Cafeteria

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Era em torno das seis horas da tarde quando Hanyel deixou o colegio e foi para uma cafeteria na esquina da Rua Sargento Varttes. Um vento duvidoso pairava no ar, estava trazendo chuva.
- Boa tarde, Carmen! - Disse Hanyel para a garçonete ao entrar na cafeteria.
- Boa tarde, professor. Quanto tempo, não?
- Ah, sim... já faz alguns dias que não vinha aqui.
- Pois bem... sua mesa favorita esta vaga! Já levo seu pedido de sempre!
- Tudo bem. Não demore, ok?
- Hahaha... tudo bem senhor Hanyel. - Carmen arruma sua camiseta por dentro da saia e guarda a caneta e seu bloco de notas no bolso único do avental.
Hanyel vai até sua mesa de canto, a qual sempre sentava. Tinha preferência por ela, pois ficava ao lado da janela e no fim do estabelecimento, o qual lhe dava visão total de dentro e fora da cafeteria. Não demorou muito para Carmen trazer o pedido.
- Chá com creme e croissant! Do jeito que gosta.
- Muito obrigado! - Hanyel bebe um pouco do chá. - Está ótimo, Carmen. Como sempre!
- É bom saber que gosta do que fazemos aqui no café. Eu e minhas irmãs temos grande afeto por você.
A cafeteria se chamava De Alt Vall, fora estabelecida por quatro irmãs bruxas Alto Vallerianas que mantém suas práticas mágicas em segredo para a população da Capital.
- Gosto muito de vocês também! É uma pena não termos tempo de sair como antes. Estou muito ocupado com trabalho e...
Carmen olha nos olhos de Hanyel, ela estava lendo sua mente.
- Sabes que não gosto que vasculhe minha cabeça. - Hanyel morde o croissant.
- Desculpe-me, mas vejo uma nuvem negra sobre sua cabeça. Você está angustiado.
Hanyel não gostava de falar sobre o que via, fazia ou sentia, mas era inútil esconder algo de uma Alto Valle.
- Estão acontecendo algumas coisas estranhas...
Carmen senta em frente ao amigo.
- Estranhas como? - Diz ao fixar o olhar em Hanyel.
- Alguns barulhos, passos, vultos.. uma presença estranha está perseguindo a mim e as garotas.
- Posso? - Carmen diz ao erguer a mão em direção a cabeça do amigo.
Ele concede o pedido.
A bruxa põe a mão em meio a sua testa e repira fundo. Ela é puxada em meio a uma névoa escura, passando por uma imensa floresta verde, descendo por rochas, até parar em meio a mente de Hanyel. Carmen se vê na casa onde ele mora, ela começa a reviver os pensamentos dele. Ver o que viu e ouvir o que ouviu. Espantada com o que sentiu, ela retoma ao seu estado normal.
- Sentiu?
- Eu... eu... - Carmen gagueja. - Acha que pode ser ela?
- Impossível! Ela morreu já faz treze anos!
- Ela... e as outras?
- Eu pensava nisto agora mesmo.
- Se acha que é o que eu acho que é... não somente você está com problemas, mas sim todos nós!
Hanyel observa o movimento na cafeteria e volta a olhar para Carmen.
- Os problemas nunca nos deixaram, Carmen! - Ele termina de beber o chá. - Este croissant estava maravilhoso.
- Maravilhoso como sempre, não é? Hahaha... qualquer coisa é só me chamar, irei atender os outros clientes. - Carmen acaricia a mão do amigo. - Já estou indo! - Diz ao ver uma senhora levantando a mão para ela.

Hanyel estava a responder algumas mensagens de seu celular, havia dito a Ariane, que poderia chegar um pouco atrasado em casa. Logo chega um cliente na cafeteria, um homem de roupas sociais, casaco e chapéu todos pretos. Ele vai até o balcão.
- Um café por favor! - Disse para Lilian, uma das irmãs de Carmen, que ficava no balcão.
O homem tira o chapéu é põe sobre o balcão ao lado de alguns jornais, onde pega um para ler. Hanyel estava olhando para ele, percebe que o homem lhe observava com o canto dos olhos de vez em quando. O professor não estava gostando do aspecto luxuoso e misterioso do homem de roupas pretas. Lilian entrega o café a ele, o mesmo agradece e começa a conversar com ela.
- Faz tempo que tens este café? - Hanyel ouviu ele perguntar.
O homem estava a fazer muitas perguntas e isto deixou Hanyel duvidoso das atitudes suspeitas do homem que ainda lhe observava de canto. Hanyel mantia a xícara na mão, até lembrar-se que estava vazia e larga-la sobre a mesa. Assim pega sua bolsa, levanta-se e se dirige até o balcão.
Ele chega ao lado do homem que lhe observa.
- Lilian... posso falar com Ruth?
- Claro, Hanyel. Ela está na cozinha... entre.
- Obrigado. - Ele entre por uma porta cinzenta que dava na cozinha.

Ruth estava limpando o forno, seus cabelos negros, perfeitamente unidos em uma única trança que dava ao meio de suas costas, lhe dava uma aspecto gentil.
- Olá Ruth!
- Não acredito que o meu querido amigo veio falar comigo aqui na cozinha! - Ela se vira.
- Sim! - Hanyel abre um sorriso.
- Como você está lindo! Me dê um abraço!
- Queria falar algo.
- Pois diga-me! - Ruth deixa o pano sobre o forno.
- Tem um homem aqui no café, não me parece confiável, diga para Carmen analisar a mente dele.
- Está ficando louco? Vasculhar a mente de um cliente não faz o nosso tipo.
- Incrível como vocês não olham a minha. - Ele olha nos olhos azuis de Ruth. - Pode sair da minha mente agora?
- Oh, sim... desculpe-me, mas é que vi uma nuvem negra sobre sua cabeça.
- Carmen me disse a mesma coisa.
- Voltando ao homem nada confiável... eu já pedi para Carmen olhar, ela disse-me que não tem nada demais, ele é apenas... um homem nada confiável para você. - Ruth abre um sorriso.
- Tudo bem... melhor assim. Pode ser coisa da minha cabeça, achar que ele...
- Não... não é coisa da sua cabeça! Eu também estou achando que eles estão entre nós novamente.
- Um motivo por qual não gosto que leia minha mente, é que você sempre acaba com a conversa, pois sabe o que iria falar.
- Já devia ter se acostumado, desde quando trabalhou aqui.
- Sim... foi um tempo muito bom.
- Eu e as meninas sentimos sua falta aqui, meu amigo. Você nos dava segurança, mas agora, por eu ser a mais velha das quatro, tenho que cuidar destas meninas desmioladas! Hahaha...
- Você as protege muito bem, Ruth. A Brianna é a mais desmiolada. A Carmen e a Lilian, nem tanto.
- O que fazer, não é? Somos bruxas Alto Valle, somos loucas! Hahaha...
- Foi muito bom te ver, minha amiga.
- Ah, que nada! Apareça mais vezes!
- Com certeza! Agora tenho que ir! Fique bem!
- Siga bem, meu amigo.
Hanyel sai pela porta e se despede de Lilian no balcão.
- Rapaz! - Disse o homem.
Hanyel olha para ele.
- Deixou sua bolsa aqui no balcão quando foi a cozinha.
- Oh! Muito obrigado!
- Não tem de quê! - O homem fez um sinal com os dedos na cabeça assim como os militares.
- Tchau, Carmen...
- Tchau! Cuide-se! Volte logo!
- Voltarei sim! - Hanyel disse ao abrir o carro e embarcar nele.

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