Deixa-me ser(eia)

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Seus sentidos estavam mais apurados aquele dia.

Sua dominação da fogo estava a cada dia melhor.

Não podia brincar com o fogo debaixo da água. Na verdade podia, mas não queria correr o risco de magoar alguém caso alguma coisa desse errado, então quando todos se distraiam em uma dança com as outras sereias, ela saiu.

Nadou primeiramente devagar. Nadou lentamente para ter uma desculpa como "estava apenas procurando algo" caso alguém lhe perguntasse para onde estava indo, mas ninguém ainda havia notado sua falta, então aos poucos, começou a nadar mais rápido.

E mais rápido ...

Mais rápido.

Quando pode perceber, já não via e nem ouvia a música que tocava abaixo do oceno.

Ficou alguns minutos ainda esperando que alguém fosse atras dela, mas como esses minutos se passaram sem ninguém dá por sua falta, ela parou de se preocupar e continuou nadando.

Não para a frente.

Não para baixo.

Para cima

Para a superfície.

Ela adorava fazer acrobacias com a cauda enquanto nadava pelos oceanos e a todo instante sabia que era especial.

Não era especial para os que já a conheciam e a viam todos os dias.

Era especial para nós.

Humanos.

Afinal de contas, não é todo dia que vemos uma sereia, certo ?

Sua longa e escamosa cauda azulada e em tons esverdeados era seu orgulho.

Seu corpo esbelto e delicado lhe deixava feliz, assim como seus longos e lisos cabelos brancos.

Seus olhos cinzentos eram capaz de hipnotizar qualquer um. Fosse quem fosse. Mesmo que nunca tivesse tentado.

Ao chegar na superfície, sabia que era noite. Embora ainda tivesse riscos de ser vista, eram bem menores. Mesmo assim não queria arriscar, não iria se demorar. Iria apenas conferir suas habilidades e pronto.

Em um segundo estaria de volta a grande festa das sereias.

Só que algo não estava nos seus planos.

Não sabia que assim que colocasse uma pequena parte da cabeça para fora da água, seria atingida por uma pedrinha.

-Ai! -Disse depois que a pequena pedra havia afundado. Alisou o rosto e dramática, olhou os dedos para ver se ali não havia sangue.

Não havia!

Assim que levantou os olhos em direção a beira da água, tomou um susto.

Grandes olhos claros de um garoto que estava na beira da praia a olhavam com um misto de curiosidade e medo.

Um garoto de em média 17 anos estava parado, com um dos braços erguidos.

O braço estava pronto para jogar uma outra pedrinha afim de lhe fazer ir pulando uma, duas, três ... sete vezes, que foi o máximo que ele já fez.

E o garoto iria jogar a próxima pedrinha.

Iria jogar se não fosse a moça ali dentro do mar parada na sua frente.

Sem saber como e sem pensar naquilo, podia ver seus olhos cinzentos olhando para ele com um misto de curiosidade e medo.

A moça tinha olhos bem claros (que ele não entendia como conseguia ver no escuro) e usavam no topo da cabeça com cabelos completamente brancos, uma coroa diferente.

Deixa-me ser sereia (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora