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Meia noite. A lua cheia invadia o céu e tornava cada canto do quarto claro como dia. Ela não conseguia dormir. Virava e revirava na cama, mas os olhos voltavam sempre para aquele círculo gigante no céu. Sorria abobalhada. Era noite dela. E cada célula do seu corpo pulsava por contato com suas raízes.
Desceu as escadas, o mais silenciosa possível. Seu pai dormia no final do corredor e ela queria que permanecesse assim.
Caminhou até o jardim nos fundos da casa. Não era uma casa afastada da cidade, nem era muito grande, mas tinha um jardim que parecia uma dimensão paralela. A grama sempre ficava meio alta, com árvores que cercavam e impediam a visão de fora. Muito Girassóis, plantados antes da sua família se mudar, mas que fizeram a decisão da mudança acontecer, visto que ela sempre fora apaixonada por eles.
Julieta tirou as sandálias antes de tocar na grama. Gostava de sentir o chão de terra frio nos pés. Principalmente em noites de lua cheia, como as de hoje. Andou devagar. Sentindo as folhas lamber suas pernas como quando entrava no mar. Pensou na mãe, rainha das águas. Pensou em toda a ligação com a natureza que herdou. Mais uma vez o sorriso estampava seu rosto alvo.
Chegou no centro e sentou. Cruzou as pernas, do mesmo jeitinho há 21 anos. Mirou o luar.
Acima não havia uma única núvem para manchar o quadro azulado. Um azul escuro, quase preto. Mas ainda azul. Ela sabia. Podia sentir o azul queimar nos seus cabelos. Nos seus olhos. O azul que também tem significado demais. Tudo tinha um significado na vida de Julieta. Ela era obcecada pelas significações das coisas. Pelos sentidos permeados nos símbolos. Tudo parecia se conectar por um fio invisível.

Menina da luaOnde histórias criam vida. Descubra agora