Maio de 2008, A CHEGADA DOS GÊMEOS

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Era uma manhã calma. O mar mostrava-se agitado, avançando sobre a margem como um animal feroz que salta em direção a sua presa. Marina não entendia o motivo de tamanha perturbação.
Suspirou.
Estava na cozinha lavando alguns legumes para o almoço, que quase sempre era preparado bem cedo, e com leveza movimentou as mãos e os dedos no ar. Como magia, a água que fluia da torneira tomou forma, pequenos tentáculos azuis e transparentes saiam dela de acordo com as ordens dos dedos de Marina.
Ela o dominava com tanta agilidade, que de seus olhos refletiam um brilho, não o simples brilho que uma lágrima reproduz, mas, o brilho do olhar de quem se ama intensamente algo. a água é para Marina como um cãozinho é submetido ao seu dono. O que lhe ordenava silenciosamente, o mar fazia.
Aquele momento tão repetido nos dias anteriores, fora interrompido, como nunca antes, por alguém que bateu na porta. Era uma moça jovem que aparentava uns 20 anos, estava suja e sua roupa tinha inúmeros rasgos onde ocultava a cor e a beleza original do vestido. Estava parada na porta com ambos braços vermelhos por segurar duas coisinhas cobertas com mantas mofadas e escuras que vez ou outra mexiam.
- O...oi, por favor deixe-me falar com a dona dessa casa. Por favor... - A moça tremia, tinha nos olhos o mais escuro dos negros, corpo formoso, algo visível dentro do trapo que era obrigada a chamar roupa.
- Tudo bem, sente-se fique á vontade, irei chamá-la. - Enquanto a mulher sentava num dos sofás da sala, Marina corre rapidamente até a cozinha cuja mãe preparava o almoço. Ela estava preocupada com a moça, sempre fora generosa. Porém, o que mais a intrigava era o que a mulher carregava. "o quê seria?" pensava ela, poderia ser qualquer coisa, porém, nada a havia cativado com aquilo que a mulher segurava.
- Mamãe! - gritou Marina ao chegar na cozinha - uma moça está na sala e quer muito conversar com a senhora. Por favor, mamãe a ajude, ela está mal.
Marina não podia imaginar como aquela moça poderia ter vivido, parecia ser desprovida de riqueza, parecia não ter comido a dias. Marina sente lágrimas encherem seus olhos por pensar que um ser poderia sofrer ao relento, sem comida. Se fosse o caso, ela ajudaria aquela moça mesmo que renunciasse a todos seus bens.
- Diga que já vou deixe só eu... como disse? Ela está mal?
- Sim mamãe, está muito magra. Ela está muito suja e...
- Por que não me disse antes minha princesa, vamos nesse momento ao encontro dessa moça.
Ao atravessar a sala e ficar diante da mulher, Amelie a levanta e a cumprimenta com muita formalidade. Respeito era uma de suas melhores qualidades. Com carinho perguntou se poderia levantar o manto que ela levava, a moça consentiu, sem que Mar visse, Amelie, com certa surpresa entendeu o que era, e pediu que Marina fosse buscar uma cesta grande.
Com rapidez a menina apanhou a primeira cesta que viu no depósito e retornou a sala. A moça pôs o que levava nos braços dentro da cesta cuidadosamente, e junto a Amelie dirigiram-se para o pequeno cômodo próximo a cozinha usado como escritório depois de Marina receber a ordem de vigiar a cesta.
Após sentar-se próxima a cesta, Mar a observa com curiosidade, até não mais resistir, puxada pela "coisa" que gemia e se moviam freneticamente na cesta grande no sofá. Ao levantar o manto que a impedia de ver o conteúdo da cesta, Marina sentiu um choque benigno percorrer por suas veias, nunca teria passado pela sua cabeça ser algo desse tipo, "Minha nossa!" pensou ao analisar o que continha na cesta: um casal de gêmeos.
Sem palavras, Mar é perfurada pelo olhar doce da menina que ao ver o rosto da moça quase adolescente que a vislumbrava, cessou a vontade de chorar que seus gemidos antecediam e exibia um sorriso com 8 dentinhos de leite na parte superior da boca e 5 na parte inferior, com o sexto ainda em crescimento. Seu coração debatia-se no peito, criaram um laço em segundos. Um laço que não se romperia facilmente.
Nos olhos negros do garotinho, firmeza florescia do início das pupilas até a parte branca o que alertava-o para qualquer perigo mesmo sendo pequeno demais para se proteger. O que fez ela se apaixonar a primeira vista por aqueles seres tão pequenos e seguros.
Iria no futuro, com certeza, recordar nitidamente dos rostos gordinhos das crianças que ali estavam. Rostos tão semelhantes que transmitiam personalidades diferentes. Nunca mais se desgrudaria deles, se isso acontecesse seria como uma planta arrancada de sua terra, impedida de florescer.
Jurou ela naquele momento tão íntimo com aqueles gêmeos, ela não queria deixá-los. Como uma pequena formiga precisa da outra para sobreviver, Marina precisa deles. "Como isso poderia ser possível? Nunca vi aqueles bebês em minha vida e já tenho formado um laço fraternal. Não posso deixá-los ir. Não posso." Tinha medo que a mãe mandasse a mulher ir embora e levasse seus filhos. Tinha medo de novamente ser arrancada de alguém que ama, como seu pai.
