Capítulo dois: Estuprado.

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Por incrível que pareça e pela distância da escola até minha casa, cheguei rápido.
Uns 10 minutos eu acho, se não menos que isso.
Estava todo molhado da água da chuva, meu estado era péssimo pra um evento tão importante envolvendo toda a cidade.
Mas tudo bem, oque importa é eu mostrar um ótimo trabalho e planejar cada passo que irei dar.
Parei a moto no grande estacionamento da escola, deixei ali meu capacete em cima do banco da mesma, e fui em direção à minha sala.
Ajeitei meu óculos e meu cabelo preto encharcado, e mesmo assim fui.
Subi as escadas até chegar no terceiro andar da escola, ali era minha sala.
E então, abri a porta dela.
O vento frio do ar condicionado soprou em meu rosto molhado e gelado, e estremeci.
Droga, esqueci de trazer minha blusa de frio.
Pensei, com raiva.
- Bom dia, Rafael Wild. Está 20 minutos atrasado.
Disse uma mulher alta, trajando roupas elegantes sociais, aquela era minha professora de física.
Certo, significa que está pra começar...
Pensei enquanto me dava conta de que todos da sala me olhavam, inclusive a professora.
Maldita chuva.
- Ah, Uhm... Desculpe, me atrasei por conta da chuva, eu sempre venho de moto, então... sabe como é.
Falei um pouco nervoso com a situação e o fato de ter chegado atrasado à aula, me desculpei com a professora e ela assentiu gentilmente e mandou que eu me sentasse.
E logo Eu o fiz.
- Ok. Bom, estou aqui para guiar vocês no processo do evento nicolas tesla, como sabem vocês terão que montar uma maquete sobre energia sem fio, e eu vou ensinar o básico á vocês.
Disse ela, e eu assenti abrindo minha mochila, pegando meu caderno e caneta, anotando tudo oque ela dizia é explicava detalhadamente, já bolando uma ideia do que eu faria exatamente.
- Ei ! Rafael!
Ouvi uma voz direcionada à mim e alguns tapinhas no braço, e então olhei pra ver quem era.
Era Josh, o garoto que estava na mesma sala que eu.
- Ô nerd! Você bem que poderia ajudar a gente! Não ?
Disse ele, enquanto seus amigos se aproximavam, me cercando.
Aquilo parecia meio intimidador...
Eles formaram uma roda ao meu redor, e olhavam para o meu caderno enquanto puxavam assunto insistentemente.
Eu não estava gostando muito daquela situação, mas não queria provocar a ira deles, então apenas os respondi.
- Claro, posso sim. Do que precisam?
Falei , tentando esconder o nervosismo que eu sentia me vendo cercado por eles.
- De tudo que nos faça sair vencedores.
Disse o outro garoto em um tom meio desafiador enquanto me olhava com um sorriso no rosto.
Mas então antes que eu pudesse responder algo, a professora notou o quanto eles me cercavam.
- Vocês aí! Sentem -se e prestem atenção na aula. Se ainda quiserem participar do evento!
Disse ela e então eles saíram de "cima" de mim, e foram para suas carteiras, me olhando com tom de deboche e um sorriso um tanto estranho.
Me assustei quando me lembrei da última vez que fui olhado assim.
Droga, droga! Mil vezes droga!
Eu estava há anos tentando nao lembrar disso, mas agora as lembranças amargas e cruéis vieram a tona.

_

Quando eu era apenas uma criança, nos meus 07 anos de idade, meus pais viajaram para visitar meu avô por parte de mãe, e como eles não tinham dinheiro suficiente pra me levar junto, me deixaram na casa do meu tio.
William wild era um homem gordo e rude, morava em sua fazenda grande e cheia de gados, galinhas, porcos e muitos, muitos cavalos.
Era meu tio por parte de pai, e não gostava nem um pouco de mim.
E porque?
Uma vez ouvi ele brigando com meu pai, dizendo que era pra ele estar casado com minha mãe, e que tinha raiva do meu pai por ter conseguido conquistá- la primeiro.
