Capítulo Final

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Pressiono os meus dedos envolvo da bola siliconada anti-stress, depositando naquele pequeno objeto todo o meu nervosismo e raiva e decepção. Uma, duas, três... Vezes demais para serem contabilizadas.
Eu estava próximo do momento de ir embora e o pavor me assustava a cada minuto passado naquele lugar com cheiro de antisséptico. A Suzana, psicóloga da equipe disse que eu deveria apertar aquela bolinha toda vez que o ódio e medo se apodera-se de mim, que aquilo podia ajudar a melhorar o meu mal-humor dentro e fora dos gramados.
Achei uma puta bobagem a princípio, mas me afeiçoei tanto naquele modo que acho que ele foi um dos maiores responsáveis por me fazer segurar a barra nos últimos meses.

- Está estressado ultimamente. -ela não diz, acusa achando-se notoriamente correta. Possui uma caneta em suas mãos e a rodopia por seus dedos enquanto me olha fixamente.

Rolo os olhos pela superfície esbranquiçada daquela sala. Tanta limpeza e perfeccionismo me assustam. - Não faço ideia do quê a senhora está falando. -minto.

- Você sabe que não precisa se fazer de desentendido comigo, Paulo. Eu o acompanho durante anos e conseguimos superar o seu trauma com os flashes, não se lembra? Eu sou sua amiga. -deixa o bloco de papel largado a mesa e me encara passívelmente.

- Ã... Eu estou bem, Suzy. Sério.

Ela suspira. - Fiquei sabendo que você terminou recentemente. -me contorço na cadeira, meio aéreo e nervoso. - Sei o quão devastador um término pode ser e o quão prejudicial essa raiva é para dentro dos gramados. Mas você não é o primeiro a passar por isso, se quer saber. Alguns de seus companheiros também já tiveram tal momento de fúria. Bonucci, Khedira... Eu os ajudei e posso ajudar você também se me deixar entrar.

Apoio a minha cabeça de lado, sob o meu braço escorado no braço da poltrona. Ninguém pode me ajudar. - Eu não faço a mínima ideia do que está dizendo. -reviro os olhos. - Todo este drama é por causa do carrinho que eu dei em Bonucci no último clássico contra o Milan? Se for, não precisa se preocupar. É normal que traidores sejam machucados quando devem ser.

- Paulo! -ela apoia as suas mãos sobre a mesa amadeirada, irritada. - Não deveria guardar tanto ódio dentro de si.

Balanço a cabeça, ameaçando me levantar.

- Nós já acabamos por hoje ou você tem mais uma dessas suposições midiáticas para jogar sobre mim?

Ela busca o ar por um instante e antes que eu vá embora de vez, vejo-a procurar algo por uma das gavetas de sua mesa e tirar de lá uma espécie de bolinha de silicone. Uma daquelas anti-stress.

- Vamos começar com calma. -retruca, entregando-me o objeto. - Toda vez que você sentir a raiva domina-lo, aperte isto. Ok?

Relutante, seguro a bolinha e a aperto sentindo algo meio estranho por entre os meus dedos. Aperto mais uma vez e duas e três e respiro fundo, até me dar conta de que ela está fazendo anotações sobre os meus movimentos.

- Posso ir agora?

Parece satisfeita. - Até a próxima consulta, Paulo!

As pontas de meus dedos começam a se relaxarem a cada vez que eu aperto a bolinha. Trouxe-a junto a mim para a viajem, e acho que nem mesmo consigo mais ficar sem ela por perto tendo a vida caótica que levo. É como um mantra.

Algumas pessoas estão gritando e chamando por nossos nomes do outro lado da faixa que foi erguida no saguão do aeroporto enquanto esperamos nossos vôos distintos para regredimos á nossos países de trabalho.
Não consigo evitar o nervosismo me atingir a medida que aquele amontoado de pessoas vai ficando um pouco maior. Mais até do que quando a seleção deixou o hotel horas antes.

KATRINA | DYBALA ✨ Onde histórias criam vida. Descubra agora