Pov. Pietra
Vi que Dorian estava se esgueirando pelos cantos do salão claramente seguindo Helena.
Dorian anda tão desesperado por chamar a atenção daquela insignificante, que me da mais ódio ainda. Depois que ele leu aquele diário as coisas começaram a desandar. Dorian começou a beber feito um viciado, parou de me dar ouvidos e pior, fica me destratando na frente das pessoas. Mas isso não vai ficar assim. Vou ter que agir sozinha daqui pra frente, Dorian pode colocar tudo a perder em questão de segundos. Não posso mais confiar nele.
Caminhei lentamente o seguindo, e pude ver perfeitamente o momento em que Dorian puxou Helena para o canto mais escuro do salão.
Me escondi atrás da pilastra para poder ver e ouvir tudo que estava acontecendo.
Dorian é tão ridículo. Como pode implorar o amor de uma qualquer? Não que eu realmente me importe com ele, mas um homem como Dorian, que pode ter tudo que quer na hora que quer, está se humilhando pra quela insuportável. É deplorável.
Helena. Sempre a pequena, frágil, e doce Helena.
Minha obsessão por essa garota vem de muitos anos atrás. Como ela pode ser tão... Argh! Não tenho nem palavras pra descrever a aversão que sinto por ela. É realmente terrível.
Helena sempre foi minha ruína, desde a infância.
Eu sempre fui mais bonita que ela e isso é inegável, a final como não amar uma loira de olhos azuis e com belos vetidos? Eu era quase uma boneca de porcelana, linda, delicada e rara. Mas Helena... Helena sempre foi comum, feições rudes, cabelos castanhos escuros, baixinha e gorda, e como se isso não bastasse ainda tinha aquele comportamento terrível. Ela era respondona e vivia se metendo na conversa dos adultos querendo provar sua inteligência.
Eu não entendia por que eu estava sempre um passo atrás dela. Eu não entendia o por que as pessoas achavam ela tão interessante. Nunca entendi o que os homens viam nela. O que ela tinha que eu não tinha? O que a tornava tão interessante?
Foi então que descidi sair da sombra de Helena. Andando com ela eu nunca seria notada, era sempre pra ela que as pessoas olhavam primeiro. Era com ela que eles queriam conversar sobre livros, artes e outras banalidades. As pessoas achavam impressionante uma dama se expressar desse jeito. Ninguém mais queria falar sobre roupas, cabelo ou bordado, eles queriam alguma coisa nova, uma coisa impressionante, algo que ficasse gravado na memória deles. Foi aí que decidi acabar com a reputação de Helena com o escândalo da tinta verde. Ela sempre foi irritadiça, isso iria humilhar ela e ao memo tempo causar uma crise de nervos que a faria desaparecer da cidade e da minha vida de uma vez por todas. Mas o meu plano brilhante teve o efeito contrário, as pessoas ficaram com pena dela. Então convenci meu pai a sair da cidade e começar uma vida longe de Helena, em algum outro lugar em que eu pudesse ser o centro das atenções, um lugar onde meus talentos e minha beleza fossem valorizados. Fiquei exultante quando meu pai conseguiu um casamento com um dos Seymour, mas quando cheguei lá, Helena já estava a vontade na mansão, com o noivo mais bonito e todas as regalias, como se ela fosse a noiva do filho mais velho.
Nunca me importei de verdade com essa historia de amor, se acontecesse eu acharia incrível, mas meu verdadeiro objetivo era arranjar um marido rico, que me desse conforto e me exibisse para a alta sociedade. Dorian poderia me oferecer isso e muito mais, se não estivesse obcecado pela Helena. Essa obsessão dele esta me tirando do sério, está me humilhando de mais. Todos já perceberam o quanto Dorian me destrata e o quanto ele admira Helena.
O pior de todos talvez seja Ian, que me rejeitou em mais de uma ocasião. Ele também olha pra Helena de um jeito... Um jeito que me faz querer ter ele ao meu lado me olhando daquela mesma maneira, como se fosse desejada o tempo todo.
Por que todos vão atrás dela? Qual o problema deles? Ela nem é tão bonita...
Estou decidida a virar o jogo. Eu não vou sair perdendo. Não dessa vez. Eu perdi meu peão, mas a rainha ainda está de pé, e sozinha eu posso ir muito mais longe.
Aquela cena toda estava me dando muita alegria, o que só aumentou com a chegada de Ian. Foi perfeito.
Saí dali sem que me notassem e fui para a sala da lareira, onde me servi de um copo de uísque. Sempre apreciei bebidas fortes, principalmente quando é para comemorar.
-Helena, você cavou sua própria cova. Se eu não puder me livrar de você, posso pelo menos te fazer sofrer bastante...
Eu já estava no segundo copo de uísque, é uma questão de tempo, o plano é perfeito, não tem como dar errado.
Não demorou muito para Ian abrir a porta com força.
Ele entrou sem me notar.
- está tudo bem?-perguntei prestativa o encarando.
- Ah você está aí! -disse ele rudemente. - Vou deixar você...
Ele ia saindo da sala quando falei:
-Ian, espera!
Ele parou e me olhou frustrado.
- o que quer Pietra? Não vê que estou sem paciência?
-não seja rude! Estou querendo te ajudar! -falei brava.
-desculpe! -disse ele se sentando no sofá e esfregando o rosto com as mãos.
- quer uma bebida? -perguntei.
- se eu quisesse eu teria pegado!-falou ele mau humorado.
Mesmo com a rispidez dele, fui até a garrafa de uísque e coloquei uma quantidade generosa no copo.
Levei o copo até ele e estendi a mão.
- eu já disse que não quero! Preciso pensar, quero ficar sóbrio! -disse ele.
-toma, vai te ajudar! - insisti.