Então, meu tio tinha raiva de mim por eu ser o fruto do amor deles.
Mas bem, eu não tinha muitos parentes por perto, só William e minha avó por parte de mãe, mas ela não tinha como cuidar de mim, já que praticamente todas as suas economias eram para seus remédios.
Como ela iria me alimentar?
Meus pais então me deixaram na fazenda de meu tio, porque lá ele teria condições de me manter por alguns dias.
Os primeiros dias foram um inferno.
Meu tio era sozinho, não tinha esposa e nem filhos, na fazenda só havia ele é alguns empregados, então sem ninguém pra me defender, fui feito de gato e sapato por ele, sendo obrigado a limpar, cozinhar, lavar, limpar os estábulos e os chiqueiros junto com os empregados, e quando eles questionavam meu tio do porque uma criança como eu estar fazendo trabalho pesado, ele os mandava calar a boca, ou perderiam seus empregos, então fiz tudo sem questionar, só esperando que meus pais voltassem da viagem e viessem logo me buscar.
Minha mãe e meu pai ligavam todos os dias, e em todas as ligações meu tio dizia que estava tudo ótimo e que eu estava bem, me divertindo bastante.
Ah sim, limpando MERDA de cavalo e sendo feito de empregado.
Que ótima diversão.
Mas eu apenas concordava, e fazia tudo sem questionar. Não queria deixá-lo zangado já que ele era um homem muito rude, e também sabia que logo eu iria embora daqui e nunca mais voltaria.
E então, em mais um dia sendo feito de escravo, percebi que william me olhava de escanteio o tempo todo, às vezes sorria misteriosamente enquanto me olhava, mas eu não liguei.
E então, acabando o dia, fui até o quarto de visitas onde eu dormia, tomei um banho para tirar o cheiro insuportável do meu corpo, e fui me trocar com as roupas que minha mãe havia colocado em minha mala.
- Tão pequeno e com um pênis tão avantajado. Você é maravilhoso quando está nú, sobrinho.
Ouvi sua voz assustadora perto de mim, dizendo coisas que na época por ser muito novo, eu não compreendi,
e então assustado me cobri e olhei para ele, com o medo me fazendo passar mal, tudo que eu queria era que ele saísse dali e me deixasse em paz.
Mas ele... Não o fez.
Muito pelo contrário, ele pegou um arreio de cavalo, e se aproximou mais de mim.
- Solte as roupas ! Me obedeça moleque!
Disse ele com uma voz intimidador e cruel, me deixando com mais medo ainda.
Lágrimas caíram dos meus olhos e tudo que eu queria era que meus pais chegassem e passassem pela porta, viessem até mim e me levassem em segurança pra casa.
Eu queria que tudo isso fosse um pesadelo, porque várias vezes tentando fazer aquela cena horrenda sumir, mas não funcionou.
- VAI ME DESOBEDECER SEU INÚTIL???
Gritou ele, se aproximando ainda mais.
Chorei de medo, enquanto andava pra trás tentando fugir, mas não havia mais pra onde correr, eu estava em área rural e todos os empregados do meu tio haviam ido embora.
E tudo que havia atrás de mim era uma parede de madeira firme e inquebrável.
Cobri meu corpo infantil e nu com meus braços trêmulos enquanto chorava e sussurrei baixinho.
- M-mamãe...papai... Deus porfavor...
Sussurrei trêmulo enquanto chorava, rezando, implorando que aquilo acabasse.
Mas então, vi meu tio levantando o arreio e me surrando nas pernas.
Gritei de dor, enquanto minha pele branca corada se envermelhava por conta da força em que fui espancado com aquilo, a dor era infernal e meu grito estridente de socorro ecoou pelo quarto todo.
- CALA A BOCA !! AGORA É HORA DE COMEMORAR, VOCÊ FINALMENTE VAI PRESTAR PRA ALGO...
Disse ele, se aproximando de mim com um sorriso no rosto como o que ele me observava pela manhã, enquanto eu tentava fugir.
Mas... Não pude, não pude fugir nem me defender, eu era apenas uma criança.
