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Os raios solares de uma manhã de céu limpo atingiram as minhas pálpebras fechadas, acordando-me do pesado sono em que estava. Com cuidado para o impacto que aquela luminosidade podia causar, levantei-as. O meu corpo situava-se entre os braços de alguém. Um rapaz. Ah, isso mesmo. Era com Francisco que tinha passado a noite. Uma das mais simples, mas também das melhores que me recordava. Temendo que ele ainda não tivesse acordado, movi-me cautelosamente até ficar virada para cima. O meu olhar observava o teto branco e, falhando redondamente, tentava relembrar-me de algum sonho que tivera esta noite.

Uns lábios suaves foram pressionados contra a minha bochecha de tal maneira delicada que logo identifiquei o responsável. O meu sorriso surgiu inevitável mas discretamente enquanto rodava novamente até ficarmos frente a frente. Estávamos perigosamente próximos, os nossos corpos colados e as nossas pernas, de alguma forma, tinham-se entrelaçado.

- Bom dia, bela adormecida. - A sua voz roca suou num volume baixo contra o meu rosto. Podia perceber que talvez ele também não estivesse acordado assim à tanto tempo mas, definitivamente, à mais que eu. Hoje não nos tínhamos de preocupar com horários ou compromissos. Não havia treino para ele, nem trabalho para mim. Perfeito para uma boa noite de sono.

- À quanto tempo estás acordado? - Questionei-o num tom rouco, característico de quem acabou de acordar. Como resposta, apenas encolheu os ombros, com uma expressão facial demasiado inocente para meu gosto. Logo me apercebi que aquela luz e situação o faziam parecer tão angelical. - E vais passar o dia deitado no sofá, agarrado a mim?

- Sabes? Não me parece nada má ideia. - Murmurou num tom hilariante enquanto me puxava para ele e descansava a sua cabeça na cova do meu pescoço. Conseguia ouvir o seu riso abafado pela minha pele e isso, causando-me as propositadas cócegas, levou-me a curvar o seu corpo com o meu braço. - Agora quero ver como é que te livras de mim.

Francisco continuou na posição que escolheu estar e eu, ainda que não me importasse assim tanto, tentava arranjar maneira de me separar dele apenas para o picar. Na minha cabeça passou a imagem perfeita mas se algo não existisse, a minha tentativa seria em vão. Desloquei as minhas mãos até aos seus braços bem trabalhados e, inesperadamente, fiz-lhe exatamente o que ele me fizera. Cócegas.

- Então? Parece que a senhora doutora afinal conseguiu livrar-se do paciente. - Gozei com ele, com um sorriso tão largo que se conseguiria ver a milhares de metros de distância. Ele expressava-se de igual forma. Aquele sorriso gigante que eu adorava ver e uns olhos que brilhavam com a luz matinal que aquela acomodação recebia.

Acabei por me tentar levantar daquele sofá de maneira a que pudesse fazer mais produtivo do que ficar agarrada a Geraldes o dia todo. No entanto, o mesmo continuava a achar essa alternativa a melhor delas todas e puxou o meu corpo de volta. Subtilmente, estava um pouco deitada sobre ele e agora o contacto visual era muito mais acessível. Mordisquei calmante o lábio tentando ajeitar-me sobre o seu peito. O que menos queria era magoá-lo.

- Dá-me um beijo. - Sussurrou-me sem qualquer expressão facial. A sua mão recaiu sobre o fundo das minhas costas que me impedia de me tentar levantar, se o tentasse. Não consegui ter nenhuma reação ao seu pedido porque sabia que talvez o estivesse a levar para outro significado.

Ainda que o futebolista leonino não se referisse ao tal beijo, não se importaria que fosse. Observava os lábios carnudos da rapariga, que o seu corpo suportava, e teimava em retrair-se. 'Comporta-te Francisco, senão vais afastá-la': era o que ele pensava bem lá no fundo. Já a fisioterapeuta, manteve-se calada apenas a uns milímetros de cortar a distância. Sabia que talvez o beijo que ele lhe tinha pedido não era aquele beijo que por este andar, em circunstâncias destas, já tinha acontecido; mas sim um simples beijo como aqueles que ele lhe deu tanto na noite passada como hoje de manhã. Por isso, optou por deixar-se guiar até à pele suave das maçãs do seu rosto. Não queria apressar nada incerto e tão recente.

Após deixá-lo apenas com um beijo amigável, observei o seu olhar penetrante. Não sabia o que me estava a dizer entre olhares. Mantinha-se calado e eu também. Tínhamos perdido noção de tudo à nossa volta. Passámos a ser neutros a tudo o que poderia acontecer em nosso redor. Viu-o abanar negativamente a cabeça e foi aí que me perdi. Não percebia se era a sério ou não. No entanto, a proximidade cada vez era menor e já nenhum dos dois a podia parar. Os nossos lábios húmidos estavam tão próximos que o ato inato de fechar os olhos já se tinha realizado e a minha mão subido até ao seu peito. Até mesmo as respirações quentes já se tinham misturado. Tudo estava prestes a realizar-se até ao tocar da campainha do seu apartamento.

- Foda-se! - Francisco, aborrecido com a não realização de algo que provavelmente ambos queríamos, murmurou mais alto enquanto revirava os olhos. Eu apenas deixei umas gargalhadas genuínas escaparem como resposta. Na verdade, tinha uma certa piada. Acabei por sair cautelosamente de cima do seu corpo, piscando-lhe o olho. - Não vais acreditar, mas acho que é o Palhinha. Outra vez.

Vi o loiro a levantar-se do sofá e a dirigir-se à entrada da sua casa, já achando mais piada à coisa. Achei por bem manter-me na sala. Sabia que talvez tivéssemos prestes a ser descobertos por um dos nossos amigos e seria uma situação deveras hilariante. Podia ouvir as duas vozes masculinas já num volume muito mais alto àquele que estava habituada nos últimos minutos. Cada vez se aproximavam mais de mim.

- Podias atender o telemóvel, caralho! Estou farto de te ligar. - João entra de rompante na sala a protestar com o seu amigo. Ai se vocês queriam ter visto a cara dele quando deu comigo na mesma casa que o seu melhor amigo. Entre afirmações de arrependimento por ter atrapalhado os pombinhos e as suas gargalhadas altas, acabou por nos pedir desculpa por poder ter interrompido alguma coisa. Sim, Palhinha, interrompeste.

- Não te preocupes, não interrompeste nada. - Assegurei-lhe enquanto sorria discretamente para o rapaz que me tinha acolhido na sua casa. Provavelmente teríamos imenso tempo para completar aquilo que nos tinha sido impossibilitado. Esperava eu.

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⏰ Última atualização: Dec 17, 2017 ⏰

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