Hesitante ele pegou o copo da minha mão e examinou o conteúdo.
- isso não é vinho Ian, apenas beba!-falei irritada.
Ele virou o copo com o líquido ambar em apenas um gole.
- nossa! -falei impressionada.
- Isso é forte! -disse ele fazendo uma careta.
- quer mais?-perguntei sorrindo maliciosamente.
Peguei o copo de sua mão e tornei a encher.
- por que está tão bravo? -perguntei inocentemente entregando o copo a ele.
- não é da sua conta!
- você podia ser mais educado comigo, só estou tentando te ajudar. Sei que está mal com o que viu e...
- Espera! O que disse? -perguntou ele curioso.
- que você poderia ser mais educado! -falei fingindo estar confusa.
- não, não! Você disse que eu estava mal com o que vi. O que quis dizer?-perguntou ele desconfiado.
Eu tornei a pegar o copo da mão dele para poder colocar meu plano em prática.
- Sinto muito, mas eu também vi. Por isso estou aqui sozinha bebendo. Dorian e Helena... Bem, eles se parecem em muitas coisas. É natural que as coisas tenham chegado a este ponto. Acho que demorou um pouco.
Ian ficou em silêncio por tanto tempo que pensei que tivesse ido embora.
Olhei por cima do ombro e vi ele encarando os dedos das mãos bem pensativo.
- no começo eu não desconfiei, eles eram cunhados e se diziam apenas amigos... Mas Dorian foi se afastando cada dia mais, e a cada dia eu os via muito mais próximos. Depois do primeiro beijo... Ah, Helena sempre quis me tirar tudo mesmo...- falei me vitimizando.
- Espera! Primeiro beijo? -perguntou ele.
- sim, esse não foi o primeiro!-falei fingindo decepção.
Ian ficou novamente em silêncio.
Aproveitei o momento para colocar junto com a bebida um pozinho que comprei há alguns meses quando visitei uma cartomante na vila. Sabia que um dia seria útil.
Voltei até Ian e entreguei o copo, mas ele não bebeu de imediato.
- Quando você viajou, Helena se encontrou com Dorian várias vezes, eu estava desconfiada então os segui. Acabei encontrando mais do que esperava.
- não fale assim de Helena. Ela não faria isso!-disse Ian irritado.
O copo de uísque ainda estava cheio em suas mãos. O que ele está esperando?
- para Ian! O pior cego é aquele que não quer ver. Ian, você é o cego e não quer ver o que está acontecendo de baixo do seu nariz.- falei sentando ao lado dele.
- não, isso não é verdade!
-Ian, Helena nunca foi nenhuma santa, quando você viajou... Sempre alertei a todos a cobra que ela é, mas ninguém nunca me deu ouvidos, todos dizendo que é inveja. Acontece que eu sou tão vítima quanto você Ian, mas ao contrário de você eu enxergo, e muito bem.
- Você não sabe do que está falando! -disse Ian balançando a cabeça.
Ian não parava de encarar o copo e girar o líquido lá dentro.
- você não conhece ela como eu conheço! -falei ríspida. - Nem Lorenzo escapou das garras dela!
Ian me encarou imediatamente com uma pergunta silenciosa.
- Ele esteve hospedado aqui a pedido do seu pai. Eu os vi aos beijos na biblioteca! -contei a ele.
- isso não é verdade! -falou Ian determinado.
- pergunte a ele então! Mas quando Helena me viu, ela ficou louca com a possibilidade de você ficar sabendo. Ela me agrediu como uma completa selvagem.
Ian achou graça.
- não tem graça Ian. Ela ficou com medo de perder o noivo rico. Helena só pensa em luxo e riqueza. Ela não dá à mínima pra você. Helena sempre foi desfrutavel, vivia se enroscando com vários homens por aí. Duvido até que ela ainda seja pura...
- Cala a boca! -disse Ian se levantando irritado.
Só pude encarar sua fúria e rir por dentro. Isso estava melhor do que o planejado.
- Você não pode falar assim de Helena! Por mais que ela tenha errado, você não pode julga-la.
Irritado, Ian virou o copo de uísque de uma vez.
- amanhã acertarei minhas pendências com Helena, e não quero ouvir você falando dela novamente. Está entendido?
-Você ainda vai se arrepender Ian, Helena só quer seu dinheiro e você é um idiota que não percebe isso. Fica igual a uma cachorrinho babando quando ela passa e indo sempre que ela chama.
- já perdi muito do meu tempo com você! -disse ele com raiva e punhos cerrados.
Ian começou a sair e disse:
-Por mais que tente, você nunca vai superar Helena.
Ele me deu as costas.
- veremos! -sussurrei.
Alguns passos da porta Ian tropeçou e se escorou na parede.
- está tudo bem?-perguntei.
- sim, eu só... Bebi de mais hoje!-disse ele irritado.
- quer ajuda?-ofereci.
- não! Consigo andar sozinho! -afirmou ele.
Sua recusa logo se tornou um apelo, ele não conseguia nem abrir a porta.
Saiu tudo como eu planejei. Eu sou muito inteligente, agora Helena vai me pagar e Ian também.
Arrastei Ian trôpego para seu quarto e tirei as roupas dele assim como as minhas, depois nos deitamos juntos em sua cama.
- amanhã você terá uma surpresinha querido!-falei em seu ouvido.
Lhe dei um beijo na boca e me aconcheguei perto dele.
- Boa noite querido!
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Casamento Arranjado [Completo]
Ficção HistóricaEla sempre sonhou em casar por amor, mas ao descobrir que foi prometida em casamento para unificar os negócios das famílias mais poderosas de Londres, fez seus sonhos ruirem e se tornarem seu pior pesadelo, fazendo com que ela acredite que o amor é...