Minha Filha Não Sofrerá!

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—você gosta de me evitar ou só está fazendo isso de proposito mesmo?

Vejo Benjamim se aproximando, ele usa jeans e camisa polo, all star, é a primeira visita dele desde o jantar, deixei Ly com ele e mamãe na sala e vim para a cozinha para organizar algumas coisas, o jantar de semana passada foi um pouco pior do que o almoço de hoje.

Ele ligou na segunda avisando a minha mãe que viria, ele viajou durante a semana por isso não veio antes, não me consultou, mas não me queixei, para que depois não falasse ou usasse isso contra mim no tribunal.

Aproveitei a semana para ir a empresa buscar as minhas coisas fui direto no Rh para assinar a minha demissão, achei muito mais prático, e foi muito bom saber que quando cheguei na terça as mesmas pessoas que haviam me acompanhado estavam lá também lado a lado para assinar suas demissões.

Nenhum dos meus superiores estava lá, nem Lorayne Arquete aquela arrogante, nem Benjamim, apenas os mesmas funcionários de sempre, achei melhor, também ainda na terça eu me reuni com esses ex colegas para pensarmos juntos na nova empresa que Sue quer montar, tivemos diversas ideias, eu não tenho dúvidas de que tomei a melhor decisão da minha vida, estou até otimista quanto a tudo.

—tenho muitos afazeres senhor Hill—respondo organizando os pratos já lavados do jantar nos armários.

—você saiu mesmo da empresa...

—sim, eu me demiti e foi libertador—corto—e não acho que seja da sua conta o que faço ou o que deixo de fazer da minha vida profissional senhor Hill.

—bem, a empresa é minha, então é meu problema também.

Engulo a seco mas finjo que não é nada importante.

—não é mais, eu já me demiti, já tenho um novo trabalho em vista—aviso—fique tranquilo.

—eu não sabia que a Lorayne fazia exceção de pessoas, por isso eu a demiti quando retornei de viajem, assim como alguns outros funcionários, a empresa passará por algumas mudanças.

—que bom.

Ele percebe que eu não "dou a mínima" e eu o vejo suspirar daquele jeito que suspira antes de querer começar a discutir com alguém.

—ok—pondera—posso levar a Ly para conhecer a minha família na sexta?

—ela quer ir?

—ela disse que só vai se você for.

Acontece que eu não quero ir.

—bem, vou ver se dá para eu ir.

—porque?

—tenho um jantar importante na sexta.

Ele franze a testa, depois me encara indignado.

—sério? É o dia em que ela vai conhecer os meus pais e a minha irmã, é importante para mim.

—ter um emprego também é importante para mim senhor Hill, é um jantar de negócios, então vamos tratar de falar baixo porque você está na casa dos meus pais—respondo tentando manter a calma—e acho bom procurar seu advogado, porque eu já acionei o meu e estou ciente de todos os direitos dela.

—o que?—Benjamim passa a mão nos cabelos—sério? Você acha que eu quero tomar ela de você?

—sim—afirmo de cabeça erguida—e ninguém vai tirar a minha filha de mim.

—Eu não tenho essa intenção.

Foi exatamente o que a advogada me falou quando fui na quarta conversar com ela sobre a atual situação.

—de todas as formas, temos que definir quais dias da semana você irá poder ver a Ly—falo—porque ela tem um dia bem cheio, ela vai a escola e tem algumas atividades extra escolares.

—posso ver ela aos sábados e domingos, vou me organizar, se preferir fico vindo ver ela aqui na casa dos seus pais.

Menos mal.

—ok, eu prefiro fazer um acordo amigável com você do que ir a justiça.

—eu também Maná.

Mas sei que ele não gostou disso.

—quando ela estiver mais segura eu posso levar ela para dormir na casa dos meus pais?

—se ela quiser sim.

Duvido muito que a Ly vá logo de cara querer ir a casa de estranhos.

—eu não costumo obrigar a minha filha a nada, a advogada sugeriu que você faça um exame de DNA, para que tudo seja legalmente válido.

—farei isso—Benjamim fala me olhando bastante sério—não é meio desnecessário que fale comigo feito um robô?

—eu não estou falando feito um robô—argumento—só estou pensando no melhor para minha filha.

—eu sei que eu errei com você Maori...

—isso não importa—digo—o que importa é a Ly, já ficou no passado, tudo o que temos que pensar agora é no melhor para a nossa filha.

Ele fica calado, eu sei que sente remoço, mas não me importo desde que ele faça a parte dele, disse pra eu mesma que nada nem ninguém irá ferir a minha filha, tentar afastar Benjamim dela não é certo, agora que ele já sabe que assuma as responsabilidades dele como pai e só.

—eu sinto muito por tudo Maná, eu não pensei nas coisas direito, eu tinha muitas responsabilidades na época, eu não dei ouvidos ao que eu queria, meus pais exigiam que eu fosse mais responsável e presente, sinto muito se de alguma forma eu magoei seus sentimentos.

—tudo bem—sorrio, mas isso dói muito por dentro—já passou, agora o que importa é a Ly.

Estou fazendo o que sei de melhor, usando meu orgulho como escudo, mas também, não creio que ser "amiguinha" dele vá mudar alguma coisa, de todas as formas já foi feito, está no passado, morto e enterrado.

—eu vou colocar umas roupas para lavar.

—sinto muito.

—tá.

Não da pra sentir muito depois de tudo isso, não dá para apagar nada do que vivemos nem se eu quisesse, mas ficar lembrando disso não vai me levar a nada, me afasto pro rumo da lavanderia, enquanto coloco as roupas na máquina de lavar sinto minhas faces úmidas, mesmo que eu não queira, é algo óbvio, me machuca, me faz sentir culpa por tudo o que houve, porque eu sempre soube que não daria certo, mas deixei Benjamim Hill entrar na minha vida, eu permiti que ele se aproximasse de mim física e emocionalmente.

De onde já se viu? Um homem branco, rico e bonito comigo? Uma garota negra, filha de negros de classe baixa que viveu a vida inteira nos subúrbios de Nova York? Uma bolsista? Alguém que nunca se encaixaria em seu mundo?

Como me permiti ser tão iludida?

Fui tão ingênua... só espero que tudo se resolva, e que a Ly fique bem, porque a minha filha não irá sofrer por conta do pai inconsequente, isso é que não!

—não vou permitir nunca!



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Big Love -  Amor Imenso - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora