Pequena História de Como a Dor do Amor Começa

Faca de Dois Gumes

Como seria de esperar, eu guardei para mim. Simplesmente guardei.
No início, antes das férias, talvez até durante a viagem do Porto tenha sido um sentimento irrelevante mas acabou por crescer bem mais do que estava à espera.
Como, digam-me, é que alguém consegue ser tão indiferente para os olhos do mundo e para mim ser tão mais importante, bonita, inteligente do que o resto ?
Será assim o amor ?
Dúvida, dor, paixão, eu sei lá. Qualquer coisa que mexeu cá dentro de uma forma que eu nunca tinha feito ideia do que era até sentir.
Pergunto-me então se o que eu sinto é recíproco, se ela viu aqueles momentos como eu vi ou se eu simplesmente faço uns dramas que com qualquer palavra dela se tornam exponenciais.

"Vou ter que me aguentar." - Pensamento que ressoou em mim durante meses. E durante meses tocou em mim um novo tipo de sentimento, aquele que acho que se pode nomear como estar apaixonado por algo ou alguém.

Agora quando te vejo à minha frente não sei o que hei de dizer, troco os pés pelas mãos e as mãos pelos braços e os braços pela língua porque nem as palavras que eu tenho intenções de dizer saem como deviam. E fazer tal obra de arte sem que ela reparasse requeria uma enorme quantidade de concentração. Nada podia ser ao natural, só saía porcaria, ficava estranhamente mais hiperativa do que já sou e fazia coisas parvas e sem sentido; transformava-me num autêntico pavão.

E ENTÃO ?

TORNOU-SE NUMA FACA DE DOIS GUMES.

SER EU PRÓPRIA E ESPETAR-LHE COM UM BEIJO DA FORMA MAIS "WAAAT?" POSSÍVEL OU CONTINUAR A CONTRAIR TUDO O QUE EU SENTIA E TER REAÇÕES MUITO ESTRANHAS.

Ela não podia saber mas eu também não podia fazer de parva.
Então comecei a afastar-me, lentamente, a observar de longe mas com uma vontade horrível de correr atrás dela. Sem efeito.
Isto tornou-se realmente numa decisão sem saída.