Madeira

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- Calma Adriana! O que houve? - Perguntava Bianca.
Adriana estava ofegante, não conseguia falar. Suas mãos tremiam, estava pálida e suando frio.
- Quem está vivo, Adriana? - Ariane perguntou.
- Vão embora!
- O que?
- Vão embora agora! Me deixem sozinha! - Disse Adriana ao soltar a mão de Bianca.
- O que houve? - Ariane volta a perguntar.
- O que vocês estão fazendo aqui ainda? VÃO EMBORA AGORA! - Gritou Adriana.
Assustados com a atitude de Adriana, os três resolvem fazer o que ela disse. Não sabiam a razão por qual queria ficar sozinha, mas tinham certeza que não era coisa boa.

- O que será que aconteceu? - Bianca pergunta ao fechar a porta do carro.
- Não está óbvio? Alguém que Adriana jurava estar morto, está vivo! - Disse Hanyel.
- Ela me olhou com aqueles olhos... eles estavam sem brilho... estavam assustados.
- Adriana viu algo que nós devemos temer... ela nunca fica assim!
- Conhece sua tia mais que ninguém, Bianca. Ela não quer nos apavorar, todos nós sentimos que não ela não viu algo bom. - Hanyel falou.
O silêncio reina dentro do carro. Ariane decide partir. Ela liga o carro e saem rumo a sua casa.

Era quase onze horas quando estavam no caminho para casa. Grande parte do percurso era de mata reflorestada, havia grande quantidade de pinheiros. Todos enormes e aparentemente muito velhos.
- Já disse que esta estrada me dá calafrios? - Bianca diz.
- Se fosse só você! - Ariane brinca ao ligar o rádio.
Estava fora do ar, apenas chiava. Mudaram as estações, mas de nada adiantava.
- Em que fim de mundo fomos nos meter! - Disse Hanyel. - Tudo por minha culpa.
- Não vamos falar deste assunto agora! - Ariane diz.
- É melhor mesmo! Não quero brigar! - Bianca fala ao passar a mão no vidro embaçado. - Mas Hanyel tem razão! Este lugar é...
- CUIDADO! - Gritou Hanyel.
Um pinheiro cai em meio a estrada, Ariane joga a direção para o lado e o carro segue para um barranco onde bate com força, amassando todo o capô.
Ariane havia batido a cabeça no volente.
- Ai minha cabeça! - Disse ela.
- Está bem? Sua testa está sangrando. - Perguntou Bianca.
- Que merda foi isso? - Hanyel pergunta ao abrir a porta do carro e sair para ver o que havia acontecido.
Ariane e Bianca também saem.
- Olha isto... eu tinha mandado pintar esta semana! - Falou Bianca ao ver o estado do seu carro.
- Eu não queria...
- Não teve culpa, Ari. Um pinheiro caiu.
Hanyel caminha até o pinheiro. Ele parecia sentir um cheiro no ar.
- Sentem? - Pergunta ao sentir um cheiro no ar.
- Não estou sentindo nada... - Ariane fala ao se aproximar.
O pinheiro que caíra na estrada tinha em torno de vinte metros de altura, era grosso e difícil de ser removido.
- O que vamos fazer agora? - Bianca pergunta.
- Nem parece que tem um Eledom aqui com vocês! - Disse Hanyel.
Ele manuseia suas mãos. Seus dedos pareciam se entrelaçar. Aos poucos um som de madeira rangendo começa a soar do pinheiro. Os galhos lascam, o tronco racha e se parte. Aos poucos a madeira da árvore e jogada para os lados da estrada, liberando caminho para o carro passar.
- Maravilha! - Disse Ariane.
Bianca parecia nervosa, estava com expressão fechada, não estava gostando das coisas que haviam acontecido. Muito menos dos usos dos poderes para liberar caminho.
Ao embarcarem no carro, Bianca olha para Hanyel.
- Não deveria usar seus poderes!
- E por qual motivo não?
Ariane liga o carro e sai.
- Você não está tendo controle sobre eles.
- Meus poderes são iguais meus sentimentos... sempre os comandei.
- Não! Eles são totalmente diferentes.
- Para você sim! Pois nunca soube lidar com eles.
- Querem fazer o favor de parar? - Ariane diz irritada.
- Seu amigo não sabe o que é perigoso.
- Desculpa se estava apenas ajudando a chegar em casa. - Hanyel diz em tom irônico.
- Que merda! Eu quis dizer que...
- Calados!
Ariane estava nervosa, pois Bianca e Hanyel não tinham uma boa convivência a anos. Eles chegam em casa, o carro é deixado na garagem. Ao desembarcarem, entram diretamente na casa. Ariane quando ia passar pela porta, observa um corvo erguendo voo nos galhos do grande pinheiro. Ela fica atenta, aquele corvo parecia estar observando algo.

- Não quero discutir com você, mas anda me dando motivos!
- Motivos? Se você não se sente bem usando seus poderes, não venha querem interferir nos meus.
- Mas nós juramos não...
- Você jurou a si mesma, que não usaria mais! Eu não jurei nada!
Hanyel dá as costas e sobe as escadas.
- Chega! - Ele bate na parede, fazendo a casa de madeira estremecer.
- Idiota! - Bianca falou baixinho.
Ariane chega ao seu lado, parecia pensativa.
- Você viu o corvo? - Pergunta.
- Corvo? Eu não vi nada! Vou ir dormir! - Respondeu rudemente.
Ela também sobe as escadas, Ariane ouve o som da porta de seu quarto batendo. Ariane senta-se no sofá, liga o abajur ao seu lado e abre uma pasta que estava na mesa de canto.
- Tantas mortes este ano... - Disse ao ler um dos documentos.
O luar reflete seu brilho na janela atrás de Ariane. Entretida com os papéis, resolve pegar uma caneta para fazer algumas anotações. Ao observar a pequena mesa em sua frente, vê a silhueta de uma mulher.
- O quê?? - Grita assustada, levantando-se do sofá.
Não havia nada na janela. Seu coração palpitava, parecia que a qualquer momento pularia do seu peito.
- Calma Ariane, você não viu nada. Não foi nada. Você está cansada. - Limpa os olhos e olha no relógio, que marcava meia noite.

Deixa os papéis em cima da mesa, tira os sapatos e deixa ao lado do sofá. Vai até a cozinha e pega um pouco de leite, estava cansada, o dia na delegacia não foi um dos mais calmos e em seu pensamento, não saía a imagem de Adriana assustada ao ter uma visão. Ariane sobe as escadas, o corredor escuro que levava aos quartos, tinha um ar sombrio.
A grande casa de madeira, era assustadora à noite. Ariane tinha certo receio de morar ali, porém gostava muito do lugar. Seu quarto estava bem arrumado, era praticamente igual ao que tinha antes da morte da sua família. A dor que sentia em lembrar que não tinha alguém para abraçar e chamar de mãe, fazia lágrimas correrem em seu rosto.
Ela limpa rapidamente. Deita-se na cama e observa a janela com as cortinas abertas. A lua brilhava em seu quarto. A luz em meio a escuridão, lhe dava conforto.
- Que as dores que um dia senti, se transformem em sorrisos a partir de hoje! - Disse como uma oração, que repetia todos os dias deste a grande explosão.
Deitada, vira-se para o lado e se cobre com o edredom. Seus olhos se fecham rapidamente, o sono havia chegado.
Além da janela, no grande pinheiro, um corvo espreitava a janela de seu quarto.

Além da inquisiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora