Carlos Eduardo - Tomei um gole de café

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Tomei um gole de café. Eu ainda precisava ir trabalhar. Da cozinha, eu conseguia ver pedaços da minha namorada maravilhosa esparramada nos lençóis da cama. Dormia. Praticamente uma estátua grega de perfeição inigualável. Bruna "Inesquecível" Drummond.

Fui mesmo um idiota por pensar que precisava fazer alguma coisa diferente com Bruna para tornar nosso momento especial. Na verdade, bastava que ela fosse ela mesma para tornar qualquer momento especial. Eu fechava os olhos e flashes da nossa tarde vinham à minha mente, os dedos dela entrelaçados nos meus, a curva do seu quadril e o contato da sua pele quente e cheirosa com as minhas costas. Dava vontade de começar tudo de novo mais uma vez, pela quarta vez.

Fiquei observando o dourado de fim de tarde que escapava pela janela cobrir o corpo dela. Das curvas de mulherão aos cabelos bem cuidados espalhados pela cama. O que um cara como eu fez para merecer uma deusa dessas? Eu poderia ficar ali por muito tempo, mas tinha providências a tomar e a noite já tingira o céu há pelo menos uma hora.

─ Kadu? – Ela despertou quando eu já estava de banho tomado. – Você vai sair? – Bruna estava confusa, descabelada e linda. Eu a beijei.

─ Infelizmente... – Lamentei enquanto fechava as abotoadoras da camisa. – Já são quase oito. Vou trabalhar.

─ Ah! – Começou a se mexer procurando suas peças de roupa.

─ Você vem comigo?

─ Desse jeito... – Usava apenas a calcinha e uma camiseta minha.

─ Apesar de linda. – Peguei o rosto dela entre as mãos e a beijei novamente. – Não acho apropriado. Eu morreria de ciúmes.

─ A única coisa de que você tem ciúmes é da sua coleção de mangás... – Pelo menos, depois de tanto tempo de convivência, aprendera o nome das minhas "revistinhas japonesas".

─ Isso poderia até ser verdade antes dessa tarde... – Trocamos sorrisos maliciosos. – Mas, uma vez alguém me disse que quem prova do gostinho de Bruna "Delícia" Drummond sempre fica com um quê de quero mais. – Eu imitei seu tom de voz e ela jogou um travesseiro na minha cara. – Depois que provei... Bem... Cheguei a uma conclusão... – Dei uma risadinha jogando o travesseiro de volta. – Chega de quê de quero mais para os outros, agora a parada é comigo. Só comigo. Entendeu?

Sentei na beirada da cama, veio manhosa se aninhar no meu abraço. Cheirei seu cabelo e beijei seu pescoço. Eu estava louco para que o tempo passasse voando para estar com ela do mesmo jeitinho quando voltasse da Atmosfera. Ficamos abraçados.

─ Você aparece mais tarde? – Pedi quase num sussurro.

─ Não devo. – Fez beicinho. – Amanhã é a semifinal do programa. Preciso de uma centena de rituais de beleza para hoje e chego ao estúdio cedo pela manhã... – Apesar de ter ficado decepcionado com a resposta, sabia que ela estava certa.

─ Vai comer alguma coisa?

─ Prometo. – Ela sorriu. – Na verdade, em minha defesa, você me deixou morrendo de fome. Mas na geladeira só tem água.

─ Sabe o que é? – Não quis sair por baixo, ela estava certa. Aqui em casa não tinha muito mais do que miojo. – Eu costumo ir na casa de uma vizinha quando estou com fome. Por isso não faço supermercado.

─ Ah! Bom saber... – Ela estava com a maior cara de que ia me mandar a conta da próxima vez que eu assaltasse a sua despensa.

─ Posso pelo menos te ver mais tarde?

─ Vou ver se tem vaga na minha agenda...

─ É bom que tenha ou eu arranjo.

Já estava atrasado. Sem a menor vontade de ir, acabei me levantando. Bruna me puxou ainda mais essa vez, ficando em pé em cima da cama, me deu um beijo e disse:

─ Eu te amo, Kadu. Amo mesmo.

Por que é que eu simplesmente não digo que a amo também? Não sai. Algo trava e não sai. Eu a seguro pela cintura. Dou um beijo muito intenso. Tomara que ela perceba que eu sou um idiota e me perdoe. Digo um "boa noite" sem-vergonha e saio. Frustrado comigo mesmo por ser tão bocó.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora