Ao sair de João Pessoa para ir de encontro ao meu grande sonho, vi o grande letreiro do outdoor na saída da cidade "Belas Artes, aliando desenvolvimento artístico a educação desde 1985". É engraçado como um sonho pode se concretizar em realidade, em um simples piscar de olhos. Quer dizer, eu tenho dezesseis anos, e eu passei cerca de dez anos inteirinhos sonhando em estudar no Belas Artes.
Eu brincava de banda com a Linda e meus outros amigos de infância. Sempre era a vocalista e a linda a dançarina. Imaginava-me no internato, estudando canto, mostrando meu talento para todos. E aí, num piscar de olhos, eu faço o teste e passo. É o destino mesmo, essa é a única explicação plausível!
O internato era um dos maiores destaques do Brasil, conhecido por formar grandes cantores do cenário brasileiro e até mesmo mundial. São disponibilizados cursos de teatro, dança, música e desenho. Do anuncio, notava-se a arquitetura do local, também muito famoso por ser grande e antigo.
É óbvio que quando a carta de aceitação chegou, eu morri de felicidade. Mas, ao pensar na carinha do Alex, meu namorado, ao não se juntar a mim, meu coração foi partido em frangalhinhos. A gente namora há uns três anos, e eu achava estranho estar em qualquer lugar sem sua presença.
Minha família mora no Bancários, um bairro de classe média em João Pessoa. Sou filha única de um casal de professores, Ester e José. Meus pais sempre me incentivaram na música, me apoiando em minhas decisões, seja de ser cantora, seja de tocar em uma banda. Eles também cantavam muito bem, porém devido ao comodismo, não investiram em sua carreira.
No fim do ano passado, tanto eu como Alex fizemos o teste para estudarmos música no internato. Mas o pessoal de lá achou que a voz dele era "fina demais", e que ele não se enquadrava no "padrão" que eles exigiam. Desculpa esfarrapada para um pé na bunda, eu sei. Já eu, vocalista da banda In, tinha uma fama relativamente boa, embora eu não fosse tão popular assim... O Alex tocava guitarra muito bem, mas não fazia parte da banda. Talvez por ele não ter nenhum nome no mercado, não conseguiu sua aceitação lá.
Quando a carta de aceitação chegou, meus pais ficaram um pouco receosos devido ao fato de eu ir morar em uma cidade tão distante como o Rio, ainda mais em um regime duro de internato. Isso era tão raro nos dias de hoje! Porém, como lá haviam vários responsáveis por mim, e eles poderiam me visitar quando quisessem, acabaram se convencendo a me deixar ir.
A minha banda foi criada há dois anos atrás. Na época, eu era uma adolescente de quatorze anos e peito nenhum— não que eu tenha tantos hoje em dia. Mas estou bem confortável com eles. Autoconfiança foi uma coisa que eu aprendi com o tempo. — e quando a Naninha e o Vitorio disseram que faltava uma vocalista, eu me pus a postos.
A Naninha na verdade se chama Hannah. Ela tem agora vinte anos, e é a baterista. Mas ela também canta e dança muito bem. Já o Vitorio era um senhor de 57 anos, responsável pela guitarra. Ele era o pai da Nana. A outra galera variava bastante, mas era um pessoal amigo da baterista.
Eu e a Naninha tivemos uma sintonia logo no nosso primeiro encontro, quando eu ainda tinha treze anos e ela dezessete. Ela era animada, assim como eu, e seu pai era amigo da minha mãe.
As atividades infelizmente iam ficar em off por um tempo, já que eu não teria tempo para concilia-la com os estudos. Como o meu nome estava se consolidando no mercado do entretenimento agora, eles dizem que não querem que eu saia. É melhor ficarmos parados alguns meses, do que voltarem com outra vocalista. Se não, seremos o xcalypso dois: Fadados a não funcionar, já que não tem a "Joelma".
Pensei muito em desistir e ficar ao lado do Alex. Afinal, a gente namorava desde que eu tinha treze anos e ainda brincava de boneca. Era muita coisa para jogarmos fora. E todo mundo diz que relacionamentos à distância nunca funcionam direito... Mas, depois de muito conversar com minha melhor amiga de infância Linda, resolvi que era uma oportunidade grande demais para deixar passar. Mesmo que isso significasse ameaçar toda a minha relação com a pessoa que eu tanto amava.
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Belas Artes
Romance: Isabela Cristina sempre sonhou em estudar no internato "Belas Artes", localizado no Rio de Janeiro. A jovem não esperava nunca que iria ser chamada, apesar de ser vocalista de uma banda relativamente popular. Porém, quando tem sua oportunidade c...