Capítulo IV

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Já havia se passado um mês e o desemprego em São Paulo estava horrível. Muitas empresas estavam falindo e a da minha mãe foi uma dessas. A minha mãe estava segurando as pontas até então. Eu tive que aprender a cozinhar, passar e lavar. Fazia tudo enquanto mamãe trabalhava. O nosso nível social caiu bastante. Já não tínhamos a vida luxuosa de antes. E todos os meus amigos começaram a sumir da minha vida, por eu não poder mais bancar as saídas sozinha. As coisas vinham apenas piorando cada dia mais. Na empresa, o salário de quase todos os empregados foi reduzido em 30%, inclusive o de mamãe.

-Liliane, precisamos conversar –Disse minha mãe sem demonstrar uma expressão qualquer- Me espera na biblioteca, estarei lá em 30 minutos.

-Está bem, mamãe. –respondo um pouco assustada.

Minha mãe sai e vai em direção a seu quarto, enquanto eu vou pra biblioteca.

Ao chegar à biblioteca da nossa casa, eu pego um antigo livro que lia com meu pai. Eu me lembro como se fosse ontem, meu pai me contando histórias para eu dormir e jurando que se eu fosse boazinha, os personagens bons do livro, iriam aparecer para brincarmos juntos.

-Filha. -Chega minha mãe interrompendo meus pensamentos- Meu amor, precisamos conversar seriamente sobre o que vai acontecer conosco daqui pra frente.

- O que houve mãe?

-Acontece que a empresa está quase falida. Nós não temos mais o dinheiro que tínhamos antes. Não temos a vida que tínhamos antes do seu pai nos abandonar. E não adianta continuar tentando maquiar isso.

-O que a senhora quer dizer com isso?

-Liliane, nós precisaremos nos mudar. Vamos para um bairro mais humilde e eu vou conseguir outro emprego. Mas não será um bairro parecido com o nosso, será uma espécie de comunidade.

-O QUÊ? A SENHORA ENLOUQUECEU? QUER NOS LEVAR PRA UMA FAVELA?

-Não grita comigo, eu sou sua mãe. E não é uma favela, é um pouco melhorzinho do que uma favela. Mas não chega a ser uma.

-Ai mãe, o que aconteceu conosco?

-Talvez seja uma provação divina, querida.

Minha mãe sempre foi religiosa. Ao contrário de mim. Eu acreditava e tudo, mas não frequentava muito a igreja, nem nada do tipo.

-Quando vamos nos mudar?

-Provavelmente dentro de uma semana.

-Mas em tão pouco tempo, mãe?

-É o que temos, Liliana.

-E a nossa escola, como vai ficar?

-Você vai estudar numa escola pública e suas irmãs também.

-Vou começar a arrumar nossas coisas então.

-Está bem, querida.

Algum tempo depois, a minha mãe foi conversar com minhas irmãs e falar com elas sobre a nossa mudança. A minha vida estava indo por água abaixo. Já não tinha todos os amigos que tinha, havia perdido meu pai pra uma vadia e agora estava indo morar numa favela. Mas isso era pouco pra tudo que a vida ia me fazer passar.

LilianeOnde histórias criam vida. Descubra agora