.onde os pássaros cantam.

2 0 0
                                    

Astrea não sabia como, nem porquê, mas estava lá, flutuando bem no centro do lago

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Astrea não sabia como, nem porquê, mas estava lá, flutuando bem no centro do lago. Logo iria amanhecer e dariam por sua falta.
Para começo de conversa, a própria Astrea não sabia bem como tinha ido parar naquele lago. Sempre teve fascínio por ele, por mais distante que estivesse, sempre era atraída até ele novamente. Mas naquela noite foi diferente, não conseguia ver justificativa na sua atitude. Geralmente a Kim aproveitava a noite para arrastar certo aluno da Grifinória até o banheiro dos monitores.
Mas ela estava lá, sentindo pouco a pouco sua alma se dissolver na água junto com seu sangue. Mesmo com as pálpebras pesando, queria ver as estrelas naquela noite. Talvez até localizar a constelação de virgem, que significava tanto para si, como certa amiga havia a ensinado uma vez.
A Kim sentia seu corpo cada vez mais cansado, e mesmo assim continuava boiando na água gélida do Lago Negro. Tentou esboçar um pequeno sorriso ao pensar que o motivo de não afundar estava relacionado com a piedade de algum sereiano. Quis saber se realmente tinha algo lhe sustentando ou era apenas fruto de sua imaginação, mas só em tentar inspirar mais oxigênio sentiu seu peito latejar. A dor da água gelada ao encontrar o ferimento fora tamanha que Astrea abriu a boca para soltar um grito, mas a voz não veio. Não tinha força.
Talvez a camada de sangue a sua volta já tivesse diluído. Ou talvez o tiro nem tenha sido assim tão perto do peito. Talvez o sangramento já tivesse estancado e ela ainda tinha tempo de ser salva. Talvez tivesse alguma chance. Apenas talvez.
Mas, ao fitar o céu e ver majestosa alvorada que acabara de se formar, não sentiu dor nem medo. Tudo se acalmou. E, com o coração tão limpo quanto a mente, apenas desejou que encontrassem seu corpo assim. Em paz.

★·.·'¯'·.·★

De longe observava o corpo branco sem vida da jovem ser retirado o mais depressa das águas. Como se aquilo fosse mudar algo. Era tarde demais. E parece que eles finalmente perceberam isso quando a ergueram da água. A garota estava tão pálida quanto a cor de seus cabelos e a gigantesca mancha vermelha em seu peito crescia cada vez mais. Estavam na quinta tentativa de reanimá-la quando um garoto moreno chegou e a tomou em seus braços, berrando de dor ao constatar o que todos já sabiam, mas não queriam acreditar. Um grupo de meninas e mais alguns adolescentes choravam e se mostravam abatidos com o que viam. Soltou uma gargalhada de onde estava, se divertindo com aqueles sentimentos. Era de fato divertido, afinal, se alimentava deles.

Era apenas uma questão de tempo até sentir fome novamente e assistir a morte da próxima.  

AlvoradaWhere stories live. Discover now