the day after - anastasia point of view

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Ontem eu e Chloe saímos. Fomos ao shopping e foi a primeira vez que eu peguei na mão dela. Foi a primeira vez que eu senti o que somos. Foi a primeira vez também que eu senti medo depois das coisas que deixei para trás. Chloe me contou que, na verdade, o nome dela tem uma trema. É Chlöe. Achei engraçado porque deveria então, pronunciar "clue" e não Chloe. Chlöe me contou tudo o que eu queria saber sobre ela. Perguntei á ela como era sua vida, ela respondeu-me dizendo que não tinha muito o que saber. Disse que morava em um apartamento perto do campus e que passava os dias inteiros das férias caminhando em um dos parques que tem na cidade. Disse que gostava de ouvir rock e que adorava ver filmes, mas que tinha algo imenso por videogames. Os amava. 

Chlöe contou de todos seus jogos favoritos para mim e eu não resisti. O jeito como ela falava sobre as coisas que amava me deixou babando. Pedi então que ela falasse mais sobre as coisas que ela gostava, citou alguns dos nomes dos seus artistas favoritos e enquanto estávamos falando sobre isso passamos na frente de uma loja de celulares. Pensei em comprar um para poder conversar com ela, mas ela foi mais rápida. 

- Eu sempre esqueço de pedir seu número - ela riu - qual é?

- Hm... Chloe, eu não tenho celular - eu disse envergonhada.

Por mais estranho que pareça, ela não achou estranho. Falei a ela que tinha um iPod, mas que estava pensando em comprar um celular. Então ela disse que me acompanharia até uma loja para comprar se eu quisesse. 

Pensei muito sobre isso. Pensei em todas as noites mal dormidas mexendo e buscando informações sobre homens. Pensei em todas as noites mal dormidas mexendo e revirando o passado daquela idiota. 

- Tá tudo bem? - ela me deu um olhar preocupado.

Suspirei e olhei para cima. Acima de mim havia um lustre enorme, o lustre indicava que estávamos no meio do shopping. Chlöe e eu estávamos no meio do shopping. De mãos dadas. Conversando. Lembro de pensar por uma fração de segundo que eu estava sonhando. Soltei a mão dela e corri para frente, dando pulinhos de alegria. Esperei ela chegar no meu lado e esperei para que ela pegasse na minha mão e ela o fez. 

Pedi para que ela me levasse em alguma loja que havia celulares, ela me perguntou se eu já tivera algum celular antes e eu assenti com a cabeça.

- Já tive um iPhone - eu respondi dando um suspiro profundo - o 6, se eu não me engano.

Então ela me perguntou se eu queria um iPhone e eu concordei com a cabeça. Pensei que como eu já estava acostumada por anos com o sistema operacional do iOS, seria melhor todavia. Eu comprei o iPhone 7, não era tão diferente assim do 6, mas pelo menos a cor era outra. O meu era dourado. Não suportava mais ver qualquer coisa com a cor preta ou vermelho, a única coisa que eu suportava com essa cor era meu all star preto. 

Depois de comprar o tal celular, sentamos para atualizá-lo. O único choque que eu tive foi que: quando coloquei meu e-mail, o celular perguntava se eu queria sincronizar meus dados com Spring.

- Quem é Spring? - Chlöe perguntara.

- Uma velha amiga. Deve ter sido um bug do sistema - declarei nervosa.

No mesmo momento o celular de Chlöe tocou e na tela aparecera o nome dela. Beatrice. Chlöe atendeu sem hesitar e fez sinal de que já voltaria para mesa onde estávamos. Vi ela andando de um lado para outro no corredor que levava a um dos banheiros do shopping. Parecia que estava gritando. Me perguntei se Beatrice seria a sua Beatrice, mas essa dúvida logo saiu da minha cabeça. Não poderia ser.

Chlöe voltou uns dez minutos depois, pedira desculpas e disse que precisava ir embora antes que anoitecesse. Depois disso fomos juntas as lojas de roupa. Comprei muitas roupas. Reparei que á Chlöe lhe interessava as roupas escuras. Vermelho. Preto. Assustou-se ao ver que, além de só comprar roupas azul bebê e rosa, eu também comprei muitos jeans.

- Pra quê tantos? - ela indagou.

Não sabia como dizer a ela que fazia muitos anos que eu não usava um além do que eu estava usando. Não sabia como dizer que gostava tanto de jeans como gostava dela.

Chlöe era um enigma para mim. Chlöe gostava de andar de mãos dadas ouvindo música. Até me ofereceu um fone de ouvido, mas eu gostava de ouvir as vozes. Gostava de saber que estava viva e que as outras 200 pessoas andando naquele corredor do shopping também estavam. Na tela do celular de Chlöe aparecia as bandas que ela estava escutando. Eu não reconhecia nenhuma. Nossos gostos musicais não batiam e indaguei se isso tinha alguma relevância. Não.

O sol desaparecera e eu pude notar pelos vitrais que constituíam a maior parte daquele lugar. 

- Acho que você precisa ir - eu disse olhando para seus coturnos pretos.

- Sim. Preciso - ela virou para trás.

Quando Chlöe virou para mim eu tive uma imensa vontade de beijá-la. Alguma coisa dentro de mim implorava por ela. Implorava pelos seus beijos. Eu queria descobrir quem ela era. Queria ir na sua casa. Queria bagunçar seu ser. Eu queria viver na cama dela. Queria deixar rastros meus pelos lençóis para ela agarrá-los de madrugada e desejar meu corpo junto ao dela. Os impróprios pensamentos foram interrompidos pelo celular dela. 

- Eu já disse que vou. Não precisa falar como se eu não soubesse - ela esbravejou com o celular perto da orelha.

Chlöe chegou perto demais de mim e por um momento pensei que fosse me beijar na boca. Chlöe era mais alta que eu, era mais bonita e com certeza mais inteligente que eu. Ela encarou meus olhos por um segundo e eu encarei as longas mechas pretas que constituem seu enorme cabelo. Pensei em como seria secá-los depois de um longo dia. Fui surpreendida quando ela beijou o topo da minha cabeça.

- Eu vou te ligar - ela disse olhando dentro dos meus olhos.

Assenti. Pela primeira vez em meses eu senti a honestidade de alguém que não fosse graduado. Eu assisti a menina de jeans preto e camiseta branca de banda caminhar em direção a saída. Pensei o que falaria na próxima vez que nós saíssemos juntas. Perguntei baixinho para mim mesma quando seria a próxima vez. 

SPRING and all the other seasonsWhere stories live. Discover now