–ALGUÉM?!
Gritei o mais alto que pude na esperança de que alguém no meio daquela barulheira me escutasse. E também esperava que não fosse invasão de inimigos. É terrível só de lembrar a sensação de estar perdendo a possibilidade de respirar. Aquilo foi quase como estar brincando de cabo de guerra com a serpente, onde ela lutava para tirar minha vida, enquanto eu lutava para permanecer com ela.
Procurei afastar aqueles pensamentos de minha mente. Aquela lembrança nítida ainda fazia um efeito aterrorizante em meu psicológico. Era quase como se vivesse aquele momento perturbador de novo e de novo...
A porta da sala abriu e um menino vestido numa armadura de combate entrou. Ele era baixinho, parecia ter uns doze anos, seu cabelo que dava para ver mesmo por debaixo do capacete de bronze, era loiro e cacheado.
O jeito sorridente que ele entrou na sala fez com que meus ombros se relaxassem. Ele foi até um garotinho que devia ser seu irmão que estava sentado em uma cama ao lado da porta.
–O que está fazendo aqui? –perguntou o garotinho com o tom de surpresa tanto em seus olhos, como em sua voz.
– É sua alta – o outro de armadura respondeu.
O menininho demostrou alegria repentinamente com a notícia. Obviamente não era só eu que andava entediada naquela sala.
–Sério mesmo? – perguntou ele
O outro acenou entusiasmado com a cabeça.
–Mas vai com calma Cleyton! – ouvi a voz de Quíron aproximar -se e os garotos sobressaltarem.Quíron entrou galopando em sua verdadeira forma desta vez.
A parte humana de cima estava vestida em armadura como o garoto. A parte inferior dele era um garanhão branco.
Ele não deixou passar despercebido a forma como prendi minha respiração profundamente e soltei meio impressionada com sua aparência.–Como se sente Louis? Posso chamá -la assim? – Quíron perguntou educadamente.
–Po... Pode sim. É... Estou bem. Obrigada!
Ele sorriu.
–Todos tem um choque de primeira quando vêem minha verdadeira aparência. Mas depois você se acostuma. –disse ele gentilmente. Eu concordei com a cabeça querendo acreditar.
– Quíron. – chamou o menino da armadura – meu irmão pode sair dessa sala?
– Só espere um pouco até um dos médicos do chalé de Apolo vir dar alta a seu irmão Tobhias. Depois vão. – disse Quíron calmamente.
–E quanto a mim? – deixei escapar impaciente, mas Quíron apenas sorriu.
– Já, já! – respondeu ele me oferendo sua mão para eu pega- la.
– Vai me levar... A algum lugar? –perguntei meio envergonhada.
–Irá cavalgar em minhas costas para ver os jogos da captura da bandeira esta noite.
Olhei para Quíron sem entender.
–Posso explicar as regras a senhorita enquanto assiste. Vamos?Vou te contar: em toda minha vida sempre tive a maior vontade de andar de cavalo, sempre achei lindo cavalgar naquele animal lindo para cima e para baixo sem rumo. Trocaria um carro por um cavalo de boas, afinal o carro só é um objeto a mais na lista enquanto um garanhão é mais um amigo fiel. Bem no meu caso, eu acabei de ganhar um centauro amigo, a sensação era quase a mesma de andar de cavalo, com exceção de que eu não segurava em sua cela porque ele não tinha uma. Ao invés disso eu tive que o envolver a um abraço na cintura para não me desequilibrar. Me senti desconfortável demais tendo que abraçar um coroa que tinha idade para ser meu pai, mas não tive escolha. E Quíron foi tão gentil se preocupando com o meu ânimo que eu não pude recusar.
Assim que saímos pude ver o movimento que já acontecia pelo lugar. Campistas corriam de um lado para outro vestidos em suas armaduras e golpeando outros que surgiam por perto. Quíron fez questão de explicar que tudo aquilo fazia parte do treinamento, embora eu aquela altura já tenha matado a charada. Quíron me explicou o jogo dizendo que aquele que capturasse sua bandeira no terreno inimigo era o vencedor. Andei com Quíron por todo chalé e ele foi me mostrando tudo nos mínimos detalhes, os chalés dos deuses para os filhos de determinado deus, a sala onde ele ficava, o lugar onde os campistas reuniam-se para as refeições, o lago e tudo que tinha direito. Quíron não deixou de comentar também que a qualquer hora eu poderia descobrir que deus é meu pai com um sorriso caloroso no rosto, embora a notícia não tenha me alegrado.
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Diário de uma Semideusa
Hayran Kurgu[Concluído] - Louisy Dotts é uma adolescente de 14 anos que se sente diferente de muitas pessoas ao seu redor. Em seu diário, ela revela ter visões de criaturas horríveis que sempre estão em seu caminho, que apenas ela consegue ver. Graças a ess...