel entra na casa e vai tomar um banho. Ariane se aproxina de Bianca.
- Acha que ele está melhorando?
- É dificil dizer... ele nunca fala o que sente.
- Droga! Como ele pode ser assim?
- Ele sempre foi, Ariane.
- Tem razão. Mas ele não é mais aquele garoto... ele cresceu, está mais forte... ele está se tornando uma ameaça.
Ariane olha para cima e vê Hanyel as observando da janela de seu quarto. Ele estava com expressão triste, pois sabia o que estavam a falar sobre ele.
- Hany... - Disse Ariane.
Hanyel sai da janela.
- Ele ouviu? - Pergunta Bianca.
- Creio que sim!
- Merda!

Após as inquisições modernas, os três aprimoraram seus poderes em níveis que nem mesmo Adriana pudera imaginar. Hanyel adquiriu a habilidade de se comunicar com plantas. Falava com elas assim como também ouvia. E o grande pinheiro onde Ariane e Bianca conversavam, lhe disse o que queria ouvir.

Ele já estava no banho, enquanto enxaguava seu cabelo, observava seu rosto no espelho.
- Porque você é assim, Hanyel? - Dizia para si mesmo.

20 de Julho de 2025

- Não podemos ficar aqui! Hanyel teve cinco crises neste tempo, esta casa não vai aguentar. - Disse Bianca.
Hanyel ficara quieto, apenas pensando no que acontecia com ele.
- Tem uma casa para venda, longe da cidade, pode ser um bom lugar para que não aconteça mais nada.
- Eu não queria... - Hanyel fala baixinho.
- Você não teve culpa, Hanyel. - Fala Ariane.
- Eu..  eu matei... eu matei inocentes...
- VOCÊ NÃO TEVE CULPA! VOCÊ NÃO TEVE CULPA!
- Tivemos sorte do governo não ter vindo nos investigar, mas é questão de tempo. O Hanyel não teve culpa. Aquelas pessoas não tinham como fugir e ele não tinha como evitar.
A alguns dias atrás, Hanyel teve uma crise no estacionamento do shopping. Sete pessoas morreram e onze ficaram feridas no desastre.
- Eu sou um doente! Vocês não vêem?
- Para!
- Nós vamos nos mudar esta semana! Arrumem as coisas antes que aconteça de novo. Eu vou procurar ajuda para isso.

15 de Novembro de 2030 (Dias atuais)

- Hanyel? Já está pronto? - Bianca bate na porta do quarto.
Ela ouve o barulho da cheve e ve a maçaneta girando.
- Estou pronto.
Ele estava com o cabelo amarrado. A tempos não o amarrava. A barra do seu sobretudo preto, batia no joelho. Fazia frio, não é normal no mês de Novembro.
- Você está bonito! - Disse Bianca.
- Estou? - Ele disse rindo.
- Gosta mesmo de usar sobretudo...
- Me faz lembrar algumaa coisas.
- Coisas boas?
- Não! Mas coisas que me tornaram forte.
Bianca fica quieta por um momento. Hanyel a observava sério, ela treme.
- Vamos, já é quase uma hora.
Ao descer as escadas, uma mensagem chega no celular de Bianca.
- Adriana! Ela nos convidou para jantarmos com ela hoje.
- Que bom! Diga a ela que quero comer aquela sopa de frango que nós sempre fazíamos quando mais novos.
- Estão prontos? Irei com vocês, meu carro não está muito bom. - Disse Ariane arrumando o cachecol.
- Ok! Vamos lá.
- Adriana nos convidou para irmos lá, ao fim da tarde.
- Ótimo! Quero muito vê-la.
Saindo da casa, Hanyel ouve o som dos galhos do velho pinheiro em frente a casa. O vento brandia na copa das inúmeras árvores que cercavam a casa. Um corvo estava sentado na copa de um velho cedro, a espreita dos três.
Ariane observa o corvo. Passa a mão no peito, parecia ter ficado angustiada com a presença daquele animal.
- Não observe o corvo! - Disse Hanyel.
- O que disse? - Ariane pergunta desatenta.
Hanyel faz um movimento com a mão esquerda no ar, fazendo o cedro sacudir. O corvo levanta voo.

                                      ...

Às sete horas e quarenta minutos, os três estavam na casa de Adriana. A casa que Elemi os ofereceu e que permaneceu nos cuidados da Necromante.
Lá estava ela, sentada ao redor da mesa contando os minutos para seus bruxos chegarem.
A campainha toca.
- Já vai! - Adriana levanta-se e vai até a porta.
Ela abre. Seus olhos brilharam quando viu aqueles que criara como filhos.
- Vocês... vocês estão ainda mais lindos! - Adriana os abraça forte. - Como vocês estão? Entrem, entrem.
Eles entram na casa. A casa que lhes foi essencial para reconstruirem suas vidas após os Campos.
- Esta casa me faz lembrar de muita coisa... - Ariane diz ao tocar na parede e observar o lustre.
Adriana a olha com um sorriso no rosto.
- Como está minha Bianca?
- Estou bem! As vezes estressada, mas... alguém me acalma.
Adriana olha para Hanyel.
- E este alguém aqui está com fome! Quando vamos comer? - Hanyel diz indo para a cozinha.
- O que estamos esperando? Vamos comer antes que a sopa esfrie ou que nosso companheiro coma tudo sozinho! - Adriana se lavanta.
Ariane e Bianca riem.
- Eu ouvi isto, ok? - Hanyel fala da cozinha.

Após jantarem, acabam caindo na conversa, revivendo bons momentos e contando novos acontecimentos.
- E aquele rapaz? Leonard... ainda fala com você? - Adriana pergunta a Ariane.
- Sim! Leonard é legal! Mas... não igual ao cara que amei.
Todos ficam em silêncio, sabiam que um assunto delicado tinha vindo a tona.
- Err... eu... não queria fazer lembrar de...
- Não tem problemas Adriana. Agora sei lidar melhor com meus sentimentos, ja tenho trinta e um anos.
- A idade não condiz com isto. Eu com dezesseis já tinha completo controle sobre os meus.
- Você tem um coração de pedra! - Bianca diz.
- É de pedra, mas todo seu! - Hanyel diz sorrindo.
Bianca lhe dá um beijo na bochecha.
Adriana estava com um sorriso no rosto, estava alegre por eles estarem ali, mas algo a incomodava, tinha alguma coisa errada. De repente ela fica séria, seus olhos perdem o brilho, ela estava vendo algo.
- Adriana... Você está be...
Na mente dela, uma luz a puxou para uma visão.

19 de Agosto de 2017

Os últimos generais da N.O.M. vasculhavam os escombros do antigo Campos da Capital em busca do cadáver do seu líder, para uma cerimônia digna de um alto inquisidor moderno. Foram horas de procura até acharem algo que lhes deixaram surpresos.
- Senhor! Encontramos algo. - Disse um soldado.
- Algo de meu interesse? - Disse o general.
- Sim, senhor!
- Mostre-me!
Nos escombros do antigo prédio principal um brilho azul se destacou no cinza.
- Chame os homens! Quero que levem para a base no Ártico. Temos muito trabalho pela frente!

15 de Novembro de 2030 (Dias atuais)

Adriana volta de sua visão. Estava ofegante. Olhou para os lados e viu Bianca e Ariane segurando sua mão. Hanyel a observava.
- Eu... - Disse afobada. - Eles... - Olha para Ariane, com os olhos bem abertos. - Ele está vivo!

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