Capítulo 1 - One

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   Sabe quando a vida brinca conosco e o mais improvável acontece? Foi exatamente assim que eu me senti quando recebi a ligação do Tiago Abravanel, assim, do nada, no meio da tarde, num dia útil de semana, enquanto estava num Uber me dirigindo ao trampo que faço em paralelo as minhas bandas. Assim que ouvi sua voz, me questionei o motivo da ligação e como ele havia conseguido meu número, respostas que viriam logo depois, acompanhadas de um convite, convite esse que fez minhas pernas ficarem bambas e minha respiração tensionou. Um silêncio se instalou depois dele me questionar "As meninas, a Li, Aline, Karin e a Fan querem se encontrar com você. O que me diz, Lu?" Meu coração estava acelerado e provavelmente eu teria cambaleado, se não estivesse sentada. Respirei fundo, acho q ele percebeu, me perguntou se eu ainda estava na linha, respondi que sim, e dei uma resposta afirmativa para o convite que ele havia me feito, pude notar uma euforia misturada com felicidade em sua voz, ele logo tratou de me falar que passaria seu endereço pelo whatsapp e lá iríamos acertar os detalhes, concordei. 

   Honestamente? Após o fim da ligação, fiquei estática, refleti um milhão de vezes se eu estava certa disso mesmo, se eu realmente gostaria de me expor a essa situação, a reencontrar as meninas com quem compartilhei tanto, mas que a vida havia tratado de afastar da minha vida. Em todas as vezes que me questionei se era a decisão correta, mexer nesse passado, a resposta foi sim.

    Eu estava certa que o momento havia chegado, era hora de por os pontos nos i's. Eu estava feliz com a minha vida, muito bem casada com o Léo, ele é um parceiro incrível, passamos por muitas coisas juntos, e ele sempre me apoiou, esteve comigo nos melhores e nos piores momentos da minha vida, éramos felizes juntos, ele me fazia feliz. Acertei os detalhes de horários, endereços, etc com o Tiago e estava marcado. 

    Numa tarde de sexta-feira aconteceria o tão esperando reencontro. Comecei a ficar nervosa na quinta a noite, o Léo notou, perguntou se eu não gostaria de uma taça de vinho, aceitei prontamente, ele de fato me conhecia. Me deu espaço pra pensar sozinha. E nesses pensamentos, no meio dessa tensão toda, o rosto dela se fazia presente de um jeito que me fez passar a mão no cabelo algumas vezes. Vez ou outra em que meus pensamentos se focavam apenas nela, eu podia ouvir aquela risada, ver o jeito que os olhos dela se fechavam levemente enquanto ela gargalhava, o jeito que ela mexia no cabelo e arrumava aquela franja, que eu, achava uma graça. É, fazia tempo que eu não me permitia pensar nela. Nessa noite, falhei, e tudo o que eu pensei foi nela.  

    Haviam se passado muitos anos desde aquela coletiva, eu havia tido algum contato muito breve com a Aline algumas vezes, mas isso logo se perdeu também. Eu não sabia o que esperar desse reencontro, não sabia o que esperar dela, não sabia nem mesmo o que esperar de mim e do que eu sentiria ao estar de pé em frente a essa mulher de novo. Tínhamos história, sabe? Todas nós cinco, obviamente, mas entre ela e eu, sempre foi mais complexo, tinha algo a mais, ela tinha algo a mais. Terminei por pegar no sono no sofá mesmo, entre meus pensamentos. Acordei por volta das 9h da manhã, logo vi que o Léo tinha saído e me deixou um bilhete desejando que tudo fosse tranquilo no tão esperado reencontro, sorri ao ler, e me julguei por ter voltado a pensar nela ~daquele jeito~, suspirei e tratei logo de espantar todos esses pensamentos. 

   O dia tinha chegado, depois de tantos anos, iríamos ter a oportunidade de dividir a mesma sala, de falar, de ouvir, de dividir sentimentos há tanto tempo ocultados. Eu estava ansiosa, as mãos suaram mais quando recebi mensagem do Tiago "Já saiu?" Logo respondi que estava saindo "Em menos de 30 minutos, estarei aí.". Adentrei no Uber e tentei afastar qualquer pensamento negativo, qualquer vontade de pedir para o motorista do Uber dar a volta e me deixar em casa novamente. Pude ver pelo GPS do celular posicionado no carro que estávamos a poucos metros da casa do Tiago, logo avisei ao mesmo, ele me respondeu com um doce "Fique tranquila. Estão todas tão ansiosas quanto você." É, ele sabia que eu estava ansiosa sem nem mesmo eu mencionar sobre isso, mas ok, vamos combinar que não era muito difícil concluir isso. 

