Smithereens of a soppy soul

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Nessa aula, eu sequer tenho o luxo de conseguir prestar atenção em coisa alguma; o que, de certa forma, é uma afirmação óbvia; afinal, tem um gigante na minha frente.

- Poderia dar licença? - Falei, porém, creio que nada tenha sido escutado.

Ele parecia meio sonolento hoje e os olhinhos quase fechados o deixava mais adorável.

A partir do quarto período, ele resolveu tirar um cochilo. O que, de fato, colaborou com a minha necessidade de enxergar a lousa com a matéria. Mas, que saco, esse garoto gosta de prender minha atenção?

No sexto período, ele acordou, se virou e indagou algo:

"Ei, chibi, por acaso você tem uma caneta para me emprestar?"

- Antes, meu nome não é chibi, gostaria de que parasse de me chamar assim. - Suspirei. - Sim, tenho.

- Claro, claro. Isso quer dizer que você vai me contar seu nome, certo? - Sua fala me fez refletir sobre o fato de que não havia feito esforço para revelar meu nome.

- É, certo... Sou Jill, é um prazer, senhor gigante. - Ironizei, imitando e usando do mesmo veneno que em mim era atirado.

Ele levantou uma sobrancelha de surpreso por eu finalmente ter cedido e revelado meu nome. Não era saudável ficar de clima ruim com alguém que seria seu colega pelos próximos cinco anos.

Depois que disse meu nome, ele abriu um enorme sorriso, o qual era tão encantador. E ele continuou a me lançar olhares, o que fez-me corar levemente. Isso parece ter agradado-o.

- E você, como se chama?

- Ah, é um prazer, chibi. Me chamo Kaya.

Aquilo me deu um tique, eu já tinha dito meu nome e ele continuou por chamar-me de chibi. Entretanto, deixei passar, somente por ter me distraído com o charme que possuía seu nome.

Meu segundo dia como residente em Tokyo, piorava, apenas. Depois de aulas sem ampla visão da lousa e sim das costas de um gigante, agora tinha, por obrigação, que procurar um lugar para hospedagem.

Vamos, google, você sempre me salvou; não mude isso hoje.

A aula já havia acabado há quase uma hora e, no momento em que o sinal tocou, eu corri até biblioteca, logo começando a pesquisar onde haveriam apartamentos e lofts disponíveis. Mesmo que estivessem, os endereços, em japonês.

Ao menos, entendo um pouco dessa língua tão diferente. As letrinhas, ou melhor, os desenhos, são um caos para minha visão. Mesmo assim, consegui entender o que estava escrito.

- Avenida Tung com Avenida Ise Jingū. Oh, próxima a Universidade. Será essa! - Murmurei enquanto anotava o endereço pronto para usar o serviço de mapas virtual.

Digito o endereço, o segundo passo é só seguir; bem, seguir em meio a um trânsito caótico e a japoneses apressados andando pelas calçadas, de qualquer forma: só seguir.

Às vezes, analisando as pessoas que passam, percebo o quanto elas não são semelhantes aos catarinenses que sempre estavam sorrindo ou passavam conversando com alguém, seja do lado ou pelo telefone; aqui, são de maioria sérios e centrados, até mesmo ao andar na rua.

Saudade agora não, por favor.

Olhei o celular, o caminho traçado pelo aplicativo parece ficar mais longe a cada minuto. Acho que posso ter errado a trajetória.

E, como sempre há um meio de piorar, senti alguns pingos em minha mão e já sabia o que era.

Chuva.

Gist of DewOnde histórias criam vida. Descubra agora