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Poliana

- Grávida ? - Pergunto em choque mais uma vez olhando para a garota com olhos da cor do Mar do Caribe.

- Sim . - Ela diz chorando . - Por favor . É só por algumas semanas , eu juro Sra.Alves , que não vou incomodar . - Ela diz enquanto se encolhe sobre a cadeira .

Minha mãe franze o cenho me olhando .

Nunca imaginava que Rebecca fosse ficar grávida , ainda mais de um garoto que ela tinha conhecido a pouco mais de um mês . Mas o que eu menos acreditava era que , os pais a deixariam desamparada desta forma .

Os pais de Rebecca eram praticamente uma referência na igreja , e certamente não iriam querer que ela acabasse com a "reputação" deles .

A família perfeita do comercial de margarina não passava de uma família do comercial de margarina . Era tudo ilusão .

Isso me fazia lembrar de meu pai .

A família dele era muito rica , mas a quantidade de dinheiro que eles tinham refletia na quantidade de preconceito .

Meu pai nunca foi de querer agradar os outros , principalmente os pais dele . Desde pequeno ele sonhava em ser médico , e era muito apoiado .

O que meus avós não sabiam era que o sonho dele não era um médico qualquer .

Era um médico sem fronteiras .

Ouço meu celular tocar e olho rapidamente para Rebecca que abraça minha mãe chorando . Vejo pelo ecrã o nome de Mike na tela e me lembro da noite passada .

- Alô ? Mike ? - Pergunto para ter certeza .

- Poliana ? Você chegou bem ? - Ouço Mike perguntar e engulo seco . Os soluços de Rebecca se intensificam e minha mãe olha para mim preocupada . - Você está bem ?

- Cheguei , eu ... Eu posso falar com você daqui a pouco ? Preciso desligar agora . - Eu pergunto tentando ser educada . A voz dele mesmo por ligação fazia meus pelos do corpo se arrepiarem

Ao olhar nos olhos da minha mãe , lembro-me de meu pai novamente .

Os próprios pais do meu pai o dezerdaram e colocaram ele na rua . Foi quando ele conheceu a minha mãe , na época da faculdade de jornalismo na qual ela não conseguiu terminar por conta da gravidez .

Me lembro da época em que nós morávamos na casa da minha tia e Danilo não era nascido . Meus pais eram felizes de certa forma .

Lembro também do último dia que vi meu pai ir para mais mais uma missão em algum país do continente africano e recebermos apenas uma ligação nos informando da morte dele .

Ele tinha contraído o vírus Ebola , que não era tão conhecido naquela época . Mas eu sabia que ele tinha morrido fazendo algo que gostava . Tinha saído do país poucas vezes , mas essas eram dádivas para ele . Ele se empolgava ao sentar-se no sofá comigo no colo enquanto contava as histórias .

Mas ele sabia que corria riscos , de qualquer forma .

Me lembro do sorriso dele , aquele cafuné que nunca gostei mas que o dele se tornava menos desagradável , me lembro de quando eu acordava de manhã para ir pra creche e recebia um beijo estalado na bochecha . Eu me lembro dele .

Os pais do mesmo souberam da relação dele com a minha mãe sendo um motivo de maior revolta para eles . O desinteresse era nítido a vários anos levando em conta que eles nunca o procuraram mais .

Minha mãe nunca chegou a me dizer quem era meu pai biológico , eu também não fazia questão de saber .

"Aliás , pais são os quem criam não ?" Penso comigo mesma.

O começo do fim .    *Em revisão (2022)*Onde histórias criam vida. Descubra agora