Bruna - A semana foi de provas na escola

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A semana foi de provas na escola e Carlos Eduardo simplesmente sumiu na rotina de estudos e trabalho. Nós ficamos juntos apenas na hora do intervalo, dando uns beijinhos muito sem graça, o máximo permitido para o ambiente. Depois, eu saía mais cedo, estava entre as primeiras a terminar as avaliações, afinal, não sabia de muita coisa mesmo. Já ele era um dos últimos. Só saía depois de tentar resolver cada questão até a exaustão.

Então, ele ia para o trabalho. E eu cumpria os últimos compromissos da agenda marcada por Daniela, mas começava a ficar com medo por não ter ainda um novo agente. Liguei para vários, não sou mulher de ficar esperando decisão de mãe de ninguém. Mas estava difícil. Os bons estavam comprometidos até a eternidade e um desconhecido é sempre um salto no escuro.

À noite, eu ia para a academia ensaiar com Serginho e Carlos Eduardo, quando chegava, geralmente depois das oito, virava a madrugada estudando para as provas do dia seguinte.

Nesse ritmo, o fim de semana chegou antes que percebêssemos. Sexta, ele tinha uma festa de quinze anos na Atmosfera. Apesar da saudade, quando ele apareceu lá em casa para me convidar, não aceitei. Não achava justo com a aniversariante que pagara pela presença do príncipe da revista que ele já levasse sua própria princesa de casa.

Tive quinze anos uma vez, sei que todas nós merecemos um dia de princesa. Mesmo que a ilusão acabe à meia-noite. Ou, no caso, às duas da manhã, como dizia no contrato. Então, ele me deu um beijo e foi. Lindo no seu smoking. Encantar as menininhas. Não era um trabalho tão diferente do meu afinal.

E eu fui para cama cedo, mais uma vez, sem ele. Mas também sem crise e sem ciúmes, nem parecia comigo mesma. O cansaço e a confiança fazem isso com as pessoas, acho. Não sobra muito tempo para inventar maluquices na sua cabeça. Ou talvez os remédios estivessem ajudando de alguma maneira. Dormi como uma menininha.

Sábado pela manhã, era eu quem tinha compromisso. Comecei meu laboratório para a novela. Fui numa ONG que oferece fisioterapia para crianças cadeirantes. Nossa foi um desafio e tanto. Cheguei exausta. Subir uma rampa bastante inclinada como a que a gente comumente vê por aí levando uma cadeira de rodas não é para qualquer um, exigia técnica e força. Eu tive de fazer a mesma atividade várias vezes até conseguir.

Cheguei por volta do meio-dia, só o bagaço da laranja. Kadu me recebeu com um beijo, um sorriso, banho tomado e bermuda.

─ O Caê está aí. – Disse de maneira displicente enquanto eu me jogava sem a menor condição no sofá. – Minha mãe está nos convidando para almoçar... – Eu duvidava bastante da parte do nós. Sogrinha provavelmente convidou a ele. Devo ter feito uma careta, porque Kadu foi logo se justificando. – Você não precisa ir se não quiser... Deve estar cansada.

Sem falar mais nada, fui para o banheiro tomar banho. Tudo que eu menos precisava era uma tarde de sábado com Dona Débora depois de uma semana difícil, mas Carlos Eduardo adorava aquele irmão, mesmo que ele me parecesse um idiota. Não era justo que ele tivesse de escolher, mas também não achava certo eu perder meus poucos instantes com meu namorado por causa disso. Eu estava morrendo de saudades, toparia até um Iron Man para ficar ao lado dele, poderia muito bem enfrentar a chiqueteza de Dona Débora e as piadinhas sem graça do Carlos Henrique, já vivi coisa pior nessa vida. Além do que, eu gostava cada vez mais do pai do Kadu, Seu Vitório. Certamente, nós encontraríamos alguma coisa divertida para fazermos juntos.

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Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora