Uma vampira diferente

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Enquanto Cassian se perde em seus devaneios, noutro reino, um vampiro muito peculiar pinta um quadro..

Misturo as cores que viriam a tornar-se num bordô escuro enquanto penso nalguma maneira de fugir. Este momento seria ideal, se o meu criador não me estivesse a vigiar como se eu fosse uma criança. Tecnicamente um vampiro atinge a idade adulta aos 150 anos, mas eu sou um caso especial.
O meu nome é Beatrice, embora todo o clã me chame Bea. Tenho 236 anos, e sim, fui criada durante a Guerra dos Clãs. Segundo o meu criador, Caio, eu fui a única humana a sobreviver à dentada. Não acredito muito nessa teoria, pois não explica o aparecimento de todos os outros vampiros.
- Está bonito.
Olho por cima do meu ombro e deparo-me com um rapaz alto, de olhos verdes num tom quase lípido. Caio observava o meu quadro como se fosse a coisa mais interessante do mundo. E eu observava-o a ele. Não posso negar que já tive uma queda pelo meu criador. Não do tipo de ligação entre criador/cria, até porque nunca senti esse laço entre nós. Mas como não sentir atracão pelo ser que Caio era? Alto, com um cabelo tão negro que chegava a ter um ligeiro reflexo azul, de pele branca e macia como leite, e um corpo defenido, apesar de ser sem o exagero dos lobisomens. Era realmente uma criatura estonteante.
- Em que tanto pensas?- perguntou a voz suave que em tempos me havia maravilhado.
- Nada demais.. Estava só a perguntar-me o porquê de eu ser tratada com tanta diferenciação. Não faz sentido. Se eu fui a única humana a sobreviver à dentada, como e que tu e todos os outros existem?
- Essa não é conversa para agora Bea. Acalma a tua mente, um dia saberás a verdade, mas até esse dia chegar, exijo-te paciência.
Levantei o meu corpo da pequena poltrona onde me encontrava confortavelmente sentada, e diriji-me ao meu enorme espelho.
Fiquei a ver Caio observar-me por breves segundos e depois a desaparecer com a rapidez característica dos vampiros. Nada na minha cabeça fazia sentido. Eu não era como ele. Não me alimentava de sangue, não tinha presas. Eu era basicamente humana. Se os humanos, em tempos, tivessem tido capacidade de se locomover a uma enorme velocidade. O meu problema era esse. Não me sentia vampira, mas também sabia que não era uma simples humana. Eu não envelhecia, a minha pele era forte e impenetrável, nunca tinha encontrado algo que a conseguisse rasgar. Eu própria era forte e indestrutível. Ou seja, ser humana estava fora de questão. Mas vampira? Sabia que não o era.
Eu precisava de descobrir a todo o custo quem era, quem me tinha criado, o que eu era, e se havia mais alguém como eu.
E ali, a olhar me ao espelho decidi. Eu iria atrás de respostas. Iria visitar todos os clãs que conseguisse, e não voltaria até saber a verdade.
Sentei-me em frente do espelho e comecei com os meus planos. Aqui no reino Vamp não encontraria nada. Talvez devesse falar com o Ancião Mikael. Sim, era com ele que eu começaria.
Trancei a minha rota de fuga no que me pareceu horas e horas, quando na realidade apenas demorei breves minutos.
Assim que a noite caiu, jantei. Ao contrário dos vampiros, eu não aguentava sequer o cheiro a sangue. Alimentava-me essencialmente da energia vital de seres vivos. Tendo o cuidado de não matar ninguém, alimentei me de 3 bruxas. Podia facilmente ter ficado satisfeita com uma, mas isso implicaria ter menos uma bruxa no mundo. Desnecessário. Caio levou-as de volta ao seu reino enquanto eu pensava no tratado que ele tinha feito com a Anciã das bruxas, Esther. Todos os dias, me seriam concedidas 3 bruxas para que eu me pudesse alimentar, com a condição de não magoar nenhuma. Isso era mais uma coisa que para mim não fazia sentido. Como é que uma anciã permitia que usassem o seu povo como alimento? Eu podia me facilmente alimentar de coelhos e veados, mas Caio ameaçou-a com algo que a assustou e muito. Nota mental, mais um tópico a tirar a limpo. Diriji-me ao meu quarto em busca de me preparar para sair enquanto o Caio estivesse fora. Coloquei umas presas falsas e um pouco de pó na cara para parecer mais vampiresca. O Ancião só me daria informações se acreditasse que eu era como ele. Preparei apenas umas roupas dentro de uma mochila, e saí. Uma longa jornada manifestava-se à minha frente e não havia tempo a perder.

A quedaOnde histórias criam vida. Descubra agora