20 de Novembro de 2030 (Dias atuais)
- Como se sente hoje?
- Bem melhor.
- Vi que veio sozinho, aparenta estar melhor mesmo.
- Não me sinto angustiado.
- Isto é muito bom! Ótimo na verdade. Até sabermos o que você tem, devemos lidar com esse tipo de sentimento.
- Já faz algum tempo que nao tenho crise nenhuma.
- Está fazendo algo para melhorar isto?
Hanyel lembra da ajuda que recebera para controlar tais crises, mas falar de magia, a doutora não iria acreditar.
- Meditação! Meditação está me ajudando.
- Perfeito! Deite-se no divã, vamos conversar um pouco.
Hanyel deita-se, a doutora senta-se na poltrona ao lado.
- Ok, vamos lá. Sabe me dizer se você viveu algo que pode ter ocasionado estas crises?
- Bom... eu...
Ele sabia que não poderia falar tudo, pois não queria que seus dons fossem expostos. Hanyel observa a estante de livros.
- Gosta de bruxaria? - Ele pergunta.
- Sim, é uma das minhas paixões. Já sofri muito por causa dela. - A doutora sorri de canto e abaixa a cabeça.
- Já sofri muito devido a bruxaria... eu, Bianca e Ariane...
- Conte-me...- Foi a mais de dez anos, nós fomos levados a um lugar horrível... passamos muita dor, fome e sede... eu perdi pessoas que eu amava, vi pessoas partirem e nem se quer pude me despedir... eu sofri... eu morri lá...
- Primeiro as emissoras de rádio ficaram fora do ar por alguns minutos, logo recebemos a seguinte transmissão: “O mundo mudou e nós estamos aqui para salva-lo, a sociedade oculta agora vem ajudar todos os necessitados, iremos moldar o mundo a nossa imagem... - A doutora falou ao retirar os óculos e olhar séria para Hanyel.
- ...Iremos reformar isso que é chamado de vida!” - Ele completa.
- Você foi pego...
- Sabes do que estou falando?
- Fui capturada na rua, levada a custa de chutes. Um colar de choque não era o mais confortável! Fui forçada a dormir sobre as proprias fezes, fui torturada...
Hanyel senta-se e olha para a doutora que desprende o cabelo.
- Você... - Hanyel segura a mão dela. - Eu lembro de você...
- Não poderia esquecer uma de suas irmãs de magia. - Diz ela.
- A bruxa Fidenlord... você...
- Eu lutei junto a vocês, eu dei vida aos seus animais...
Hanyel sente um calafrio, na sua mente ele tenta procurar lembranças da garota que um dia lhe ajudou e que agora voltou a ajudar. Ele lembra-se de algo, um sorriso fraco aparece em seus lábios.
- Marianna!- Não é possível! Você também sobreviveu a explosão.
- Eu estava junto a vocês no circulo, quando tudo virou luz.
- Teve sorte de ter conseguido voltar...
- Sim e não... eu não tinha mais família, nem amigos...
Hanyel observa a doutora com certa tristeza.
- Eu consegui criar uma nova família... e ela se mantém até hoje!
- Também consegui me reconstruir. - Disse Marianna. - Casei-me, moro na Rua dos Rios, tenho uma casa, um gato...
- Seu marido... sabes do que passou?
- Ele passou por algo parecido... era de outro estado, a política era diferente, então só foi preso. Não passou pelo mesmo que eu.
- Teve sorte.
- Muita...
- Conhece mais bruxos?
- Infelizmente conheço muito poucos que ainda estão vivos, eles se escondem e não revelam sua identidade para ninguém.
- Isso é muito triste. Nós estamos em menor número agora...
A doutora Marianna se levanta e vai até uma bancada onde pega duas xícaras de chá.
- Aceita?
- Sim, obrigado.
Ela põe um pouco de adoçante e senta-se novamente perto de Hanyel.
- Ouvi boato de que os inquisidores ainda vivem...
- Eu também ouvi... temo que seja verdade.
- Todos nós tememos. Estive fazendo algumas pesquisas e pelo que descobri, não nasce nenhum bruxo a mais ou menos sete anos.
- Muitos anos. - Hanyel fala ao tomar um pouco de chá.
- Eu temo que sejamos completamente extintos.- Doutora, devo ir... - Disse Hanyel ao se levantar e esticar sua mão a Marianna.
- Tudo bem! Nos vemos semana que vem.
- Assim espero!
Assim, o paciente da doutora, pega seu casaco e se retira da sala. Marianna fica olhando pela janela, ele sair do prédio e embarcar no carro. Se sentia aliviada em saber que encontrara mais bruxos. Em sua cabeça, começa a se passar planos e mais planos, estava começando a querer fazer algo.
O telefone toca. Marianna vai até sua mesa e atende.
- Alô?
- ...
- Alô??
- ...
Marianna não ouve nada e coloca o telefone na mesa novamente.
- Deve ter sido engano. - Disse ao ir pegar sua prancheta que deixara no divã.
Logo o telefone volta a tocar. Ela atende novamente.
- Alô?
- ...
- Por favor, isto não tem graça, peço para que pare, sim?
Marianna desliga o telefone. Estava começando a se estressar.
- Calma Marianna, você não passa o dia todo ouvindo os problemas dos outros, para se irritar com uma ligação. - Ela respira fundo. - Pronto! - Disse aliviada.
Marianna sente um ar gelado em seu pescoço, fazendo com que se arrepie. Ela vira-se rapidamente e não vê nada. Ao retornar o que estava a fazer, olha para a janela e vê o reflexo de uma mulher atrás dela.
- Quem é você? - Disse ao virar-se.
Não havia ninguém na sala.
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Além da inquisição
FantasyTreze anos se passaram após a grande explosão que deu fim aos Campos de Inquisição. A raça dos bruxos está se extinguindo. Os três bruxos, aprendizes da Necromante, cresceram e se tornaram bruxos extremamente hábeis e poderosos, mas alguns problemas...