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Agosto, dez anos atrás

Ir embora deveria ser a decisão certa. Mas como algo tão certo pode doer tanto?

Algumas histórias de amor começam com um beijo. A minha começou com uma despedida que eu nunca quis dar.

O som abafado das malas arrastadas no piso de madeira ecoava pela casa silenciosa. Cada canto daquele lugar parecia absorver as últimas horas que me restavam em Mansfield, como se as paredes estivessem cientes de que esta era a última vez que me veriam. Eu tinha repetido para mim mesma que partir era a decisão certa, que cursar jornalismo em Nova York seria a realização de tudo pelo qual eu havia me esforçado. A cidade grande prometia novos começos, novas perspectivas — tudo que Mansfield não podia oferecer.

Mas, no fundo, eu sabia a verdade. Eu não estava apenas indo embora para buscar um futuro melhor. Eu estava fugindo.

Meu olhar se prendeu à janela da sala de estar, onde a luz do crepúsculo de agosto se derramava suavemente, tingindo o gramado de um dourado melancólico. Por um instante, desejei congelar aquele momento, fazer o tempo parar, me agarrar a tudo que ainda era familiar. Era difícil aceitar que, dentro de poucos dias, eu estaria a quilômetros de distância da minha família, dos meus amigos... e dele.

Felipe.

O nome dele reverberou em minha mente, trazendo uma onda de emoções que eu vinha tentando suprimir há anos. Ele havia sido o sonho impossível que eu nunca tive coragem de confessar, o desejo escondido atrás de sorrisos tímidos e conversas desencontradas. Durante anos, ele foi o motivo dos meus olhares furtivos e do aperto doloroso no peito sempre que ele aparecia na porta da nossa casa, buscando meu irmão para mais uma de suas aventuras.

Mas Felipe nunca me enxergou de verdade. Não como eu queria que ele me enxergasse. Para ele, eu não passava de Melissa, a irmãzinha de Sebastian — a garota inteligente, meio desastrada, desbocada e certinha que sempre ficava à margem, observando em silêncio. Eu havia guardado esses sentimentos com o zelo de um segredo proibido, tentando sufocá-los enquanto ele seguia em frente com sua vida, flertando com outras garotas e tratando-me com o afeto gentil de um irmão mais velho.

E quando eu finalmente consegui a aceitação para a faculdade dos meus sonhos, não consegui me decidir se estava mais empolgada com a ideia de começar um novo capítulo da minha vida... ou com a esperança desesperada de que a distância seria suficiente para me ajudar a esquecê-lo.

Com um suspiro trêmulo, fechei a última mala e me forcei a olhar ao redor do que havia sido meu refúgio desde a infância. A casa estava estranhamente vazia — meus pais estavam na casa de uma amiga para seu jogo de carta semanal, e Sebastian estava por aí, talvez na casa ao lado, ocupando-se com alguma coisa que envolvia Felipe. Tentei ignorar o aperto no peito ao pensar nisso. Eu não havia conseguido me despedir de Felipe e, talvez, fosse melhor assim. Não queria correr o risco de deixar escapar qualquer coisa que pudesse revelar o que eu escondi por tanto tempo.

Mas, assim que cruzei a soleira da porta, meu coração parou.

Lá estava ele.

Felipe estava encostado no batente da varanda, as mãos enfiadas nos bolsos da jaqueta escura e o olhar fixo em mim. Mesmo sob a luz suave do final do entardecer, eu podia ver a intensidade dos olhos dele, aqueles olhos profundos e escuros que sempre me faziam esquecer como respirar. Minha boca ficou seca, e cada célula do meu corpo gritou para eu me virar e correr — porque eu sabia que não estava pronta para encarar esse momento. Não estava pronta para deixá-lo para trás.

— Melissa. — Ele murmurou meu nome como uma oração, sua voz baixa e rouca fazendo meu corpo inteiro arrepiar. Como ele conseguia fazer isso? Meu nome nunca soava igual vindo de qualquer outra pessoa.

— O que você está fazendo aqui, Felipe? — minha voz saiu mais hesitante do que eu pretendia, mas eu não conseguia afastar o tremor que corria por mim. Porque vê-lo ali, tão perto, naquela noite que deveria ser apenas minha despedida silenciosa, era quase mais do que eu podia suportar.

Ele deu mais um passo à frente, e a luz da varanda banhou seu rosto com sombras suaves, realçando a seriedade nos traços que eu conhecia tão bem. Um rosto que eu havia passado anos observando de longe, sempre desejando que ele olhasse para mim de um jeito diferente. Sempre ansiando por algo que nunca viria.

— Eu não podia deixar você ir embora sem me despedir. — A simplicidade das palavras atingiu meu peito como um golpe. E, por um segundo, eu quase me permiti acreditar que havia mais ali. Que ele sentia alguma coisa, qualquer coisa além de um carinho fraternal.

Engoli em seco, balançando a cabeça. — Isso não é necessário. — Eu forcei um sorriso. — Não é como se eu fosse sumir. Vou para a faculdade, não para o outro lado do mundo.

— Para mim, parece o outro lado do mundo. — A intensidade no tom dele me fez piscar, surpresa. Havia uma angústia silenciosa em seu olhar, algo que eu não conseguia decifrar. E, por um momento, fiquei paralisada, hipnotizada pela expressão sombria que ele nunca havia direcionado a mim antes.

Eu sempre fui apenas a irmã gêmea do melhor amigo dele, alguém para ser protegida e cuidada. Nunca alguém para ser desejada. Nunca alguém para ser amada.

Ele deu mais um passo, e a distância entre nós diminuiu até que eu sentisse o calor de seu corpo irradiar no ar ameno do início da noite. Sua proximidade era uma tentação. Uma promessa de algo que eu sabia que jamais poderia ter.

Beija-flor... — Ele estendeu a mão, e por um segundo eu pensei que ele fosse tocar meu rosto. Mas então, como se tivesse se lembrado de algo, ele parou no meio do movimento, os dedos pairando no ar antes de caírem lentamente ao lado do corpo. — Eu queria que você soubesse... — A voz dele falhou.

Meu coração disparou, e eu não consegui conter o olhar suplicante que lancei para ele. Por favor, diga. Qualquer coisa...

— Queria que soubesse que... estarei torcendo por você. — Ele engoliu em seco, as palavras saindo num murmúrio quase inaudível. — Sempre.

Eu prendi a respiração, o peito apertado por uma dor que eu não sabia como nomear. As lágrimas ameaçaram brotar, mas eu as segurei. Porque, é claro, era isso que ele diria. Era isso que Felipe sempre diria.

Ele me olhou por um longo momento, o silêncio se estendendo como um fio tênue entre nós. Então, antes que eu pudesse reagir, ele deu mais um passo à frente e ergueu a mão, tocando meu rosto com uma suavidade que fez meu coração quase parar. Eu não sabia o que fazer. Tudo o que sempre quis estava ali, a centímetros de mim, e tudo que ele precisava fazer era me dar um motivo para ficar.

Mas ele não o fez.

— Cuide-se, Mel. — Ele murmurou, os dedos roçando minha pele por um segundo a mais do que deveria.

Então ele se afastou, o olhar intenso, como se quisesse dizer algo mais — algo que ele nunca disse.

E foi assim que eu fui embora. Sem declarações, sem promessas.

Apenas com a certeza de que, não importava quantas milhas eu colocasse entre nós, Felipe sempre seria a sombra que eu não conseguiria deixar para trás.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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Como Ele Roubou Meu CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora