Eu me chamo Liliana, ou apenas Lili que é como me apelidam, mas ao longo dessa trama poderei ter algum outro nome. Logo você vai entender. Eu sou morena com os olhos escuros como uma noite sem lua. Eu nasci num bairro bem conhecido da zona oeste de São Paulo-SP. Meus pais eram o que as pessoas chamavam de "ricos e felizes", mas apenas eram. Meus pais realmente eram ricos, mas felizes, eu já não sei. Pessoas felizes, pelo menos pra mim, não brigam tanto, não ofendem um ao outro. Eu digo isso porque aos meus 16 anos de idade eles tiveram uma briga feia e foi nesse mesmo dia que meu pai foi embora sem olhar pra trás. Esquecendo que tinha três filhas.
-Já chega Marta. Eu vou embora dessa casa e não se atreva a tentar me impedir.
-Mas Paulo, como você vai ter coragem de abandonar suas filhas por aquela mulherzinha?
-Acontece que eu me apaixonei por ela e ela está grávida. Você vai saber como cuidar das meninas, você tem emprego. Pode muito bem sustentar as três. Nem você e nem elas irão precisar de mim.
-Que espécie de homem você se tornou? Já não é o mesmo com o qual eu me casei e jurei perante Deus que sempre iria amar e respeitar.
-Chega Marta, já chega.
-Paulo, por favor... –Minha mãe é interrompida com um sinal de meu pai.
-Adeus, Marta! Diga adeus às meninas por mim. Se quiser pode falar que eu morri ou que eu fui um covarde que as deixei sozinhas, pode as fazer crescer com ódio do pai. Elas nunca mais irão me ver e nem você.
-Adeus, Paulo.
Meu pai se virou, pegou suas malas e bateu a porta com força ao sair.
E assim foi a despedida do homem que jurou respeitar minha mãe até a morte. Foi assim que ele nos abandonou pra ficar com uma qualquer. Foi assim que ele sumiu de nossas vidas. Ele sempre se mostrava uma pessoa boa, mas nesse dia ele mostrou quem realmente era, quem sempre foi. Pessoas não mudam, só mostram sua verdadeira versão e aquela era a versão de quem meu pai sempre foi, mas conseguiu esconder por muito tempo.
Aquela noite foi difícil para a minha mãe. Ela não sabia que eu tinha visto e ouvido tudo. Eu estava acordada no meu quarto e presenciei tudo através de uma brecha na porta do meu quarto. Minhas irmãs mais novas Alice de 3 anos e Débora de 5 estavam dormindo no quarto de cima, no segundo andar.
Quando eu olhei para o rosto da minha mãe, eu presenciei a tristeza que estava lhe dominando naquela noite. Vi seus olhos se tornarem duas portas abertas para lágrimas. Lágrimas que eram tão grossas que chegaram a pingar no chão. Vi o rosto de mamãe que era tão sorridente, se transformar num rosto melancólico, que tudo o que conseguia demonstrar naquele momento era tristeza. Tristeza por perder o homem que ela sempre amou, por ter sido abandonada de uma forma tão fria, por ter que seguir em frente sozinha com três filhas.
Sei que muitas pessoas no meu lugar teriam saído do quarto e teriam onde mamãe estava. Mas pra mim, aquele não era o momento certo de ir até ela. Não era o momento de tentar confortá-la. Era o momento de deixá-la sentir sua dor e posteriormente descobrir a força que habitava dentro dela.
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Liliane
Não FicçãoLiliane era uma garota rica da zona oeste de São Paulo. Mas que, após a separação de seus pais, começa a perder a sua mordomia. Liliane sai de casa, mas não consegue segurar as pontas sozinhas, tendo que fazer uma coisa que ela jamais imaginou que p...