- Mãe? Não.. Mãe!
Acordo na minha rede. Mais um pesadelo.. Proveniente das fantásticas histórias que a minha mãe que contava sobre as suas vivências na Guerra dos Clãs. O que para mim não passavam mesmo de contos. Afinal, que guerra poderia ser sangrenta ao ponto de causar um genocídio?
Eu sou o Wiz. Não sou uma bruxa. Sou um bruxo. A questão é, os bruxos não existem. Morreram todos na dita guerra dos clãs há umas centenas de anos. É agora vocês perguntam "mas Wiz, se não existem bruxos, como é que o teu povo procria?". Não procria. Simples. O meu povo não envelhece. No entanto, não é imortal. Imaginem seres humanos com poderes de controlar os quatro elementos, mas que não envelhecem a partir dos 40 anos. Somos nós, no entanto, também sangramos, tal como humanos. Levamos tempo a cicatrizar, como humanos. E se sofrermos ferimentos fatais, morremos, como humanos. Por isso, não existem crianças na minha antiga aldeia, e a mesma é constituída de mulheres. Eu, como último bruxo, fui banido, talvez por trazer lembranças dolorosas àquelas que perderam um dia os maridos e filhos. No entanto, não sou um bruxo normal. Demoro mais tempo a cicatrizar que as restantes, não controlo os elementos, e o meu crescimento foi muito demorado. Geralmente uma bruxa tem um ritmo de crescimento equivalente ao dos humanos até aos seus 40 anos, onde o mesmo estanca. Eu levei 40 anos só a chegar aos meus 5. E sucessivamente. Por cada 40 anos, eu completo 5 de vida. Por cada 8 anos, eu completo 1 ano. A gravidez da minha mãe também foi demorada. Em vez de 9 meses, ela carregou-me no seu ventre por 6 anos. Isso mesmo, SEUS LONGOS ANOS. Talvez venha daí o seu ódio por mim. Neste momento tenho 29 anos. A minha mãe engravidou 1 ano antes da guerra, que durou 4 anos e na qual ela lutou grávida, e teve me um ano após a mesma findar. Cresci sem pai, e a minha mãe abandonou-me assim que eu fiquei com idade suficiente para apanhar fruta das árvores e me conseguir alimentar. Tudo o que eu sei e conheço do meu povo foram as histórias que a Trix me contava para adormecer. Ou melhor, não adormecer. Porque quem conta histórias de guerra e terror a uma criança pequena na hora da sesta?
Enfim, estou a divagar de novo. A minha barriga ronca. Hora de levantar.
- Bom dia Alex, como dormiste hoje? - afago a cabeça do meu melhor amigo enquanto este olha para mim como se concordasse que era hora de ir apanhar fruta.
Alex era um alce que eu encontrei há 10 anos dos meus, traduzindo, 80 anos humanos. Ele estava gravemente ferido, e era um típico animal assustado. Tinha até medo de mim, que nem um metro e meio tenho. Cuidei dele e criei o meu primeiro amigo. Claro que fiquei triste pois sabia que ele um dia seguiria o seu caminho e me deixaria para trás, e não, não estou a falar de ele voltar à sua vida, estou a falar da sua morte. No entanto isso até agora não aconteceu. Decido levantar-me e avalio a posição do sol, chegando à conclusão que devem ser 11 horas da manhã. Apanho umas amoras e uns figos e partilho a minha comida com o Alex.
Encaro o céu, e assim permaneço todo o dia perdido em pensamentos.Um barulho desperta-me e eu protejo-me com os troncos da minha árvore. Esse é o meu poder, algo inútil na verdade. Não posso manusear os elementos, mas tudo o que tenha vida está sujeito a mim. Não digo que não tenha dado jeito em certas situações, como fazer a fruta amadurecer para ser mais doce, ou fazer o Alex ficar quieto enquanto eu lhe mudava as ligaduras, mas considero um poder ingrato. Tudo o que tem vida deveria ter o direito de decidir o seu destino e cumprir as suas vontades, no entanto aqui estou eu, com o poder para usar seres vivos a meu favor.
Do meio dos arbustos salta um coelho branco como neve, e eu rio para mim mesmo.
- Que flor de estufa que me saíste Wiz- falo em voz alta sozinho e liberto-me da minha proteção. Ouço alguém rir, e fecho-me novamente dentro da árvore.
- Não te escondas por favor, não vou fazer-te mal.
Espreito, na expetativa de ver sei lá, alguém, mas só vejo o coelhinho.
- Estás a falar comigo? - questiono.
- Sim, desculpa ter-te assustado. Por acaso não terás visto os meus filhotes por aqui?
- Peço desculpa não..
-Obrigada na mesma Wiz- agradece a mamã coelhinha e assim vai pulando para longe, deixando-me novamente entregue aos meus pensamentos. Como sabia o meu nome? Como falou comigo? Não vi a sua boca mexer.. Será que..
- Alex? Tens me ignorado este tempo todo?
-... -
Estou a alucinar só pode, se calhar foi um sonho.
- Não te queria assustar - ouço uma voz grave.
Olho embasbacado para o meu melhor amigo, mas..
- Sabias?
- Todos nesta floresta sabem querido Wiz.
Será um novo poder? Isto parece muito suspeito.
- O que mais há para me contar?
-Muita coisa, mas terá de ser a Shira a falar contigo, lamento- o Alex responde - vem, vou-te levar até ela.
Meio atordoado com a situação começo a seguir o alce, não percebendo nada. Quem é esta tal de Shira? Que mais haverá para eu saber? Sempre estive tão sozinho, e no entanto há uma tal de Shira que me conhece? Porque é que ela não veio ter comigo então?
Bem, de nada serve supor, o melhor mesmo é ir conhecê-la.
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A queda
FantasyVou vos levar a futuro não muito distante, a uma realidade que permite o sobrenatural, onde poderão ficar a saber por vós mesmos o que acontece quando todos os indivíduos mais fracos de todas as espécies se unem para assegurar a continuidade da vida...