- ᴄᴀᴘɪᴛᴜʟᴏ ᴜ́ɴɪᴄᴏ -

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Jimin

Mais uma vez eu me encontrava isolado em meu canto, meio afastado de todos.

Isso vinha acontecendo bastante ultimamente, o que era meio estranho para mim, já que geralmente eu era cercado por gente, praticamente o tempo

Ajeitei-me na cadeira, varrendo a sala com o olhar.

As pessoas conversavam tão animadas entre si que era divertido observá-las. Por mais estranho que parecesse, saber que outras pessoas estavam bem (ao menos aparentemente) também acabava me deixando bem de certa forma.

Continuei a observar e finalmente meu olhar parou nas duas pessoas que eu mais estava evitando olhar naquela manhã. E o sorriso triste que brotou em meus lábios, acompanhado do suspiro pesaroso que escapou por entre eles foi outra coisa que não consegui evitar.

Jeon Jungkook e Kim Taehyung eram seus nomes. Meus dois amigos mais próximos, sendo um deles minha paixão platônica e o outro meu melhor amigo, respectivamente. E eles agora também eram o mais novo casal da sala, cheios de amor e carinho para dar e vender, mais melosos um com o outro impossível.

Como o mundo era injusto não é? Só podia ser sacanagem da vida para/com a minha pessoa... e o pior de tudo era que eu nem podia sentir raiva de algum deles. Na verdade, nem que eu quisesse eu conseguiria, eu só... simplesmente não podia. Não conseguiria. Não... queria.

Aliás, que sentido haveria em sentir raiva deles? Eles não tinha culpa por aquilo, ninguém escolhe por quem se apaixonar, e acima de tudo, não estavam fazendo nada de errado. Particularmente, uma parte de mim, a parte racional e lógica, sentia-se feliz por eles, por vê-los bem e ver que faziam bem um para o outro. Infelizmente, a parte sentimental, boba e trouxa ainda se sentia mal e até um pouco traída - talvez por si mesma - quando os via juntos. Porque, Deus, doía. E como doía.

Internamente , agradecia por nunca ter falado dos meus sentimentos para nenhum dos dois. Porque me sentiria péssimo se ficasse entre meus melhores amigos e a felicidade deles, porém me sentiria pior ainda caso eles ficassem juntos, mesmo sabendo sobre o que eu sentia e em como aquilo me magoaria.

Sim, eu sabia que era errado e egoísta pensar e agir daquela maneira. E realmente mentir e esconder coisas nunca fora algo do meu feitio, entretanto, naquela situação, parecia ser o mais certo a se fazer.

Deixei que outro suspiro escapasse e tive de desviar o olhar rapidamente quando os vi trocar um selinho que pareceu bem demorado ao meu ver, por mais que eu não tivesse encarado por mais de um segundo.

Levantei de súbito, sentindo o estômago revirar, e aproveitando a ausência do professor, me retirei dali o mais rápido possível. Mal prestei atenção no caminho quando saí da sala, apenas continuei no automático.

Quando dei por mim estava na escadaria. Felizmente os corredores estavam praticamente vazios, a não ser por uma ou outra pessoa aleatórias, que passavam tão distraídas que acabavam por nem me notar.

Acabei sentando num dos degraus, apoiando o peso do meu corpo na parede ao meu lado e afundando um pouco a cabeça entre meus joelhos.

Era idiota que eu quisesse chorar?

Porque, fosse ou não idiota, era a minha maior vontade naquele momento. E me sentia péssimo por isso, principalmente porque já sentia os olhos marejarem contra a minha vontade.

Eu sou um péssimo amigo, uma pessoa horrível por me sentir assim... afinal, qual era o meu problema?

- Ei. - minha atenção foi chamada por uma voz já bastante conhecida por mim, seguida por um toque de leve em meu ombro.

Rapidamente, evitando que ele visse, sequei meu rosto com ambas as mãos, bem desajeitadamente.

- Hm. - assim que o olhei, tratei de abrir um sorriso que fosse convincente. - O-oi, Yoongi hyung.

- Oi... - ele analisou meu rosto pacientemente e embora ele estivesse com aquela sua típica e característica expressão de quem não quer nada com ninguém e que está meio "foda-se" para o mundo, eu o conhecia bem o bastante para saber que estava intrigado e até meio preocupado. - Estava chorando, é?