Resumindo... Eu fui estuprado.
Sim. Meu tio me violou durante toda a noite, me espancando dolorosamente, enquanto eu sangrava e chorava, me sentindo impotente, inútil, um lixo descartável.
Enquanto ele me violava, tudo oque eu pensava era em morrer, matá-lo, em muitas coisas, até aquelas horas terríveis passarem.
E então no dia seguinte, meus pais vieram me buscar.
Eu me senti tão aliviado, quando os vi parecia que eu finalmente poderia respirar em paz.
meus pais perguntaram dos meus machucados e o desgraçado do meu tio inventou várias desculpas, e eles caíram.
Sobre oque aconteceu naquela noite, eu não disse nada aos meus pais para não preocupá-los e também porque William me ameaçou, ele disse que faria da minha vida um inferno e que mataria meus pais, foi aí que eu resolvi ficar na minha pra não colocar a vida deles em risco.
E então a partir daquele dia em que fui estuprado, Minha vida que já era acabada ficou ainda pior, eu não tinha amigos e minha família não ligava pra mim, a única coisa que eu tinha era meus pais.
Eles faziam minha vida ser menos entediante e triste.
Com apenas 7 anos, eu pensava em várias formas de matar, e bolava pra mim um suicídio perfeito, passava o tempo todo no quarto jogando, e não queria falar com ninguém, nem sair de casa.
Conheci o mundo pornográfico e me afoguei de vez na escuridão da minha mente, eu não comia muito e quando comia eram apenas fast food, e depois de alguns anos vivendo essa rotina, não demorou muito até que minha mãe percebesse meu comportamento diferente e solitário.
Já com meus 13 anos, ela se sentou ao meu lado e docemente me perguntou oque havia acontecido na casa do meu tio naquela semana há anos atrás, mas me arrepiei e me lembrei das ameaças dele, e não contei nada.
Minha mãe não me obrigou a me abrir com ela, e me levou à um psicólogo dizendo que seja lá o que eu tivesse, poderia ser curado e tudo ficaria bem, ela também disse que sempre estaria comigo haja oque houvesse.
Aquilo me deixou mais calmo, e eu concordei.
Já no psicólogo, passei por uma consulta onde fui gentilmente tratado e informado que se eu quisesse desabafar sobre algo, eles iriam me ajudar.
Disseram também que se fosse algo ainda mais sério, eles chamariam a polícia pra me defender e tudo ficaria bem.
Minimamente me tranquilizei com aquilo, uma chance de deixar meus pais longe das garras do desgraçado do William? Fazê-lo pagar por ter me machucado? Aquilo soava muito bem.
Não confiei totalmente, mas aceitei a ajuda e desabafei com o psicólogo, contei sobre meu tio e sobre aquela noite, e também tudo que eu fazia e sentia depois do acontecido.
Ele então, me olhou com uma expressão de horror e preocupação, e elaborou o pedido de um diagnóstico em meu nome, e alguns papéis.
O olhei sem entender, esperando que ele dissesse algo, mas ele apenas se levantou.
- Vou falar com seus pais sobre isso para te ajudarmos melhor! Tudo bem? Eu já volto.
Disse ele, disfarçando um pouco sua expressão de medo e terror.
Assenti mesmo confuso, e então vi ele se retirar.
A porta não estava longe de mim, Então eu pude ouvir a conversa dele com meus pais.
- Senhor e senhora Wild, o filho de vocês, infelizmente... É difícil dizer...
Disse ele, ainda com sua expressão visivelmente preocupada.
Droga... oque estava acontecendo comigo?
Mas bem, o mais importante agora é que eu receberia ajuda, meus pais ficarão seguros e meu tio seria preso.
Ao menos era isso que eu esperava.
- Porfavor, nos diga !!
Ouvi a doce voz de minha mãe, em um tom de preocupação, e meu pai ao lado dela estava tão preocupado quanto.
- Bom...é possível que ele tenha Transtorno de Personalidade Antissocial psicótica, pedi um diagnóstico para ter um resultado concreto, mas tudo indica que seja isso.
