- Algumas horas e você ficará bem. Os ferimentos se fecharão logo. Volto mais tarde. - Disse a enfermeira ao sair do quarto.
- Ari... agora que ela saiu, temos qhe conversar. - Bianca se aproxima de Ariane.
Hanyel estava sentado na poltrona ao lado lendo uma revista sobre decoração de jardins.
- Como foi que bateu o carro?
- Eu... eu vi mortos saindo do chão. Eles começaram a entrar no carro, aí eu vi vocês mortos, suas cabeças penduradas...
Na poltrona, Hanyel vira a página da revista. Bianca o observa.
- O que mais, Ari?
- Ai eu não me lembro direito, eu bati num caminhão, o carro capotou e eu fiquei presa no penhasco com a perna toda machucada.
- Você bateu em um poste. Não tinha caminhão, nem penhasco.
- O menino... tinha um menino na rua, eu quase...
Hanyel vira mais uma página da revista.
- Não tinha menino, Ari...
- Mas, mas eu vi... eu vi...
- Uma ilusão! - Hanyel fecha a revista e poe sobre a mesa de canto, indo até ao lado de Ariane. - Eu e Bianca também fomos provocados.
- Vozes soaram de dentro da floresta, nós fomos ir embora, mas coisas estranhas aconteceram e de repente nos vimos tentando atacar algo e tudo sumiu... ainda tento entender o que houve.
Ariane fica pensativa, sua cabeça estava doendo, não conseguia entender direito o que havia acontecido.
- Vou ir comprar um café. Volto logo. - Hanyel diz ao sair da sala.
- Ele está estranho...
- Não entendo o motivo por qual ele não nos conta as coisas. Vou ir pegar um café também. Já volto, Ari.
- Ok, vou ficar bem.
Bianca acaricia a mão da amiga e sai da sala.- Eei, espera! - Bianca alcança Hanyel no corredor.
- Não irei falar nada!
- Hanyel!! - Bianca segura o amigo pelo ombro.
Ele se vira com expressão fechada.
- Você tem que nos falar o que sabe ou o que acha que está acontecendo.
- Tem coisas que eu não devo falar.
- E por qual motivo, não deve falar?
- Por segurança!
- Você esqueceu que nós somos como irmãos? Devemos contar tudo uns para os outros.
- Algumas coisas devem se manter em segredo.
- Desde quando algo que pode nos matar, deve ficar sem nosso conhecimento?
- Um dia eu jurei...
- Você jurou proteger, mas se não nos contar as coisas, como acha que irá fazer isso?
- Eu não vou dizer mais nada para você!
- Ótimo! Será melhor assim!
- É incrível como sua cabeça só regrediu de um tempo para cá.
Bianca se cala, estava olhando fixamente nos olhos de Hanyel. Ele solta os cabelos que caem sobre seu rosto.
- Vá buscar seu café, voltarei para o quarto.
- Hanyel...
- VÁ BUSCAR SEU CAFÉ! - Ele grita, fazendo o corredor tremer.
Dá as costas para Bianca e volta para o quarto com Ariane.
- Não precisa ser assim... não precisava.. - Bianca abaixa a cabeça.Ao abrir a porta do quarto, Ariane olha para o amigo assustada.
- Vocês sempre discutiam... mas agora...
- Bianca está se tornando ignorante! - Ele fecha a porta.
- Não, Hanyel. Ela também quer saber, sempre é a última a saber dos perigos.
- E como ela não procura saber. Você sabe do que ela é capaz, sabe que ela tem força e poder suficiente para saber de tudo.
- Mas nós somos irmãos!
- Nós não somos mais como antes. Você está diferente, Bianca também.
- Você...
- Não para de trabalhar! Quando foi que nós ficamos um fim de semana todos juntos?
- Não tive escolha, é o meu trabalho!
- Você escolheu sim! Escolheu nos trocar por aquela delegacia!
- É o meu trabalho! O que quer que eu faça?
- Quero que você dê mais valor para aqueles que te ajudaram a alcançar um de seus sonhos. - Hanyel vai em direção de Ariane.
Ela se assusta e o afasta com sua cinese.
- Então é assim? - Hanyel diz ao pegar cartelas de remédio de seu casaco.
- Você também mudou!
- O que quer que eu faça? - Hanyel pega alguns comprimidos e toma. - Eu sou um doente... minha cabeça não mais a mesma.
Ariane abaixa a cabeça. Seus olhos acompanham o amigo que se senta na poltrona e fecha os olhos.
- Está com dor? Eu também estou...
Hanyel suspira fundo.
- Eu não queria isso... - Uma lágrima brota de seu olho e corre por seu rosto, ele a enxuga.
- Nenhum de nós... - Ariane estica a mão para a cortina na janela e a fecha. - A claridade não é boa para a dor de cabeça.
- Obrigado...
- Não tem de quê... - Ariane deita sua cabeça no travesseiro e também fecha os olhos.- Filho... - Uma voz soa na escuridão. - Meu filho...
Hanyel se vê em meio a um salão escuro.
- Você não pertence a escuridão... ainda não...
