O relógio com a pilha ainda em funcionamento apontava que eram dez horas da manhã. Todos estavam de pé e já recolhiam algumas coisas para abastecer o Celta 2009 que encontraram no meio do caminho traçado por eles dias a trás. Com a água da torneira eles enxeram cinco garrafas de dois litros que encontraram no armário da cozinha. Também encontraram alguns alimentos e levaram algumas bebidas do estoque da casa.
Rapidamente eles abriram a porta principal e um a um deixaram os mortos entrarem, a matança começara novamente. As facas eram cravadas no crânio podre de cada um dos monstros canibais, e eles eram jogados no chão com a força de um "baque" pelo encerramento de suas vidas insanas e sem propósitos.
Carregando todas as "mercadorias" conquistadas eles enxeram o carro de tamanho mediano. E seguiram para fora daquela cidade perdida. Seus destinos era uma possível moradia para sobreviventes que a rádio inexistente no momento anunciara semanas atrás comprovando sua real existência em Boston.
O sinal mais sinistro de todos era o número cada vez maior de estações que entravam em colapso e esse era o maior medo deles, que a população chegue a se extinguir. Mas felizmente, os postos de gasolina ainda têm gasolina, os armazéns ainda têm produtos e a rede elétrica, os sinais de trânsito e as delegacias de polícia e toda a infraestrutura ainda pareciam ter todos os recursos precisos no momento. Porém uma queda de energia pode aumentar os riscos de morte de uma forma absolutamente formidável e alta.
Enquanto eles dirigem a caminho da "salvação" Alexandre se curva no banco de trás do veículo, ele abre a janela e expele um saraivada de tosse acompanhada com vômito quente, o homem não para de tossir e de puxar o ar furiosamente e, por um momento, os outros só ficam observando á espera do momento em que as tripas dele iriam sair junto com a tosse maldita.
--- Está bem Alex? - Bobby pergunta sem tirar os olhos da estrada.
--- Alguém me dá um pouco de água! - John entregou uma garrafa e Alexandre deixou o líquido escorrer rapidamente por sua gargando maltratada e dolorida. A rouquidão na voz do homem começava a surgir com toda a vontade. - Gente eu não queria que isso fosse preciso mas eu necessito de Antibióticos, podemos passar em uma farmácia antes?
Todos se entreolharam e concordaram vendo o estado do homem doente. Eles viraram a esquerda na avenida Jackson 210 e percorreram um pequeno comprimento de rua até encontrarem ao longe uma placa anunciando uma drogaria. Estacionando o carro os quatro desceram e caminharam até o estabelecimento comercial. Seus olhos rondavam todos os lugares sempre atentos caso precisassem se proteger.
A porta estava trancada, e o vidro sujo atrapalhava a visão de dentro do local. Com força eles tentaram arrombar a porta. A primeira tentativa foi falha, a segunda também sem nenhuma conquista. Porém a terceira tentativa estraçalhou a porta de vidro, e deixou alguns cortes no corpo dos homens.
--- Precisamos ir rápido! O barulho deve ter chamado a atenção dos mortos para cá! - comentou Morgan olhando para os lados. - JOHN CUIDADO ATRÁS DE VOCÊ! - Um "morto-vivo" com a barriga aberta e tripas penduradas por pequenos fios de nervos se aproximava arrastando uma das pernas e rosnando ferozmente para sua refeição viva. John pegou a faca e se aproximou cravando a mesma na cabeça "molenga" do cadáver que caiu rapidamente no chão sujo do local. Os quatro se separam e observaram o lugar a procura de novos possíveis "perigos" que andam. Alexandre correu até os medicamentos e encheu uma sacola plástica que encontrou com todos os tipos de remédios que poderiam servir em vários casos de ferimentos e doenças. Além disso também recolheu gazes e "bandaids"para os machucados que ganharam ao arrombar a porta. Aproveitando também pegou refrigerantes, sucos, e águas que sobraram na geladeira ainda ligada do local.