Lágrimas caíram dos olhos de minha mãe, e meu pai a abraçou.
Que droga estava acontecendo?
Oque aconteceu comigo?
- Meu Deus, o meu garotinho...
Disse ela, chorando.
- Oque isso quer dizer?
Perguntou meu pai, preocupado e inquieto.
O psicólogo engoliu em seco.
- Ele nasceu com essa condição de psicopatia, e ela está em desenvolvimento avançado depois de um grave acontecimento. Venham urgentemente comigo, porfavor.
Disse ele, andando à frente de meus pais para uma outra sala.
Psicopatia? Eu sou um psicopata?
É por isso então que me imaginei matando o infeliz do William sem remorso algum?
É por isso que não me importo quando vejo morte, sangue e guerra?
É por isso que estou vendo a sociedade de uma forma tão cínica? Como se todas as pessoas ao meu redor fossem lixo?
Será que é Isso? Ter sido violado me despertou um lado tão demoníaco, que nasceu dentro de mim?
- Psicopata...
Sussurrei baixo, enquanto pensava naquilo, e então logo ouvi a porta abrir e minha mãe entrar sozinha, ela me abraçou com força enquanto chorava, e eu a abracei de volta, mas eu não sentia nada.
Só conseguia pensar em mim, no que tinha acontecido, enquanto minha mãe apenas me dizia docemente.
- Meu bebê... me perdoe, eu não deveria ter te deixado lá, a culpa é minha... mas não se preocupe, William será preso e vai pagar pela maldade que fez com você.
Disse ela, então o psicólogo havia dito à eles...
Apenas assenti, enquanto visualizava em minha mente aquele crápula sendo preso e pagando pelo que me fez, pelo que me despertou.
Naquele dia fui pra casa com meus pais e a polícia nos escoltando, depois eles fizeram oque eu tanto queria: prenderam william, e então o tempo se passou.
O psicólogo entrou em contato com a minha mãe e entregou o diagnóstico confirmando o Transtorno de Personalidade Antissocial psicótica, dizendo que eu havia nascido com aquilo E que com o tempo poderia se agravar ainda mais.
Ele me encaminhou pra um psiquiatra e disse que lá eu teria bons cuidados, mas minha mãe negou.
Eu ouvi a conversa deles, e ela disse que me fazer lembrar do passado só pioraria ainda mais, falou que eu precisava tentar viver novamente o normal, e esquecer de tudo.
O homem implorou, disse que isso poderia resultar em um perigo terrível pra eles e talvez pro mundo, mas minha mãe disse que preferia arriscar a vida dela do que me fazer sofrer em um hospital de loucos.
Então, eu tentei por anos silenciar todas essas vozes em minha mente, eu já estava com 15 anos, as cenas do estupro que sofri e todas as letras da pasta enorme do diagnóstico que confirmava o fato de eu ser um demônio despertado me assombravam o tempo todo.
Mas tentei viver normalmente, voltei a estudar e acabei me apaixonando pelos estudos, era a única coisa que me distraia um pouco da minha mente tóxica.
Porém não mudei, continuei o mesmo, eu era solitário e passava horas no computador.
Mas, depois de um ano ou menos, quando meus pais saíram para o mercado, recebi a notícia de que eles foram mortos em um assalto.
Aquilo deveria me devastar, certo?
Mas não devastou.
Eu não sentia nada, só lamentei o fato de que eles eram meus pais e me ajudaram no que podiam, eles eram ótimos pais e amigos.
Rapidamente lidei com a morte deles, e mais dois anos se passaram num piscar de olhos.
Não gosto de me aproximar das outras pessoas, não sinto nada por elas a não ser desprezo e desdém, desde então, só quero estudar, ficar no meu quarto e no meu computador, eu queria estar no meu canto e levar a vida assim, fingindo ser normal, tentando viver como alguém normal, alguém que tenha sanidade.
Que talvez pareça, na verdade.

Mas, como disse o psicólogo...

A situação pode se agravar ainda mais.

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