Mate ou Morra

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Sinto a mão de Harry na minha.

Escuto a respiração entrecortada de Felipe, carregando Helena.

Ronald lamenta baixinho.

Josh tem o olhar focado no horizonte, as mãos cerradas.

Lágrimas escorrem pelo rosto de minha mãe.

Concentro-me em andar. Um pé, depois o outro.

Passamos por muitos carros parados, em alguns pontos tinham objetos pegando fogo, muitas pessoas mortas. Continuamos andando, não foi preciso dizer para onde queríamos ir, todos parecíamos ter tomado a mesma decisão na floresta.

- Certo, me deem cobertura para fazer isso aqui. – Felipe nos pede e senta no chão, apoiando Helena em seu colo. Depois começa a procurar em sua mochila, retirando dela um isqueiro. – É o único jeito de cicatrizar direito o ferimento dela.

Helena acorda devagar, meio grogue ainda.

- Felipe... – sua voz sai fraca.

- Estou aqui, vai ficar tudo bem. – Felipe olha para ela e segura em sua mão boa. – Sinto muito, mas preciso fazer isso pelo seu próprio bem.

Solto um pequeno arquejo por saber o que vem a seguir. Felipe tira a camisa que estava amarrada no ferimento, então acende o isqueiro e respira fundo. Leva alguns segundos, parecendo tomar coragem, até que num impulso aproxima o isqueiro do ferimento e começa a passar o fogo por todo o local afetado, fazendo uma sutura.

Os berros de Helena fazem meu corpo gelar. A expressão de Felipe é extremamente conturbada, seus olhos parecem perdidos enquanto ele faz a sutura. Helena continua gritando, os olhos fechados e com a mão boa aperta com extrema força o braço livre de Felipe, até que perde os sentidos novamente. A cena me da náuseas e meu corpo fica arrepiado.

Observo tudo nervosa, passando as mãos pelos cabelos. Josh segura minha mão, olho em seus olhos e ele faz uma expressão para dizer que vai ficar tudo bem. Sinto-me grata por tê-lo comigo. Felipe cobre o machucado novamente e se levanta, com Helena no colo, então naquele instante os mordedores chegam.

- Merda, merda. – digo e puxo minha faca.

Automaticamente meu corpo todo fica trêmulo, concentro-me em ficar em pé e proteger minha família. Vamos, Katy, eles precisam que seja forte.

- Harry, mãe, para trás agora! – grito e com o braço ponho eles para trás de mim e Josh, onde ficam juntos com Felipe.

Josh e seu pai avançam para os mordedores, observo-os por uns segundos. Não. Seja. Fraca. Simplesmente avanço, sabendo que a vida de quem eu amo depende disso. Um, dois, três, quatro. Os corpos caem inertes ao meu lado ate que perco a conta. Quando acabamos olho minhas mãos sujas de sangue, sentindo ânsia de vomito, então olho para trás e vejo minha família sã e salva e uma onda de alivio invade meu corpo. Corro para abraça-los, algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto. Depois olho para Felipe, um pouco preocupada, ele parece distante.

- Vamos. – ele diz e começamos a andar.

- Vamos precisar nos abastecer antes de irmos ate o laboratório. – digo e respiro fundo, olhando ao redor.

- Podemos procurar por suprimentos aqui, quem sabe conseguir um veículo. – Josh sugere.

- Certo... Vamos nos separar e começar a procurar. Alguém vai precisar me dar cobertura. Não temos muito tempo. – Felipe diz, seus olhos ainda parecem distantes.

- Eu te dou cobertura. Josh fica com o Harry, minha mãe com Ronald. – olho para eles e todos concordam. – Certo, vamos começar.

Ronald e minha mãe ficam mais atrás, Josh e Harry vão para o lado direito, eu e Felipe vamos para a esquerda. Começo a vasculhar em um dos carros, achando apenas uma garrafa, pego-a a sigo para o próximo carro. Ao me aproximar vejo uma mordedora, respiro fundo e olho Felipe, então abro a porta. A doente cai no chão, levanta uma das mãos na minha direção, tentando chegar ate mim. Puxo minha faca, um pouco trêmula cravo-a em sua têmpora, tiro a faca e a doente cai no chão completamente imóvel. Mexo no carro e acho seus documentos, seu nome era Laura. Sinto um aperto no peito, mas não posso ter uma crise agora. Limpo a faca e guardo-a.

- Não vou poder me acostumar com isso nunca. – minha voz também sai trêmula.

- Ninguém vai, mas precisamos aprender a conviver Katy. Os fracos psicologicamente não irão sobreviver nesse novo mundo. Ou aprendemos a ser fortes, ou morremos. – Felipe olha em meus olhos, seu tom de voz sério, suas palavras me atingem. Sei que esse recado também foi pra mim. Fecho os olhos, relembrando dos acontecimentos até agora, sabendo que precisarei evoluir se quiser sobreviver nesse novo mundo. Então noto o único motivo que me faz criar forças, a única razão pela qual eu mataria inclusive um humano. Proteger quem eu amo. Torno a abri-los e devolvo o olhar a ele, então aceno com a cabeça e seguimos nosso caminho.

Depois de um certo tempo voltamos ao ponto de encontro, achamos garrafas, roupas, duas latas de refrigerante e um pacote de biscoito. Guardamos tudo na mochila de Felipe. Helena ainda tem uma aparência completamente abatida, mas já está acordada. Tomo a frente de nosso grupo e encaro todos.

- Certo pessoal, precisamos deixar umas coisas claras. - todos olham em meus olhos. – A partir de agora vamos precisar aprender a sobreviver. Para isso será necessário matar, querendo ou não, muitas vezes. Até mesmo humanos. – meu tom se altera um pouco, uma emoção diferente toma conta de mim aos poucos. – Sei que não somos fracos, precisamos conseguir, não importa o que. Achem sua motivação interior e se agarrem a isso com toda força. – olho para cada um deles. – Nesse mundo ou matamos – dou uma pausa respirando fundo – ou morremos.

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⏰ Última atualização: Nov 30, 2017 ⏰

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