- Mãe? - Hanyel diz olhando para os lados. - Mãe... é você?
Um grande espelho aparece em frente de Hanyel. Ele se aproxima. Uma mulher loira de olhos azuis aparece ao lado dele no reflexo.
- Mãe... - Hanyel começa a chorar. - Eu te amo, mãe.
- Não chore, meu amor...
- Eles tiraram você de mim.
- Era minha hora, filho.
- Não, não era.
- Você sabe que tudo tem um motivo. E olha só... quem você se tornou... um grande professor, um homem lindo, um grande bruxo. Não era isso que você queria?
Hanyel abaixa a cabeça, ele sente sua mãe tocar em seu rosto.
- Não deixe suas irmãs sozinhas, não agora, no momento que elas mais precisam de você.
- Eu não posso falar o que acho que sei.
- Não... mas pode fazer algo para isto.
Ele se cala e sente que sua mãe estava indo embora.
- Mãe...
- Filho...
- Diga ao meu pai... que quero que ele fale comigo.
- Seu pai desapareceu quando você ainda era pequeno, meu amor.
- Não este pai... eu falo de...
- Ele sabe a hora de aparecer. Os dois sabem a hora certa.
- O que diz?
- Não tenha medo do que lhe aguarda...
- Do que está falando, mãe?
- Não sinta medo...
A mãe de Hanyel põe a mão no vidro e uma luz surge, ela aumenta e toma o corpo de Hanyel que sente um calor fluir por suas veias. Ele ouve gritos.
- Hanyel!!! Hanyel!!!
Uma dor alucinante toma seu corpo, estava queimando. A luz era intensa, era quente... era horrível.
Seus gritos não saiam, seu corpo doía.
- Hanyel! - As vozes gritavam melancólicas.
- Hanyel!!
- Hanyel.- Hanyel, acorda!
Ele salta da poltrona assustado, seu coração palpitava. Estava suando frio, Bianca estava ao seu lado com um grande copo de café com creme.
- Comprei um café para você! - Bianca deixa ao seu lado.
Hanyel respira fundo, se levanta e abraça Bianca.
- Eu fui um idiota... - Ele diz no seu ouvido.
- Eu sei... eu sei... - Bianca o abraça forte e sorri para ele.
Ariane abre os braços e pede um abraço. Hanyel a abraça também.
- Prometam-me uma coisa. - Disse para as duas. - Quando eu se for, vocês duas vão cuidar uma da outra, mais do que hoje.
- Do quê está falando? - Ariane diz.
- Eu... eu vi minha própria morte... novamente.- Como é??
- Ele não previu a primeira morte, ele previu a última! - Disse Ariane.
- Eu sempre achei que havia previsto minha morte nos campos, mas...
- Não, Hanyel. Foi apenas um sonho, você não vai morrer! - Bianca diz com as mãos na cabeça.
- Da última vez foi a mesma coisa..
- Merda! - Bianca e Ariane dizem juntas.
- A luz que queima, novamente? - Ariane pergunta.
- Sim, mas eu ouvia gritos clamando meu nome.
- Por favor, não vamos falar mais disto.
Todos se calam, uma enfermeira aparece na porta.
- Com licença! - Disse ela, que deixou uma caixa no colo de Ariane.
- O que é isto? - Ariane pergunta.
A enfermeira calada sai do quarto e vai embora. Sem saber do que se tratava, Ariane pega a caixa.
- Um presente de Leonard? - Bianca pergunta rindo.
- Talvez! - Ariane abre a tampa e vai retirando o tecido de seda negra que cobria algo.
- Que cheiro de mogno! - Hanyel fala ao ir até perto de Ariane.
- Seu faro com madeira e coisas e tais me irritam as vezes.
- Calada, Bianca. O que está aí dentro?
Ariane retira a última camada de seda, suas mãos começam a tremer, seus olhos assustados perdem o brilho.
- Tirem isto daqui! - Ariane grita e lança a caixa contra a parede.
- O que houve? - Bianca abraça a amiga
- Tirem isto daqui, por favor!
- Calma Ari, calma... - Bianca a confortava.
Hanyel caminha até a caixa caída ao chão.
- Minério... - Diz sentindo um cheiro no ar.
- Anda logo, o que é isto? - Bianca diz.
Ele tira a caixa do chão e dá um passo para trás, se afastando do que havia ali.
- Malditos...
- O que é, Hanyel? - Bianca vai até o lado dele.
Ariane chorava, começou a sentir dores em seu abdômen, apertou o botão chamando uma enfermeira. Bianca se aproxima da caixa e põe as mãos na boca.
- Não é possível... - Bianca se afasta.
No chão estava um instrumento de dor e de más lembranças. O punhal de Margareth, ainda manchado de sangue.
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Além da inquisição
FantasyTreze anos se passaram após a grande explosão que deu fim aos Campos de Inquisição. A raça dos bruxos está se extinguindo. Os três bruxos, aprendizes da Necromante, cresceram e se tornaram bruxos extremamente hábeis e poderosos, mas alguns problemas...