Anoiteceu, é Natal!

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Submundo... esse é o lugar que estive por quase um ano. Foi quando iniciei o segundo ano do ensino médio e conheci amigos "maneiros", aqueles que eram os tais e sabiam "se divertir". Comecei cabulando uma aula aqui outra ali, até não ir mais. Passávamos noites e noites na baladas ou simplesmente perambulado por avenidas, rua e até becos.

Em casa brigas, gritos da minha mãe e castigos do meu pai. Eu só queria sumir, ser livre, seguir meus próprios passos e vontades. E foi o que fiz, enchi minha mochila de roupas, peguei o pouco dinheiro que restava da minha mesada e fui ao encontro dos meus "heróis".

-E aí Leo... Que tem aí nessa mochila...

-Cara, tô saindo fora de casa.

-E vai para onde?

-Sei lá cara, pra onde a onda me levar.

-Aí cara... assim que se fala. "Vamo" nessa...

A partir daí minha vida foi um borrão, entrei no tal submundo. Tento lembrar, mas tudo vem em pequenos fleches. Sem noção do tempo, muita música, muitas luzes... como se estivesse em outro mundo, corpo quente, muito suor... minha mente vagando e meu corpo as vezes parecia flutuar, as vezes parecia pesar toneladas, tudo sem controle. Voltando ao mundo real a angustia tomava conta e só pensava em arrumar grana. Roubava caixas de chocolates e balas e vendia no trem. Com o dinheiro na mão tudo voltava a ser um borrão.

Dormia onde estivesse: na casa de alguém, ou mesmo na rua ou nem dormia. Comia quando dava.

Em alguns momentos eu sentia que precisava da minha casa, da minha mãe, do meu pai, mas não tinha forças... e lá estava eu novamente entrando em um mundo inexistente, em um vai e vem sem fim. Numa vida sem sentido...

Já não tinha mais minha mochila, nem me importava onde dormia. Todo sujo, cabelo comprido, já nem conseguia imaginar minha aparência e nem queria ver. Fugia dos espelhos. Vivia para aquele momento de fuga.

Um dia me encontrei em um parque, muita gente, a maioria discutindo como arrumar dinheiro quando sou abordado por um senhor oferecendo uma grana para ir com ele. Comecei a ficar enjoado, apenas fiz aquele gesto com o dedo e saí. Foi o único momento que pensei o que estava fazendo com minha vida, dúvida que logo passou e já planejava algo para arranjar grana.

Entrei em uma lanchonete com o intuito de pedir algo para comer. Em um momento de sorte ou azar, não sei dizer... o caixa saiu por um momento e vi a gaveta aberta, não tive dúvida, debrucei no balcão e abri a gaveta pegando várias notas de cem e cinquenta. Passei dias na companhia das músicas e luzes, até que tudo começou a rodar, eu queria fazer parar, mas tudo rodava cada vez mais rápido. As luzes rodavam junto e começavam a disparar como raios, até que de repente tudo parou, não sentia mais nada, não via mais nada. Escuridão total.

Não sei quanto tempo fiquei desacordado, quando abri os olhos, ou achei ter aberto porque as luzes voltaram. Muitas luzes, gente conversando e de repente a música e fui surpreendido. Inicialmente achei que devia estar bem louco. Aos poucos fui me localizando e percebendo que deveria ser época de Natal. A avenida toda iluminada e uma banda tocando músicas natalinas. As recordações dessa época da minha infância invadiram meus pensamentos. Árvore de Natal lindamente decorada pela minha mãe com a minha ajuda, e os presentes todos a sua volta. Casa cheia de familiares, todos sorrindo e a mesa farta.

Anoiteceu, é Natal!Onde histórias criam vida. Descubra agora