Prólogo

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Cemitério da cidade de Cold Sand

Ali, por cima de um túmulo já quebrado e desgastado, um grupo reunido clama: "Enomine! Enomine!". Todos encapuzados, com vestes longas, que se arrastam pelo chão e sapatos pretos de couro surrados, cada um segurando sua vela, vermelha ou preta, de acordo com sua devoção. No túmulo, o mesmo surrado e desgastado, não pelo tempo, mas pelo ódio daquela pequena cidade , um nome que para cada um daqueles ali, de pé, permanecia intacto, apesar do estado de toda a lápide.
A pequena cidade de Cold Sand e seus atuais moradores enxergam aquele como apenas mais um dos inúmeros túmulos que compõem o único cemitério da cidade. Porém, os encapuzados ali presentes, alguns antigos moradores e os antepassados, agora silenciados pela morte, sabem muito bem que aquele não se trata apenas de um lugar de repouso e descanso eterno para uma jovem que fora morta há mais de um século.
A força do clamor dos encapuzados aumentava, à medida em que a noite avançava. Naquela cova jazia para eles a esperança de dias melhores, a certeza de que sua vingança por todas as humilhações sofridas por aquela cidade e seus moradores estaria por vir. Todos com seus olhares fixados naquele nome escrito em pedra, agora rachada, com letras douradas. Em todo o túmulo uma palavra, nos dias atuais, pichada, demonstrava o sentimento e o real pensamento daquela cidade, em relação à jovem ali sepultada: "DEMÔNIO". Nenhuma palavra era tão forte e não estava presente em túmulo algum, exceto naquele.
O clamor do grupo e a intensidade de sua voz aumentava. Sem mais delongas, um dos encapuzados, conhecidos como "kappie", se ajoelha e começa a se bater, olhar a lua e beijar o túmulo à sua frente. Um jovem com cabelos negros, boca avermelhada, pálido, com olhos vermelhos como o sangue, dentes muito brancos e presas grandes se aproxima do grupo, com uma fúria intensa. Uma fúria que parecia querer quebrar seu próprio corpo, tão pálido e magro quanto seu rosto, de dentro para fora. Ainda se aproximando do grupo ele solta um grito alto, forte, imponente e assustador. Assustador para qualquer pessoa, exceto para as daquele grupo. Quando se aproxima, apenas uma pergunta sai de seus lábios:

- O que fazem aqui?

Um dos kappie retira seu capuz, revelando seu rosto esquelético, amedrontador, com boca larga, dentes serrilhados e olhos negros.

- Você sabe muito bem o que fazemos aqui.

- Sei? - O jovem fez uma pausa, olhou para a lua, em seguida para o túmulo e se enfureceu.

- Então é isso? Vão mesmo invocá-la? São tão idiotas ao ponto de sacrificarem suas vidas livres para viverem novamente à sombra dela?

- Nossa rainha nos prometeu que quando retornasse tudo seria diferente.

- Sua rainha era apenas uma jovem que sabia muito bem como dominar o mal. E sendo jovem, sabia como dominar cada um de vocês e fazê-los acreditar que sua maldade e perversidade cessariam.

- Como ousa falar de nossa rainha?

- Não vou permitir que a tragam de volta!

- Não? - O homem ri, debochadamente - E como pensa em nos deter?

- Só existe uma maneira...

Subitamente, o jovem abriu sua boca, revelando mais nitidamente seus brancos e compridos dentes. Presas enormes se colocaram à mostra e o jovem se jogou para cima do homem esquelético. Os outros, porém, preferiram não dar atenção à luta e continuavam seu clamor mais intensamente: "Enomine! Enomine!". De repente, um clarão se fez no céu, antes escuro, iluminado somente com a lua. O jovem vampiro desapareceu. O nome no túmulo se intensificou, o dourado das letras brilhou como nunca antes havia brilhado. O clamor agora, além de mais intenso, vinha acompanhado de um nome... O mesmo nome que se apresentava no túmulo, que rachou e se partiu. Uma luz avermelha saía das rachaduras e se intensificava com a luz da lua. O clamor aumentava, acompanhado do nome da jovem: "Enomine Eudhora! Enomine Eudhora!". A Tampa do túmulo se abriu ao meio e a rachadura atingiu a altura do nome e as datas de nascimento e morte...

EUDHORA RUBNER

*1889 +1910

Tomorrow - O Despertar - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora