Carlos Eduardo - Acordei quase meio-dia

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Acordei quase meio-dia, uma dor-de-cabeça medonha, o rosto inchado. E estava quase na hora da prova. Tomei um banho rápido. Um analgésico. Chamei um táxi. Enquanto eu esperava na portaria, Bruna chega: da praia.

─ Bom-dia. – Provoco.

─ Bom-dia. – Ela responde e fecha a cara. Segue para o elevador, eu vou junto. Ela aperta meu andar, mas eu a seguirei até o dela.

─ Dona Bruna, Moreira ligou, vai trazer um comprador para o apartamento. – O porteiro para as portas antes de fecharem.

─ Vai vender o apartamento?

─ Não te interessa! – O Porteiro percebe o climão e deixa o elevador subir. Fico calado ao seu lado. Meu telefone toca, o táxi chegou.

─ Vai perder sua prova. – Ela diz sem olhar para mim.

─ Não importa, já perdi algo bem mais importante.

─ Sua coleção de mangá? – Não pude deixar de rir. Era quase infantil.

─ Você disse que me amava... – Mudei a abordagem. – O amor não acaba da noite para o dia.

─ Mas acaba... – Percebi que ela segurava o choro. – Cedo ou tarde, ele acaba.

Apertei o botão de emergência do elevador e ele parou. Ela tentava me tirar da frente dos comandos para que pudesse fazer andar novamente. Eu a segurei.

─ Bruna, você acha que eu te deixei saltar sozinha, isso não é verdade. Eu também pulei. – Uma lágrima escorreu por debaixo dos óculos escuros dela. Isso me deu novo ânimo. – Faltou apenas que a gente desse as mãos. Por isso, nós nos perdemos um do outro. – Respirei fundo. Eu precisava convencê-la. – Está escuro e eu tenho medo de como chegarei ao chão. Estou chamando por você. Você me dá sua mão? – Tomei a mão dela e coloquei em cima do meu coração apressado. Pensei que ela fosse puxá-la, mas a manteve lá, sentindo meu ritmo descompassado. – Tenho que fazer essa prova agora. Tenho mesmo. Mas eu vou ficar te esperando, no mesmo lugar de ontem para a gente conversar. Você vai? – Ela não respondeu. Eu insisti. – Você vai?

─ Não sei... – Disse num murmúrio

─ Não importa. Eu vou ficar te esperando do mesmo jeito. – Eu puxei o seu rosto e dei um beijo, na bochecha. O toque com a maciez da pele dela já me fez estremecer. – Deixa eu te mostrar como eu estou disposto a construir cada tijolo do nosso "felizes para sempre", deixa?

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora