Photographs.

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Sorri ao vê-lo cruzar a porta da lanchonete, com o seu uniforme em mãos. Subtamente me puxou para um abraço e eu afundei os dedos no emaranhado de seus fios loiros; suas mãos se cruzaram com as minhas após o abraço ser cortado. Justin me fitava com um olhar confuso. 

- Não consegui novamente, Kaylis. - Assenti com a cabeça ao perceber que ele hesitava em continuar a frase. Acariciei o dorso de sua mão, com ele concluindo. - Não um trabalho pra lhe dar o que merece, digo... sou faxineiro.

O loiro ficou cabisbaixo e senti meu coração apertar. Minha garganta ficou seca, e me vi tentando juntar palavras para conforta-lo. Sorri amarelo, após um longo suspiro.

- Está tudo bem, meu amor. Eu continuo trabalhando como acompanhante da senhora Harms, e agora teremos o seu salário pra ajudar nas contas. Nunca me importei com luxo ou...

- Mas você merece, e sabe muito bem disso. - Me interrompeu. - Me lembro o que fiz contigo, de onde te tirei e me culpo por isso. Você era a melhor da classe, e hoje é noiva de um faxineiro. 

Seus olhos brilhavam, e sua pele estava quente. Mordi minha bochecha e olhei para um ponto fixo na rua escura, tentando não chorar.

- Você não me forçou a nada, e eu te amo, não entende? A gente vai se virar, fazemos isso a meses. Agora podemos ir? Você tem que treinar e eu tenho que fazer a janta. 

- Você ficou chateada, não ficou Lis? 

- Você nunca me deixou, e nunca deixará triste, Bieber. - passei seu braço ao redor do meu ombro, e seguimos até nossa casa. 

                         [...]

 3 meses depois.

3 meses se passaram desde o novo trabalho de meu noivo. Justin pega cedo e não sai tão tarde, é xodó do patrão, mas ainda continua com a idéia de lutar clandestinamente. Bieber já ficou à beira de ser um boxeador profissional. Largou tudo porque se apaixonou por uma aluna. Eu. Hoje ele diz se contentar com as lutas em lugares escondidos (pois sei que ele não é feliz e muito menos se orgulha por isso), muitas vezes lutas sujas em que ele sai inconsciente. Não me sinto no direito de reclamar, é tudo minha culpa. Justin merecia e ainda merece brilhar como campeão. 

Eu continuo acompanhando a senhora Harms, porém não por muito tempo. O médico havia lhe informado a uma semana, que a senhora de 71 anos teria somente mais 5 meses de vida, devido a compulsiva "devastação" em seus órgãos causada por uma doença rara. Foi um dos dias mais difíceis do trabalho e também da minha vida; nunca imaginária ver aquela senhora tão dócil e calma tendo um ataque de pânico.

Passo a manhã e a tarde sendo sua companhia - a noite sua neta a "vigia" - e nos dias de extremos imprevistos durmo em seu velho sobrado, porém bem cuidado. A senhorinha de cabelos cor-de-algodão fora uma mãe e tanto após tudo que me aconteceu. 

Sorri ao ver Sra. Harms me mostrar fotos de seu falecido esposo, numa caixa sobre sua cama. Justin sempre me prometou o casamento mais lindo que já foi feito. No primeiro momento que o vi, entrando no tatame com um enorme sorriso por estar começando mais uma classe de aulas de box, sabia que aquele homem faria a diferença em minha vida. E fez.

Bieber é um homem muito atraente, diga-se de passagem. No auge dos seus 25 anos, tatuagens pelo corpo, rosto bem desenhado e músculos rígidos - além da simpatia e alegria -, digno de suspiros femininos por onde passa. Sempre que sinto seu contato com o minha pele, tenho o medo de acordar a qualquer momento de um sonho, do meu subconsciente. Meu noivo não é real.

- A senhorita é apaixonada por ele, não é? - Harms disse sorrindo, passando suas mãos branquinhas e enrugadas pelo lençol de cetim forrado. Sorri, colocando as fotos na caixa.

- Bieber é muito especial pra mim, Dona Harms. Estamos juntando dinheiro para o casório. 

- Espero estar viva até lá. Sinto que encontrarei com meu Joseph antes dos 5 meses. - ela pegou a caixa e com dificuldade a guardou numa gaveta qualquer - É bom ver que hoje em dia ainda existe amor.

- Meu amor por ele não cabe em Saturno, Dona Harms. 

Ela sorriu concordando levemente com a cabeça, enquanto seus olhos lacrimejavam.

.

O resto da tarde passou silenciosa e calma, fiz o almoço para Anne, dei seus remédios, ela tirou uma pestana enquanto eu via um programa qualquer na tv - e Justin trocava alguns SMS's comigo quando podia -. Aproveitei para revisar a redação sobre racismo do projeto infanto-juvenil que aborda a beleza e cultura negra, uma das coisas mais importantes pra mim, depois de Justin. 

Ás 16h, dei banho em Dona Harms, que chorou sentada na cadeira enquanto a água batia em sua pele, por estar naquela situação. Minhas lágrimas rolaram junto com as dela, confesso. As 17:30, dei-lhe uma sopa, vendo Alice entrar pela porta do quarto, colocando seu casaco sobre um cabide qualquer. Sorri levemente pra ela, que acariciou a mão de sua avó, e permitiu que eu fosse embora. Dei boa noite a senhora, e a certifiquei que viria no próximo dia, trazendo as panquecas que ela tanto queria.

Peguei meu ônibus - já que morava no outro lado da cidade - e sentada, ria comigo ao ver fotos minha e de Justin juntos. Nossa primeiro encontro, o dia que ele teve que me levar ao hospital devido ao ferimento que ele mesmo causou na aula de box, quando viajamos sem rumo - lê-se fugimos -, e a foto do dia que alugamos nossa pequena casa, onde moramos. Observei uma jovem uns 2 bancos à frente, com seu pequeno nos colos. O menino era moreno, cabelos num topete, e brincava com um carrinho. Aparentava ter 5 anos. Justin sempre quis um filho. Digo, não é algo que eu não queira, porém arriscar a vinda de uma vida sem que ao menos tenhamos uma condição melhor para o criar, é egoísmos e errôneo. 

Acordo de meus pensamentos quando vejo que cheguei ao meu ponto. Desci dando tchau ao motorista, que eu via todo o santo dia desde a primeira tarde de trabalho, e ao chegar na calçada corro com a mão agarrada em minha bolsa. Seria ótimo se fosse por medo - apesar de o céu não ter escurecido totalmente -, mas minha bexiga estava cheia - e fazia tempo que não me exercitava, desculpa se alguém me perguntasse -. Atravessei a rua, já vendo o portão cinza de minha casa, abrindo-o com rapidez.

Chaves, porta, bolsa jogada em cima do sofá. Corri para o banheiro, me aliviando. Todos os meus músculos relaxaram.

Não por muito tempo.

Ouvi barulho vindo do porão de casa. Pancadas.

O que Justin estava fazendo em casa tão cedo?

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⏰ Última atualização: Dec 21, 2017 ⏰

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