Tem breves lembranças de alguém aconchegante segurá-la próximo ao peito que batia rapidamente. Mais o momento leva poucos minutos e depois, se encontra no colo da mãe. Seu coração doía, latejava só de lembrar da separação com seu pai, e, doía mais ainda, se isso se repetisse com aqueles gêmeos.
Lembranças estas dolorosas, o que leva Mar apertar forte as pálpebras delicadas e levemente úmidas pelas lágrimas que teimavam em descer. Não conheceu seu pai, mais em um canto lacrado e secreto do seu coração, o ama intensamente.
Isso repete-se, agora com pequenos e indefesos seres. Também não os conhece, nem sequer sabe o nome de ambos mais sente o peito doer de afeto e amor. Não deixaria que eles fossem embora. E se fossem ela iria junto.
Porém melhor do que ninguém, Marina tem convicção do enorme coração que pertencia à sua mãe. Se qualquer coisa que poderia ser feita para ajudar alguém necessitado ela faria sem medir esforços.
Marina fazia preces silenciosas, esperando ser correspondida pela força do pensamento, enquanto fitava as crianças que olhavam para ela com inocência e dúvida. Queria que eles ficassem com ela. Nunca quis tanto uma coisa como naquele momento queria a presença dos gêmeos.
Poucos minutos depois, Amelie sai do escritório, com a expressão bondosa e séria de sempre. Sendo seguida pela moça, que Marina ainda não sabia o nome. Ela estava feliz, com o semblante aliviado, satisfeito.
Algo na expressão da moça acalmava Marina, de um jeito inacreditável. Como se fosse a leve correnteza do mar a levando para seu mundo, isso sempre a acalmava. Será que era o mesmo que ela estava pensando?
- Filha - anuncia Amelie - Esta é Diana, ela passará alguns dias conosco. E com ela, o casal de gêmeos que são seus filhos.
Mar não tem palavras para agradecer, sua língua trava e a mandíbula não se move mesmo com seu comando. No seu interior, acontecia um show de fogos de artifícios.
Ela estava escutando bem? Teria mais gente na casa senão elas duas? Teria alguém, aliás, algumas pessoas para brincar, amar e conviver? Era a melhor notícia que Mar teve desde muitos anos. Finalmente quem ela ama não seria arrancado dela repentinamente. Ela poderia jogar todo o amor que estava guardado a espera do pai, para aquelas crianças. Sentimentos maravilhosos transbordavam no peito de Marina, como um religioso ao encontrar o paraíso. "Eu irei amá-los com todo meu amor e carinho. Para sempre." Pensou Mar.
- Obrigada Senhora, eu... realmente precisava de um teto para meus filhos. Bendita hora que o barqueiro me disse que a senhora precisava de alguém para servi-la. Prometo não prejudica-las em nada e nem fazer algo que me desmereça da sua boa vontade. Obrigada.
- Não fiz mais que minha obrigação. E estamos precisando uma da outra. Você de uma casa, comida, roupas e calçados, e eu de dividir os afazeres dessa casa gigante. É uma tortura limpá-la. E por gentileza, diga-me o que sabe fazer?
- Estou aqui para ajuda-la no que precisar. Eu lavo, passo, costuro, limpo e sou ótima cozinheira!
- Maravilha! Você veio na hora certa. E suas crianças podem fazer companhia minha princesinha. Não é meu bem?
- S-sim... e-eu vou ficar muito feliz com eles. - disse Mar trêmula, ainda processando a informação mais feliz da sua vida.
- Ótimo. Diana - Amelie volta a olhar para a moça singela - Tem três quartos vazios no andar superior, acomode-se. Em poucos dias irei providenciar berços para seus bebês. Até lá, tem que deixá-los na cesta. A medida que forem crescendo iram ocupar os outros quartos. Sinta-se em casa. E em família.
- Senhora não é necessário que eu fique em um dos cômodos da casa. Posso ficar em uma despensa pequena nos fundos da casa. Deixe os quartos para seus familiares e visitas.
- Mas de jeito nenhum! Você agora é da família, e eu não recebo muitas visitas, a imensidão do oceano não deixa quase ninguém vir nessa ilha. Depois do que passou, com certeza quer respeito. E seus pequenos não devem crescer limitados na minha casa. Quero vê-los crescendo como se fossem meus filhos. Está decidido. Deixarei algumas roupas minhas para você no guarda-roupa e separarei algumas de Marina quando bebê para seus filhos. Qual são os nomes desses pequenos adoráveis?
- Eles se chamam Andrew e Andressa. São gêmeos idênticos. Meus tesouros. E mais uma vez, obrigada senhora Amelie.
- Que isso, não precisa agradecer. Marina irá mostrá-la a casa.
Então deu certo. Suas preces foram ouvidas, seus desejos realizados e sua felicidade garantida. Marina faria aquelas duas crianças as mais feliz do mundo, pensava Marina. Só o destino mesmo para levar amor onde havia rancor, no coração de Marina. Mas havia algo estranho, uma sensação que Mar não poderia explicar, seria obra do destino ou aquelas crianças que acabaram de entrar permanentemente em sua vida tinham um objetivo?
















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⏰ Última atualização: Oct 08, 2018 ⏰

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