Lutamos contra cobras voadoras!

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–Você realmente leva jeito para lidar com estranhos hein! – observou Percy falando baixinho só para eu ouvir após o homem aceitar nos dar carona até o acampamento.

– 100 dólares? – Riu Percy perplexo – Não dá pra acreditar que conseguimos por isso. 

Sorri também satisfeita. – Melhor do que ir para a cadeia. – sussurrei.

Já estávamos no carro e nosso motorista a toda velocidade percorria sobre a cidade . Grover havia sentado no banco da frente, segundo ele dava uma sensação melhor de que ele estava fazendo a proteção do jeito certo. Percy estava ao meu lado no banco de trás, ainda me interrogava com admiração como se não acreditasse que tínhamos nos safado de ter que se explicar a polícia.

–Como você faz? –Perguntou ele.

Dou de ombros. – Acho que pedir com educação é uma boa maneira de fazer funcionar. – expliquei a ele.
– Mais? Eu sou educado. Se eu fosse roubar eu o ameaçaria, colocaria arma na cabeça dele, mas não fiz isso. Eu pedi gentilmente e o cara veio cheio de marra para cima de mim.

Não disse nada. Embora tivesse uma vontade louca de contestar com Percy sobre ele na verdade não ter sido nada educado com o homem, eu segurei essa vontade porque ele já estava alterando o tom de voz e eu fiquei com medo de que o cara estranho ouvisse e se arrependesse de ter nos dado carona.

–Ele deve ter te achado bonita – voltou a falar Percy abaixando a voz para um sussurro –Afinal você é bem bonita mesmo. Não há como negar isso.
Senti meu rosto queimar.
–Érr... Vamos nos concentrar em chegarmos vivos nesse tal acampamento. –gaguejei.

O sol já estava se pondo. Quando finalmente vimos uma montanha próxima a uma igrejinha já saindo do centro da cidade, Grover que estava calado até então soltou um gritinho sofrido.

–Não, não. Agora não! Percy olhe! –gritou ele.
–Olhar o quê?! –perguntou o homem seguindo a direção dos olhos de Grover. –Ah –bufou ele –Corvos? Tem medo de corvos?

De início não entendi muito bem o que o homem quis dizer com corvos, já que eu não avistei nenhum sinal de corvo pela cidade, depois compreendi sem saber como.  A névoa!
Percy Jackson havia me dito algo sobre a névoa ter efeito sobre os mortais, eu na hora não deixei que ele me desse muitas explicações porque estava ocupada demais com o pensamento de que ele era louco. Mas agora não precisava que ele me explicasse qual era o problema da visão alterada do homem. A névoa estava distorcendo a realidade dele.

No lugar de corvos o que se passou diante dos meus olhos eram centenas daquelas serpentes que tinha visto a quase 1 hora atrás em cima de um dos prédios em New York. Mas a quantidade aumentara, e agora parecia ter várias das espécies de cobras que existem nesse mundo. Milhares de cobras que ganharam asas e capacidade de cuspir fogo.

Como se já não bastasse eu ter pavor de cobras, agora tinha cobras duas vezes mais assustadoras.

Percy pôs a mão em um dos bolsos de sua jaqueta e puxou uma caneta. O quê diachos ele pretendia fazer com uma caneta? Fazer um relatório de monstros que enfrentava pela cidade?

Ele olhou sério para o homem e depois para Grover.

–Ele não pode ficar mais aqui. É perigoso!
–Corvos não atacam pessoas vivas! –retrucou o homem. Olhei pelo retrovisor e notei que sua expressão facial era confusa.
–Senhor–chamou Grover o homem –Saia do carro e vá para o mais longe possível daqui.
–Mas...

As girpêras pareceram alarmadas. Voaram em direção ao carro em que estávamos, e em questão de segundos, nos vi cercados.

Soltei um grito alto e agudo que estava prendendo a horas. Percy sacudiu sua caneta, em segundos o pequeno objeto desapareceu, e em seu lugar estava uma espada de bronze reluzente.

Eu poderia ter ficado hipnotizada ao visualizar aquela mágica, se não fosse pelas cobras gigantes e voadoras que nos atacavam dando botes no carro fazendo o automóvel sacudir.

–Mas que diabos é isso? –Gritou o homem ainda mais confuso. Ele se virou para mim e disse : –Vou sair para ver se há algum problema com os pneus e...
–Não! –eu gritei desesperadamente –Ninguém vai a lugar nenhum!
–Talvez não tenhamos escolha! –disse Grover com sua voz de lamento.

