16 - Olhos Brilhantes

1.2K 123 5
                                    

  - Eu vou gritar! Não chegue perto de mim! - Esbravejei me afastando até ficar encurralada na parede e escutei o ser encapuzado gargalhar.
  - Grite. Ninguém vai te salvar. Todos estão mortos. - Respondeu ele vindo na minha direção e flash backs começaram a invadir minha mente. Meu irmão com a garganta cortada engasgado com o próprio sangue no quarto. O corpo da minha mãe caído no quintal e sua cabeça espetada numa estaca pouco a sua frente e meu pai na cozinha, esquartejado. E eu gritei. O mais alto que pude.

  - Meu Deus! - Falei embaralhado me sentando abruptamente na cama, quase caindo no chão, meu busto subia e descia e minha respiração descompassada estava me deixando mais agoniada. Apertei o edredom da cama fechando as mãos em punhos no tecido. Tinha sido tudo um pesadelo, agora eu estou de volta no quarto. Está tudo bem.
  Olhei ao redor pra ter certeza, mesmo com a pouco luminuosidade do quarto eu conseguia me recordar que local era aquele. O quarto da Mallya. Olhei mais uma vez ao redor, analisando os murais de investigação, a escrivaninha o computador, na tentativa falha de me acalmar, parecia impossível. Eu ainda conseguia ouvir a melodia do piano rodando ao redor da minha cabeça. Podia sentir o medo que corroeu meu corpo durante a decorrência do pesadelo. E meu coração disparado ainda liberava adrenalina nas minhas veias, espantado e esperando pelo combate. O pior foi ver minha família daquele jeito, eu jamais quero ver isso de novo, um nó se formou na minha garganta com a lembrança dos flash backs, não era real. Ainda bem que não era real.
  Soltei o tecido do edredom e afundei o rosto nas mãos suspirando de alívio, e eu estava prestes a respirar fundo e tornar a me deitar novamente na cama quando escutei um rangido. Levantei a cabeça imediatamente e assisti a porta do quarto se abrir até parar, ficando entreaberta, e de lá um ser encapuzado, o mesmo do meu pesadelo entrar no quarto, andar até a metade dos pés da minha cama e parar em frente a divisória entre as camas onde eu e Mallya estávamos. Ele se ajoelhou no chão, estava tão mal iluminado o cômodo que eu não conseguia ver seu rosto. E eu queria ver, pra matar de vez esse medo desesperador que emana de mim. O ser encapuzado, que era o mesmo do meu pesadelo e o mesmo que estava naquela casa mal assombrada, abaixou mais a cabeça, pondo suas mãos sobre o edredom da cama e eu arquejei encolhendo minhas pernas quando vi apenas ossos onde deveria haver pele e carne, os dedos que eram pra ser humanos, eram esqueléticos nas mãos dele.
  E então de repente ele sumiu, seus dedos esqueléticos se desintegraram e o manto escuro caiu no chão, como se o fantasma que estivesse por debaixo do pano ouvesse evaporado. Eu me levantei mesmo em cima da cama, e engatinhei nervosamente até os pés da cama, e meus olhos contemplaram o manto escuro ser puxado pra baixo da minha cama.
  - Psiu!
  Olhei pra trás e vi Mallya com a katana na mão e na outra minha arma. Ela jogou pra mim e eu segurei a taurus com firmeza, tirando a trava e conferindo se o silenciador estava bem encaixado. E então eu e Mallya saímos da cama. Com muito cuidado pra não chegar muito perto das beiradas da cama, podia ser perigoso, qualquer descuido que tivermos pode correr o risco daquela coisa nos puxar pra baixo da cama. Não sabemos o que ele é, não dá pra arriscar.
  Mallya foi até a porta fecha-la e acendeu a luz do quarto. Segurei a arma com mais firmeza e me abaixei até ficar de joelhos e então me abaixei mais, dava pra ouvir a respiração ofegante minha e da Mallya, eram os únicos sons naquele quarto, e isso estava me deixando ainda mais nervosa. Meu coração parecia que ia sair pela boca, batendo descontroladamente. Me abaixei mais, quase me deitando no chão e olhei para baixo da cama.
  Havia um par de olhos brilhantes lá embaixo, eu não sei o que é aquilo, mas sei que se está brilhando não é humano. Mirei a arma na direção dos olhos cintilantes.
  - Sai dai. - Falei para a coisa debaixo da cama e os olhos brilhantes pareciam que intensificaram sua cor, com certeza aquilo não era humano. - Sai dai! - Falei numa ordem e então a janela do quarto se abriu com força, eu apontei a arma pra janela, aquilo me destraiu por tempo suficiente para que a criatura que estava embaixo da cama saísse de seu esconderijo mal forjado e pulasse em cima de mim. O sangue fluiu gelado nas minhas veias. Eu arquejei e escutei a voz da Mallya abafando um grito, em seguida um miado e minha arma disparou.

PRISON IOnde histórias criam vida. Descubra agora