Após três segundos de busca, o site devolveu um total de 155 mensagens curtas, todas postadas por diferentes usuárias. Hashtags como #RIPdignidade e #partiusuicídio somavam-se ao termo pesquisado, acompanhadas por lamentos sobre inatividade sexual. Os lamentos, escritos com Caps Lock ligado, tinham vários erros de grafia, sendo quase ilegíveis para um leitor mais apressado.
Entregando o celular a Daniel, Carolina apontou-lhe as mensagens dizendo:
— Essas postagens no Bicadas, por exemplo, são enviadas do Centro Público de Informática. Como as ex-novinhas vivem em abrigos da igreja católica, não possuem computadores, tablets ou óculos virtuais próprios.
— Mas daí já é um caso mais complicado. Você fala como se a vaidade tivesse provocado toda esta situação.
— Não necessariamente a vaidade, mas... eu diria que ela também tomou parte nessa miséria.
— Sei.
— Então, na boa?! Se a vaidade feminina está te obrigando a ganhar mais dinheiro, fazendo com que venda milkshakes para as aluninhas malhadas da federal, eu diria que, comparado a essas senhoras, você ficou com o menor dos males.
— Obrigado por tornar minha preguiça num motivo de culpa, sua modelo de beleza língua solta.
— Bem, assim teremos um brasileiro preguiçoso a menos. E sabe: é engraçado você me chamar de “modelo de beleza”.
— Por quê?
— Foi justamente esse “modelo de beleza” que começou toda a polêmica do vlog.
— Não entendi. O pessoal do Café com Leite tá te amolando por te achar bonita?
— Não. Estão bravos porque eu não ligo de servir como modelo para futuros bebês.
— O quê?
— Já vou avisando: o que vou falar é um tabu. Especialmente no Brasil.
— Espera... não é nada ilegal, é?! Digo, podemos ir pra cadeia?
— Não, imagina! Acontece que é um assunto sensível. A própria mídia evita de comentar, porque é muito fácil de gerar mal-entendidos.
— Tá me assustando, Carol! Até parece uma conversa sobre golpe de estado!
— Pff, relaxa. Não vamos falar sobre essa fantasia sexual dos gaúchos. Você conhece a clínica Batismo de Lázaro?
Enquanto Daniel devolvia o celular para Carolina, balançou a cabeça dizendo:
— Não.
— Ela é nova na cidade. Oferece uma coisa chamada "serviço estético embrionário", ou algo assim. Basicamente, usando a engenharia genética, eles fazem seu bebê nascer do jeito que você quiser. Cabelo, olhos, dentes, orelhas, nariz, pele: é você quem escolhe o design.
— Design?
— Bem, eles usam esse termo. É como colocar o bebê numa linha de produção, feito um produto, não acha?! Só falta a embalagem.
— E o selo de aprovação do Inmetro.
— Sim. Estamos vivendo em tempos estranhos.
— Mas o que tem essa clínica?
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O vlog de Carolina e o feriado antecipado no calçadão
HumorQuando Carolina se tornou vlogueira, ela ainda acreditava no poder da honestidade. Achava que isto sempre falaria mais alto, independente da situação. Porém, ela acabou subestimando o maior vilão deste país: a agressividade da opinião pública brasil...