28 - Enfermaria

930 107 7
                                    

  Passei os dedos na capa empoeirada do livro, não foi muito fácil fazer a Olívia deixar a gente emprestar ele como um livro normal, apenas assinando um documento de responsabilidade. Mas conseguimos. Agora, por incrível que pareça tínhamos cinco minutos até a próxima aula, e por isso dá tempo de lermos a história que está no livro. Tomará que tenha revelações boas...
  - Alícia... - Escutei Mallya chamar meu nome, me tirando de meus pensamentos, quando me voltei para a mesma vi a palidez que tomara seu rosto.
  - Mallya você tá bem? - Perguntei pondo minha mão em seu ombro, agora do lado de fora da biblioteca, Mallya apoiou as mãos na parede e negou com a cabeça fechando os olhos com força. Estava escorrendo alguma coisa de seu nariz.
  - Mallya seu nariz... - Falei preocupada e ela passou a mão embaixo do nariz, os dedos voltaram com sangue.
  - Eu não estou conseguindo esxergar direito... - Mallya sussurrou cambaleando, alguém parecia se aproximar de nós duas.
  - Oi meninas! - Disse Taehyung, antes que eu dissesse mais alguma coisa, e Mallya caiu.
  - Mallya! - Chamei assustada, assim que fui tentar segura-la, Taehyung se adiantou e a pegou nos braços. Em seguida a segurando no colo.
  - O que aconteceu com ela?!! - Indagou Taehyung e eu me aproximei dos dois para pegar o pulso da Mallya, coloquei o dedo indicador sobre a veia dela e senti a palpitação do coração.
  - Acho que desmaiou. - Falei ao confirmar que ela estava desacordada - Vamos levá-la pra enfermaria. - Falei pegando a mochila da Mallya que tinha caído no chão e Taehyung ficou pensativo.
  - Acho melhor não irmos os três. - Avisou Taehyung e eu franzi o cenho preparada pra retrucar um comentário de preocupação, mas ele acrescentou - Eu levo a Mallya, mas você precisa ir pra sala avisar que a Mallya desmaiou pra professora não nos dar detenção. - Quando terminou de dizer, que eu compreendi, então eu suspirei pesadamente.
  - Promete pra mim que vai cuidar dela. - Pedi e ele assentiu. Fomos até o final do corredor e logo depois nos separamos. Eu fui pras escadas para chegar à sala de aula e Taehyung foi para outro corredor, destinado a enfermaria.

- Taehyung on -

  Deitei o corpo da Mallya na maca e coloquei um travesseiro embaixo de sua cabeça. Ela estava ainda mais pálida que antes, e ficava tremendo.
  - Mallya acorda... - Pedi me aproximando, a enfermeira tinha saído pra buscar um medicamento pra Mallya, ela disse qe poderia ser cansaço ou estresse que gerou que Mallya desmaiasse, mas eu não tenho certeza. Parece ser mais que uma simples coisa humana. Será mesmo que a Mallya é humana? Se bem que eu nunca vi ela fazer nada sobrenatural, e ela também acha que é uma humana, então acho que ela não tem como ser uma sobrenatural... Sinceramente não sei.
  Fiquei observando seus atos serenos, o busto dela subia e descia com muita calma, ela parecia estar respirou fundo, ou fraco demais. Não consigo identificar. Será que ela está com dor? Sei lá o que será que um ser humano normal sente depois de um desmaio?
  Olhei para a porta pra conferir se ela estava fechada, e então me voltei para Mallya. Se ela estiver com alguma dor... Eu posso tirar dela. Meu lado celestial pode tirar a dor dela. Eu só preciso ter contato mais próximo...
  Me sentei na beira da cama e puxei Mallya pros meus braços, pondo sua cabeça e ombros sobre o meu colo, numa forma de tentar segura-la de uma maneira confortável.
  Levantei seu tronco e a fiz quase se sentar, me inclinei um pouco e então toquei sua boca na minha. Me concentrando em puxar para mim a sua dor, pra tirar caso ela não esteja bem. Senti uma fisgada no peito assim que comecei, o que comprovou minha suspeita de que ela poderia estar com dor. Envolvi minha boca na dela que estava morna, acariciando seu rosto e pressionando nossos lábios e a parte que eu menos gostava desse momento de tirar a dor me invadiu nas veias como se fosse uma corrente elétrica. Em certos graus em que a dor é um pouco elevada eu sinto as sensações ou posso receber algumas lembranças, das que mais marcaram a vida da pessoa na qual eu estou tirando a dor, elas são passadas pra mim, junto com o modo que o toque se intensifica. Como agora, deitei Mallya a deixando mais confortável e senti as memórias passarem de relance e em flash backs na minha mente. Imagens da Mallya chorando ou triste em aniversários por sentir falta da mãe que morreu em seu parto, imagens de meninas e meninos julgando ela e a maltratando por que não tem mãe, comemorações para o dias das mães na escola em que a Mallya se escondeu no banheiro para chorar por que não ia poder fazer nenhuma cartinha ou cartaz bonito pra própria mãe por que ela havia morrido. Tudo invadiu minha cabeça dolorosamente. Quando senti que tinha ido longe demais Mallya abriu os olhos, e eu também abri os meus, me afastando lentamente enquanto lágrimas desciam pelo meu rosto. E de relance eu vi, ou tive a impressão de ver uma cor diferente nos olhos da Mallya. Como se o castanho se tornasse azul e uma fenda aparecesse no centro da pupila dos olhos dela.

PRISON IOnde histórias criam vida. Descubra agora