   O carro parou em frente a casa do Tiago, fechei os olhos c força, respirei fundo, estava pronta. Estava pronta pra reescrever um futuro que eu já havia planejado e não incluía as meninas, estava pronta pra ouvi-las de coração aberto e tinha certeza que haveria essa reciprocidade também da parte delas. Só tinha uma coisa para qual eu não estava pronta quando desci daquele carro: Para ela, e todas as sensações que vê-la me causariam. Mas essa segunda parte, eu não poderia saber. Poderia? Acho que bem no fundo, eu sabia que olhar de novo pro caramelo daqueles olhos poderia ser muito conflitante. Mas não pensei nisso. Avisei ao Tiago que havia chegado e logo ele abriu a porta, me recebeu com um sorriso enorme, ele estava animado, seu corpo me convidou para um abraço, que convenhamos, eu precisava. 

   Havia chegado a hora. Ouvi ele me dizer "As meninas estão te esperando na varanda, eu te acompanho até lá, tudo bem?" Apenas assenti com a cabeça e o segui. Quando fomos nos aproximando, logo pude ver as quatro conversando, seguravam taças de vinho, com exceção da Li. Dava pra notar, mesmo sem ainda falar com elas, que havia uma verdade amizade entre elas quatro, senti algo ruim, pensei que eu poderia ter feito parte disso, mas logo tratei de afastar esse pensamento, com a ajuda da Aline, ela tinha me visto, "Lu!" Foi o suficiente para atrair a atenção de todas, Aline veio apressadamente me dar um abraço, falou algumas coisas no meu ouvido que me deixaram mais leve, permaneci todo tempo do abraço, de olhos fechados. Logo fui envolvida pela Karin, e pela Li. 

   Nesse momento o Tiago já havia nos deixado a sozinhas. Ainda abraçada com a Li, comecei a ficar nervosa, eu sabia que a próxima seria ela, só não imaginava que seria daquele jeito. Após me afastar da Li, meus olhos, nesse momento, já molhados, encontraram os dela. Não sei explicar o que eu senti, mas foi como se aquele olhar desse vida a todos os meus mais íntimos sentidos,  a sensação se parecia muito com uma pausa no tempo, eu não havia me perdido naqueles olhos, eu tinha me encontrado nos olhos dela. Então ela sorriu, timidamente, e veio na minha direção, nesse momento, parecia que o tempo passava em câmera lenta. Em nenhum momento desviamos nossos olhares, ela se aproximou e me envolveu no seu abraço, coloquei os braços ao redor do pescoço dela e pude sentir que ela relaxou no abraço, isso fez com que eu relaxasse também, senti ela me abraçando mais forte e só então pude perceber que estava embreagada com o cheiro dela, era o mesmo cheiro de anos atrás, e ainda causava o mesmo efeito em mim, ainda me enchia de vida, fechei os olhos c força e procurei esconder meu rosto, involuntariamente, no seu pescoço, quando senti ela afagar meus cabelos. Eu estava chorando. Mas era um choro de felicidade, de alívio, nunca havia pensado que voltaria a ter esse abraço. 

   Durante o abraço não trocamos uma palavra sequer. Ficamos nesse abraço por alguns minutos até que a Karin quebrou -nosso momento- perguntando se íamos ficar ali pra sempre, me afastei da Fantine e pude me encontrar nos olhos dela, novamente, e notei que ela também havia chorado, sorrimos sem graça com a brincadeira da Karin "Fantine quer monopolizar a Lu". É, eu havia sentido falta disso, dessas meninas, havia sentido falta dela. 

   Eu não sabia como seria dalí pra frente, mas eu não tinha planos de ir de novo, de me afastar delas, eu estava disposta a fazer diferente dessa vez, a reescrever nossa história. 

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⏰ Última atualização: Dec 21, 2017 ⏰

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