- E-eu... - gaguejei, tentando arrumar uma desculpa convincente para dar. - N-não seja bobo, por que eu estaria chorando? - murmurei a última parte.

- Não sei, me diz você. - suspirou, meio impaciente. Outra pessoa levaria aquele ato dele como grosseria, mas eu sabia que esse era seu jeito e que paciência não era lá o seu forte.

Abri e fechei a boca pelo menos umas três vezes antes de novamente sentir os olhos marejarem, e tive de cobrir o rosto com ambas as mãos.

Odiava com todas as forças que me vissem chorar, me fazia parecer mais sensível e frágil do que eu já aparentava ser, Yoongi sabia disso.

Mas fui surpreendido ao ser envolvido num abraço acolhedor. E minha reação não foi outra se não erguer as mãos para abraçá-lo de volta e afundar ainda mais o rosto em seu peito, me permitindo chorar de uma vez.

Min Yoongi era outro amigo muito próximo e assim como com os outros dois, praticamente crescemos juntos. Mas por ser mais velho e estudarmos em turmas diferentes, e ainda por conta do seu jeito caladão e meio antissocial, não conversávamos muito. Porém ele sempre fora gentil comigo e atencioso. Não lembro de uma vez em que eu estivesse pra baixo e ele não tivesse vindo falar comigo. Era como se ele tivesse um 'sensor' ou algo do tipo, pois sempre parecia saber se eu estava mal e onde eu me encontrava.

- Hm... - ele me abraçou um pouco mais forte. - Eu... eu não sei bem o que dizer, não sou bom nisso... mas sabe que pode contar comigo, seja pro que for, né? - perguntou, aparentemente sem jeito.

Eu apenas assenti, concordando. Claro que eu sabia daquilo.

Poucos segundos depois, ergui o rosto ao me afastar um pouco dele, tratando de enxugar as poucas lágrimas que ainda restavam.

Novamente me surpreendendo, ele segurou meu rosto, me ajudando no que antes eu fazia, ao limpar meu rosto.

Era engraçado ver ele se esforçando para ser delicado e não me machucar, mesmo eu tendo em mente o seu jeito bruto de ser, e aquilo me arrancou uma risada baixa, meio anasalada.

A princípio ele me olhou confuso, ainda a segurar meu rosto, mas logo em seguida pareceu compreender - ou apenas ficou feliz em ver que meu humor havia melhorado - acabando por se juntar a mim.

Seu sorriso era encantador e fascinante, e acabei me prendendo nele por um tempo, acho que porque eu quase nunca o via sorrindo... em todo caso, o que eu tinha certeza naquele momento, era de que ele deveria sorrir mais.

- Obrigado... - agradeci, encarando-o. - Mesmo... eu... obrigado... - foi o que consegui dizer.

- Deixa disso, não precisa me agradecer por nada. - roçou de leve o polegar em minha bochecha. - Se sente melhor?

- Eu... - assenti. - Sim, um pouco. - soltei um sorriso fraco.

- Certo... - agora ele quem parecia estar sem palavras.

Nesse instante eu me inclinei rapidamente e lhe dei um beijo na bochecha, logo apoiando a cabeça em seu ombro, ainda o abraçando de lado.

- Pode ficar comigo... só mais um tempinho? - minha voz saiu praticamente num sussurro e em resposta o senti me aninhar em si, de forma protetora.

- Sempre. - respondeu numa voz firme.

Inclinei um pouco o rosto para o lado para poder observa-lo e pude perceber que sorria. Dessa vez um sorriso singelo, meio acanhado, diria até que meio... bobo? Talvez.

Quando percebeu que eu observava seu sorriso, desviou o olhar, aparentemente ainda mais acanhado, bagunçando os cabelos da nuca com a mão livre, num sinal de nervosismo.

Sorri novamente, voltando a apoiar a cabeça em seu ombro, o apertando mais.

Era bom saber que o tinha ao meu lado quando precisasse. Me sentia protegido ali, em seu abraço, seguro de que nada de ruim me aconteceria enquanto estivesse com ele. E naquele momento também pude notar que não precisava de mais nada para ficar bem, que tinha tudo o que precisa bem ao meu lado.

Reconforto | myg × pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora