PRÓLOGO

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                       Ela sente o vento tocar-lhe o rosto, em passos desesperados para completar a travessia. Olha várias vezes para trás, para ver se ele estava próximo, e um pouco de alívio surgia em seu interior quando via-se distante dele. E entre a temperatura gélida, sente o calor do hálito maldito percorrer até sua nuca. Ele está próximo.
                      Enquanto corre, ofegante, tropeça nos obstáculos que insistem em prejudicá-la. Cadáveres. Muitos corpos mutilados, muito sangue. Sangue que deixava o ambiente ainda mais macabro. Não se distinguia o solo nem terra, nem pedras. Somente braços, pernas, cabeças e dedos soltos.
                     Ela tinha que ir mais rápido ou seria a próxima, mesmo com as pernas roxas e inchadas de tanto esforço, tinha que salvar o que levava nos braços enrolado a uma manta.
                      - Acha que vai conseguir?! Acha que sou qualquer coisa?! Vou ter o maior prazer em quebrar todos seus ossinhos e dessa coisa que insiste em proteger! - sua voz grave e distorcida ecoa ameaçadora.
                      Ouve-se gargalhadas macabras, que arrastam fúria de trevas para perto dela, que buscava camuflar-se nos corpos empalados em troncos em pé e de ponta cabeça. Sentia medo. Tremia descontroladamente e sua cabeça latejava, deixando a sensação de que à qualquer momento poderia explodir. E se não conseguisse?
                      - Quer brincar? Vamos brincar. Veja ao seu redor?! Estava brincando com eles, mais, eles resolveram... bem, te ajudar. E você, os fará companhia. O que acha? Meus amigos irão ser seus, e a dor miserável que sinto cada minuto também será sua. Você me transformou um monstro!
                      Ele está ali. Insano. Procurando por ela com olhos assassinos. Negras nuvens espessas tocam o corpo de belas curvas dela que aperta ainda mais o que tinha nos braços. E no meio das trevas daquele lugar, surge a solução. Sem pensar duas vezes, ela corre. E ele a viu.
                      Correndo, ela quase foi alcançada pelas garras negras que a desejavam esquartejada e desalentada até chegar na ponta do abismo que delimitava aquele lugar. Pulou. Deixando para trás gritos assombrosos e penetrantes:
                     - Eu vou te achar, cedo ou tarde! Voce tirou de mim o bem mais precioso! não perecerei sem antes me vingar! Sem antes torturá-la e matá-la. Guarde bem minhas palavras!
                     Vendo-se salva chorou, enquanto voltava a dimensão que lhe pertencia. O pesadelo, a tortura, a dor que sentiu durante todo esse tempo finalmente acabou. Faria de tudo para que ele nunca as encontre.
                      - A Senhora está bem? - Um de seus subordinados, pergunta.

                      - Foi por pouco. Se não tivesse abrido o portal naquele instante... - Ela chora, e seu corpo estremece ao lembrar.
                      - Fique calma, Senhora, soubemos do acontecimento e deixamos todos os portais abertos. Agora a Senhora está segura. Não permitiriamos que algum mal lhes acontecesse. 

                     Com o coração ainda acelerado pela adrenalina, o corpo sanguinolento pela chacina que presenciou, ela sentiu um pouco de paz. E no solo liso de seu lar, levantou a manta que cobria seu lindo bebê que dormia suavemente.

                       - Ele nunca a fará mal, meu amor. Você é a escolhida...

A Princesa do Mar - O Medalhão dos DeusesOnde histórias criam vida. Descubra agora