William
Ainda assim não fui ao hospital .
Droga eu não sou um irresponsável mas ao reafirmar meu compromisso com Bela mais cedo lembrei de uma coisa substancial.
Não tínhamos uma data marcada .
Eu não posso me perdoar por ter esquecido de algo tão importante .
Desviei o curso do Memorial direto a igreja no centro .
Ao entrar o peito apertou como no passado .
Foi a pouco mais de um ano que adentrei aqui para casar - me e vi tudo vazio como eu próprio .
Me permiti deixar vir a tristeza uns minutos enquanto seguia em frente mas antes de falar com o padre decidi sentar - me e refletir .
Haviam vários bancos vazios aquela hora da tarde mas por algum motivo eu fui até um que tinha uma senhora coberta de um manto azul .
Me atraiu talvez pela paz que me passou ao vê - la .
Baixei a cabeça um segundo mas não por muito tempo até ouvir :
- William ? - Levantei a face e olhei o rosto da senhora .
Era a mãe de Belinda .
A última vez que a vi foi a um ano no enterro da filha .
- Quanto tempo - Falei a abraçando enquanto ela o fez de volta .
- Realmente . Mas é sempre bom vê - lo Will - Começou .
- Aliás ... Eu venho toda semana e nunca o vejo . O que faz aqui ? - Era um lugar sacro e não tinha como ou porque mentir .
- Eu vim falar com o padre . Quero marcar a data do meu casamento - Falei mostrando a aliança pela segunda vez naquele dia .
- Em tão pouco tempo ? - Perguntou como todos sempre faziam .
- Com o que me arremeteu eu aprendi que tenho que valorizar o que eu tenho sem perder tempo . Se amar , amar agora - Esclareci e ela assentiu .
- Está certo . O tempo não para e menos volta - Falou tão nostálgica com os olhos marejados .
- Ainda lembro de vocês tão jovens . Sentados naquele sofá preto trocando juras enquanto eram vigiados pela integridade da minha Bel - Ah os namoros vigiados ...
Que eu seja perdoado mas lembro de ter odiado tanto essa fase que quando consegui ficar a sós com ela logo pela primeira vez descobri o que era mas....
Menos William !
- Foi um bom tempo - Recordei .
- Que você parece ter superado - Me deu razão mas parecia tão magoada .
Mas eu entendia .
- Nunca vou superar . Ela morreu grávida de mim . Não há como superar - Ressaltei .
- Nunca falamos sobre isso na
verdade - Lembrei que não .
Eu me neguei a saber .
- Não mesmo - Eu sai descompensado e bem ...
Ficamos sem nos ver .
- Você também não foi mais me
visitar - Reclamou .
- Doía ver qualquer coisa que me fizesse recordar - Expliquei .
- Eu entendo . Me passou o mesmo - Falou sincera .
- Mas precisamos falar principalmente agora que passou um tempo . Eu respeitei você na época mas ainda penso que precisa saber a verdade do acontecido - Eu não sei se tinha essa coragem .
- Eu não sei se quero ainda - Expliquei .
- Se quer começar uma vida com outra é melhor que tenha tudo claro - Esclareceu .
- Eu vou pensar - Falei .
- Está bem . Aqui não era mesmo o lugar de conversarmos . Vamos falar disso ao tomar um café num outro dia que prefira , pode me ligar , é melhor até para que a data especial de hoje não seja violada com assuntos pesados - Falou se levantando e me dando um beijo na bochecha .
- Eu torço muito por você - Me abraçou e saiu .
Fui atrás do padre e vendo as datas tinha uma para o verão e tratei logo de faze - la minha .
Casaríamos numa estação cálida.
Tão Bela .
Tão eu .
Mas sempre muito nosso ...Maite
Ivan tremeu na base tão feio que com alguns xingamentos deixou que eu fosse pegar Malu .
Porque nem lá estava .
Ficara na creche .
Passamos por lá e buscamos uma Malu confusa logo no segundo instante pois no primeiro me agarrou gritando o típico "Mami" .
- Esse é o vô Ricardo, Malu - Ela franziu o cenho pois nunca falara de avô .
- Ela é a sua cara nessa idade - Falou vidrado deixando cair a máscara do homem turrão.
Bagunçou os cabelos de Malu e o cenho permaneceu bem franzido .
- Pode dar oi pra ele Malu - Falei
- Ele gosta de bincar ? - Indagou e ele riu como nunca riu para mim desde pequena .
- Eu não mas se você quiser eu
quero - Disse rindo abertamente .
- Eu gosto de bincar de pique bô - Ela falou parecendo um pavãozinho querendo se aparecer.
- Não precisa faze - lo Ricardo . É a brincadeira favorita dela ? É. Mas não faça só pelo capricho porque se eu bem conheço esse cotoco de gente vai se aproveitar de você sempre que o ver - Falei mas ele ignorou .
- Ela pode ter o que quiser de mim . Já me ganhou - Falou a tomando de meus braços desajeitado com todas as rugas denotando a idade .
Malu lhe deu um beijo estalado bem alheia as causas de porque não nos dávamos bem mas não a impedi pois ela normalmente não se enganava .
Se gostava de alguém era porque esse alguém tinha algo de bom .
E na essência de vê - los brincando eu percebi que Ricardo o tinha por debaixo do gênio forte .
Era bruto e intransigente mas pareceu tão amável que lembrou até mesmo o pai da minha infância .
Antes das personalidades entrarem num colapso letal .
O homem que ria raramente mas que era capaz de sentir .
Não o militar mal encarado mas um homem comum .
- Vem bincar Mami - Pediu enquanto eu só observava e não me neguei diante do olhar do meu pai nos encarando ofegante pela idade avançada .
- O vô vai ali comprar sorvete um instante e já volta - Falei afim de lhe dar um descanso da menina hiperativa estendendo umas notas .
Ele se negou a tal ponto de quase brigar como mais cedo e não discuti .
Não por isso .
Tornamos a brincadeira divertida e só paramos quando os três se sentaram na grama da praça tomando sorvete de chocolate .
Favorito dos três que acabaram por sentar - se numa ordem do maior para o menor ou ao contrário , não importava .
Só importava o que aconteceu ali sem que eu percebesse e acabava de se abrir uma possibilidade muito real .
Uma possibilidade de isso ser real .
A minha família .
Mais unida até do que pensei se o coração deixasse ...
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Maktub - O escrito pelo destino jamais será apagado ...
De TodoOs árabes costumam dizer que quando duas almas estão predestinadas a se encontrarem não há o que se interponha pois cada ser humano que habita nessa terra já tem algo sobre si , o que está escrito . William Montenegro, cirurgião geral de 29 anos pe...