Capítulo 4

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O dia está abafado. Meu corpo todo está suando. Hoje é o último dia, depois de tantas mortes deliciosas, a melhor chegou.

Limpo meus materiais com cuidado, enquanto observo a foto da mulher que deveria ser minha.

Helena está distraída na foto, eu mesmo tirei, enquanto ela estava chorando por seu marido morto. Ela não me viu. Mas eu a vi. Tive vontade de correr para seus braços e dizer que agora ela deveria sorrir, assim como fazia quando jogávamos juntos na sala de aula, apenas eu e ela.

É uma pena que o coração de Helena virou para outras pessoas, ela passou a ter outro aluno favorito, passou a beijar outro homem, e a amar uma criança, mais do que deveria. Agora voltamos a ser apenas eu e ela. E será assim para todo o sempre.

Quando finalmente termino de organizar meus materiais paro para apreciar cada foto que tirei das três primeiras vítimas, não contenho o sorriso, o lugar deles era exatamente onde estão agora. Pego cada foto e penduro em meu mural. As observo novamente por alguns minutos e saio de casa, pronto para encontrar o amor da minha vida, que deveria ter sido meu desde sempre.

***

NARRADOR

12 de Maio de 2017

18:05 da tarde

Passando-se um mês após a morte do marido e da filha de Helena, o dia das mães estava próximo, a escola teria uma confraternização para os alunos e suas mães. Helena e suas outras duas amigas, Débora e Leandra, estavam finalizando a decoração. Após alguns minutos as duas amigas decidiram ir embora.

- Você vai querer uma carona Helena? - Débora pergunta enquanto pega sua bolsa.

- Não, tudo bem, ainda vou demorar um pouco para ir embora. - Helena responde educadamente.

- Tem certeza Lena? -Leandra pergunta preocupada.

- Sim, não se preocupem, vou apenas terminar de embrulhar essas lembrancinhas. - Helena aponta para os pequenos chaveiros que estavam em cima da mesa.

As amigas se despedem e, logo após Débora e Leandra deixarem a escola, Helena fica acompanhada apenas de seus pensamentos.

Diversos momentos são relembrados por Helena. Principalmente com sua filha, nesta época do ano. Todos os abraços, todos os sorrisos de Alice, todos os eu te amo, os quais nunca mais seriam proferidos. Tudo agora eram apenas lembranças.

A mulher, que agora chora, pensa no combinado que fizeram semanas antes da morte de sua filha, as duas passariam o dia das mães juntas, seria apenas um dia de mãe e filha. Pensa em como a garotinha desejava crescer e ser professora, assim como ela.

De repente seus pensamentos são desviados por um barulho, Helena seca as lágrimas rapidamente com as costas da mão e se vira:

- Débora? Leandra? São vocês? - Como nada é respondido Helena volta-se novamente para as lembrancinhas.

Após alguns segundos o barulho se repete, porém, mais alto. Helena vira-se novamente, levanta e tenta ir ao local do som.

- Quem está ai? - pergunta, caminhando em direção ao som. A luz do pátio, que antes estava acesaagora se encontra apagada.

Ao chegar no jardimHelena não vê mais do que uma vasta escuridão e não ouve mais do que o vento balançando as folhas das árvores.

De repente Helena sente uma forte pancada na lateral de sua cabeça, no mesmo instante ela apaga.

***

- ME TIRA DAQUI! ME SOLTE! AGORA! - Assim que Helena acorda tem como primeira reação se debater. A mesma esta fortemente amarrada em uma cadeira e tem seus olhos vendados.

- Finalmente! Minha flor acordou. - Uma voz masculina é emitida. No mesmo momento Helena se cala. A voz é reconhecida- Sim, minha linda Helena, sou eu. Eu venho te livrando de todo esse teatro. Agora você não precisa mais fingir amar. Eu estou aqui. Para você. - A frase é dita em pausas, e, durante elas, Helena sente a mão do homem mexendo em seus cabelos e percorrendo seu pescoço.

- Por favor, não. Você destruiu tudo. - Helena chora. O ar escapa de seus pulmões.

- Shiu, não chore. Sorria. Sinta. - Novamente o homem diz calmamente, agora sussurrando ao ouvido da mulher. - Agora você é minha. Como deveria ter sido desde o começo.

Enquanto tais palavras são ditas o homem beija o pescoço de Helena e percorre o corpo da mesma com ambas as mãos.

- Você lembra, minha professora, de suas palavras? Você me amava. Eu sei disso. Cada jogo, cada brincadeira, cada momento que passamos juntos. Seu coração me pertencia.

Assim que todas as palavras são ditas o homem ri, de forma maliciosa. Helena sussurra um "não" em resposta, e, logo em seguida ele tapa sua boca com uma das mãos.

- Ah, sim, você era minha. Eu sonhava tanto com isso. Eu a desejava tanto - ele suspira- Por que teve que me trocar, Helena? POR QUÊ?

Helena chora mais alto, e, no instante que seu ex-aluno gritava ela sente uma pontada na lateral de sua barriga. Sente seu sangue escorrer. Ela grita, mas aquela mão, que tinha cheiro de metal, abafava o som, abafava seu desespero.

POV ASSASSINO

Ela gritou tanto. Foi a coisa mais linda de se ver. Estou sentado no chão neste momento. O jardim está repleto de sangue, assim como eu. Respiro fundo diversas vezes, o sangue dela é diferente, é tão apreciável.

Após a esfaquear um pouco, comecei a estripar minha doce professora. Agora há um pouco de órgãos jogados aqui e ali, nada que eu não possa embalar e deixar que a polícia limpe por mim.

Os gritos não duraram muito tempo. Mas o prazer foi o mesmo do começo ao fim.

A câmera que tem na parede filmou apenas o que eu queria que filmasse.

E agora, meu trabalho está feito.

Após anos sentindo a mesma dor de não poder ter essa mulher, finalmente decidi fazer algo a respeito. A estar todo dia do seu lado, enquanto fingia estar ali para um estágio, na verdade só observava cada movimento, cada aproximação. Os momentos perfeitos apenas apareceram, como se o destino quisesse que as coisas acontecessem dessa forma. E agora foi... eu não poderia estar mais feliz, desde o começo, desde ter matado meu colega, Felipe. Felizmente tive a oportunidade de agradecer a ele por toda a ajuda na época da escola, antes do ultimo golpe.

A lua, que agora esta quase no centro do céu, me avisa que é o momento de deixar por fim essa escola. Tiro uma ultima foto da minha mulher antes de ir embora. É a ultima da coleção, e também a mais preciosa. Meu ponto final é assinado. O jogo acabou... Eu te amo Helena.

Ass:       •- •-•• • ••• ••• •- -• -•• •-• ---
















"Sem dúvida, vocês pensam que eu sou um horrível assassino, eu sou, mas eu poderia ser muito pior se quisesse.

Poderia ter a feito sofrer mais, ou então apenas dificultar as coisas para vocês, mas, ao invés disso, deixo a vocês todos os pedaços de minha mulher, aceitem como um presente.

A faca ensanguentada é um pequeno brinde, ou um agradecimento.

O fim era apenas uma questão de tempo, o anjo da morte agora vive em mim.

Obrigado por estarem aqui. Obrigado por jogarem comigo.

Descanse em paz, Helena.

E vocês? Peguem-me quando puderem."

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O Destino dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora