Capítulo único

27 6 1
                                    

Penso que talvez Yoongi pendurasse sua máscara do lado de fora da porta de seu quarto como as pessoas penduravam seus casacos no hall de entrada. Sempre fora interessante estudar como o garoto a quem pertencia a janela do quarto ao lado se tornava alguém completamente diferente quando estava sozinho. Não lembro quando havia se tornado tão interessante observar como aquela pessoa, o garoto mais estudioso da classe, o exemplo de adolescente da cidade pequena, aquele a quem os pais dos adolescentes usavam como modelo  de referência sobre bom comportamento, parecia totalmente diferente quando estava trancado em seu quarto. Era fascinante assisti-lo retirar os óculos e as roupas comportadas. Era fascinante assisti-lo agir sem inibições em frente ao espelho com a música alta ecoando no quarto enquanto se balançava, só curtindo a música e a própria presença. Era fascinante notar como seus lábios brincavam com a fumaça da erva que fumava escondido na janela, tarde da noite quando todos já haviam ido dormir. Era mais fascinante ainda assistir como seus olhos, sem brilho na maior parte do tempo, pareciam se iluminar quando encarava a lua no alto do céu.
Todos ficaram chocados, claro, quando as notas do garoto começaram a cair, a cor de seus cabelos mudaram e tatuagens começaram a aparecer sobre sua pele. A adolescência chegava ao auge e suas roupas e atitudes já não eram mais as mesmas. Mas não havia sido surpresa para mim ao se espalhar pela cidade boatos de que o garoto exemplar agora beijava outros garotos. Talvez nenhum deles tenha entendido quando o garotinho da mamãe começara a crescer. Talvez, pelos gritos ouvidos destro da casa dos Min durante as discussões recentes quando o garoto chegava tarde em casa, cheirando a álcool e cigarro, nem mesmo ela conseguia entender.
E, no entanto, ainda era fascinante perceber que, antes de qualquer um naquela cidade, eu havia sido capaz de prever antes mesmo de acontecer. Os olhos de Min Yoongi nunca haviam negado os sonhos dele, sua vontade de ser como um pequeno pássaro; a vontade de se libertar de uma gaiola que apertava suas asas e tornava difícil respirar. Foi por isso que mais uma vez não me surpreendi quando mais boatos surgiram pela cidade, sobre o garoto da casa no alto da rua que havia desaparecido durante uma madrugada qualquer de terça-feira, deixando para trás apenas cabides vazios e um bilhete pedindo desculpas por não poder fingir por muito mais tempo.
É fascinante como, mesmo com apenas um meio sorriso enigmático antes de fechar as cortinas, eu tenha sido a única pessoa de quem se preocupou em se despedir.
E sempre que ouço todos eles falando sobre Min Yoongi pelos corredores do colégio, é sobre como ele se perdeu. Mas a questão é que acho que Yoongi nunca quis ser encontrado.

Lost Boy.Onde histórias criam vida. Descubra agora