--- Pronto pessoal! Podemos ir! - falou Alexandre com sua voz rouca. Todos concordaram e acenaram com a cabeça para saírem para fora com muito cuidado. Passando por cima do vidro estilhaçado eles correram até o carro e entraram já dando partida no veículo. A proximidade dos "mortos-vivos" é um fator que sempre tem que ser levado em consideração, nadando como um tubarão de cada decisão e cada atividade deles. E atrás do carro que agora andava em direção a saída da cidade , havia um grupo de errantes, um deles era alguém que um dia foi uma mulher de meia-idade, que usava uma roupa de correr de grife, mas que agora tinha se transformado numa alma penada de mangas rasgadas, dentes pretos e expostos e os olhos vítreos de um peixe pré-histórico. Alexandre não conseguia tirar os olhos castanhos dela, era triste o fim que a vida da mulher teve, na verdade era um fim "ridículo". Pensativo ele voltou a olhar para frente e virou um comprimido do Anti-biótico na boca, e logo em seguida acabou adormecendo no banco do Celta.
O primeiro indício de que alguma coisa não ia bem acontece uma fração de segundos quando Alexandre fora acordado por um Bobby de olhos arregalados. John estava todo ensanguentado e com o olhar parado na direção do teto do veículo. Empapado de suor, o coração ainda aos pulos com a imagem de seu companheiro de viagem morto em seu lado.
--- O que aconteceu com ele Bobby?!!!! Morgan?!! alguém me explica que porra é essa?? - atordoado o homem se aperta contra a porta tentando não ter contato com o homem morto.
--- Não sabemos ao certo... eu acho que ele foi infectado lá na farmácia quando aquele errante o cercou... precisamos tirá-lo do carro.
--- A culpa é minha.. não deveríamos ter saído desse carro por causa desse minha doença idiota! - o rapaz passava as mãos na testa suada e se culpava pelo acontecido ao seu colega de viagem. - Eu vou enterrá-lo! não podemos deixá-lo abandonado aqui!
--- Não foi sua culpa Alex... não temos tempo para enterrá-lo! precisamos ir.
--- Podem ir! Eu não vou deixá-lo jogado na estrada como se fosse um desconhecido.
Morgan e Bobby se entreolharam e concordaram com a cabeça suspirando.
--- Vamos me ajudem aqui a tirá-lo do carro! - começou Bobby descendo do carro e puxando o cadáver. Os outros dois desceram e o ajudaram a tirar John que devia pesar uns oitenta quilos de gordura localizada. Eles começaram a carregá-lo até um terreno ao lado da estrada onde por pura sorte havia um buraco já cavado. Deitando-o no chão de terra Alexandre se curvou até o colega e sussurrou um pedido de "desculpas". De repente o homem morto abriu os olhos de pupilas brancas como o leite e agarrou o Rapaz pelo colarinho enquanto rosnava ferozmente. Bobby rapidamente correu até os dois e cravou sua faca "borboleta" no crânio do amigo morto. Alexandre atônito se sentou no chão respirando ofegante enquanto olhava seu colega de fim triste ser empurrado para a cova. Os três sobreviventes empurraram a terra com os pés até conseguirem criar uma pequena camada cobrindo o corpo inerte de John. Barnes procurou por uma flor e quando encontrou atirou-a no buraco que agora se encontrava seu amigo.
Os três voltaram ao carro rapidamente e em silêncio, todos estavam pensativos e atônicos. Agora mais do que nunca eles sabiam que suas vidas estavam suspendidas por pequenos fios de tensão e que elas podiam acabar a cada milésimos de segundos assim como foi com John.
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A aniquilação da sociedade - O começo do fim - Livro I
General FictionUm grupo de sobreviventes de um mundo apocalíptico tentam se salvar de " mortos-vivos" que trombam em seus caminhos. Porém também terão que tomar cuidado com outros sobreviventes sedentos por sangue.