Percy olhou em volta. Seus olhos verdes percorreram por toda nossa volta, como se estivesse a procura de uma brecha pela qual poderíamos escapar.

Ele então se virou para mim.
–Convença-o a ficar no carro.
–O quê?
–Nós precisamos retardar essas coisas. Ou não chegaremos inteiros ao acampamento.

Seu tom de voz era claro e firme, mas seus olhos tremiam. E eu tive um pressentimento ruim que a palavra inteiros fosse substituta de mortos.

Respirei fundo e coloquei o máximo de calma e potência para que minha voz não falhasse.
–Senhor. –Chamei o homem que se virou para me encarar na mesma hora–Por favor, fique no carro até voltarmos. Precisamos de tempo.

Não tive certeza se o homem compreendeu minhas palavras, porém não constestou. Se virou para frente e ficou imóvel... Quase como se estivesse entrado em transe.
Percy abriu a porta do lado em que sentava e saiu do carro.

–Percy! –gritei. Mas achei que ele não me ouviu. Aquelas coisas sibilavam tão alto e sincronizadas umas as outras que achei que fosse muito difícil captar qualquer outro som.
Grover abriu minha bolsa e jogou para mim uma espada fina e preta.
–Peguei emprestado para você. –falou ele com pressa já abrindo a porta do seu lado. –Vamos nessa!
Abri a porta também e saí.

Imediatamente três cobras voaram em minha direção ao mesmo tempo. Por impulso ataquei-as com a espada que Grover me emprestara. Com um único golpe cortei-as ao meio e elas se dissolveram em cinzas.
Não foi tão difícil. Pensei, embora sentisse uma pequena dor se formar em meu braço. Aquela espada era pesadinha. Quem era o proprietário?

Não tive muito tempo para observar o peso da espada, outras girpêras estavam no meu caminho. Procurei atacá -las com a mesma eficiência. Percy estava do outro lado correndo de um lado a outro golpeando o máximo de girpêras possíveis como se quisesse acabar logo com aquela festa. Olhei para a direção onde estava Grover, e o vi com uma flauta na mão. Ele a tocava calma e permanentemente, transformando várias das criaturas que o cercavam em galhos de árvores.

Aquilo foi mesmo impressionante!

Não entendi por qual motivo Grover parecia estar tão apavorado com aquelas criaturas. Ele as matava como se fossem baratas.

No desespero eu tirei os olhos de Grover. Não havia percebido antes que desliguei-me de minha luta, até que uma das girpêras enrolou -se em meu pescoço lentamente tirando minha capacidade de respirar.

–Louisy! –Percy gritou do outro lado, começando a decapitar cada umas das criaturas apeladora e desesperadamente. Veio correndo em minha direção golpeando todas que tentavam bloquear seu caminho.  Uma delas pareceu alarmadas com a desvantagem e começou a cuspir fogo na direção de Percy, porém o garoto se desviou prontamente de todas as direções que ela o mirava dando cambalhotas de um lado a outro sem parar.

Quando a girpêra pareceu cansar -se de soltar fogo, Percy a fatiou rapidamente em pedaços. Seu olhar era furioso. Grover só então pareceu se tocar do que estava acontecendo. Parou de tocar sua flauta e gritou :

–Percy. Tem um mar não muito longe daqui. Rápido!

Percy conseguiu me alcançar. A cor vívida de meu rosto já devia ter desaparecido, a julgar pelo olhar assustado que ele me dera. A girpêra que já estava enrolada em meu pescoço apertou-me ainda mais com o aproximar de Percy como se dissesse : Mais um passo e ela morre!

Tentei desesperada fazer alguma coisa. Golpeá-la com a espada que já não segurava mais. Já havia perdido minhas forças. Não sentia mais nenhum de meus membros.

Após isso, a última visão da qual me lembrei daquele momento foi Percy Jackson fechando seus olhos e estendendo o braço para o lado como se estivesse querendo chamar atenção de algo.  Depois uma onda de muito mais de 10 metros aproximando-se, que pareceu assustar a girpêra que imediatamente me soltou. E em seguida Percy sacudindo sua espada pouco acima de minha cabeça, quando a onda nos encharcou.

E tudo a minha volta escureceu.

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